Manifestação dos movimentos social e sindical marcou o Dia Internacional da Juventude
Escrito por: Luiz Carvalho e Vanessa Ramos - CUT
A mobilização em defesa de uma Constituinte Popular para Reforma do Sistema Político terminou nesta noite no centro de São Paulo com mais de duas mil pessoas nas ruas, mas já assume o desafio de ocupar o país até setembro, quando começa o plebiscito.
Nesta terça-feira (12), Dia Internacional da Juventude, os movimentos que constroem a campanha estiveram diante do Teatro Municipal para popularizar a luta e tratar da importância de a população comparecer às urnas que serão espalhadas por todo o Brasil para dizer “sim” à uma única pergunta: “você é a favor da convocação de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?”
“A coleta dos votos parece difícil, mas basta perguntar às pessoas se estão satisfeitas com o atual sistema político. A resposta, em geral, é não, porque esses políticos não nos representam, afinal, via de regra, quem garante a eleição é o poder econômico, as grandes empresas que financiam as campanhas e fazem com que o político tenha o rabo preso com quem investiu”, criticou o diretor Executivo da CUT, Júlio Turra.
A partir da mobilização de hoje, relatou o dirigente, o comitê nacional da campanha terá como prioridade organizar a votação nas entidades que compõem o Plebiscito.
Eleições e mídia
Secretário de Políticas Sociais da CUT São Paulo, João Batista Gomes, ressaltou que os movimentos social e sindical estarᆪo atentos à pauta dos candidatos “A Constituinte é a nossa bandeira e só terão apoio os que incluírem em suas propostas a mudança do sistema político”.
Em relação à ausência do debate sobre o tema nos grandes meios de comunicação, a secretária de Imprensa da CUT São Paulo, Adriana Magalhães, apontou que a tática da velha mídia é despolitizar a sociedade, especialmente em período eleitoral. “Acreditamos que uma reforma do sistema político não atende aos interesses dos grandes meios de comunicação e isso explica porque não vemos notícias adequadas sobre este tema e outros como greves, luta pela moradia ou por reforma agrária”, disse a dirigente.
Mulheres no poder
O financiamento apontado por Júlio Turra como um ponto essencial de debates na Constituinte foi citado em muitas outras intervenções, mas não foi o único tema. A subrepresentação de grupos que são maiorias da população brasileira também foram citados.
“Precisamos de mais mulheres na política para termos mais políticas para as mulheres”, pontuou a militante da Marcha Mundial de Mulheres, Maria Júlia Montero.
Também da Marcha, Sônia Coelho acrescentou que a entidade promoverá ainda neste mês debates em centros de atendimento a mulheres vítimas de violência para organizar urnas de coleta de votos entre os dias 1º e 7 de setembro. Como citou Maria Júlia, o enfrentamento à repressão machista passa por uma nova configuração da política brasileira.“Queremos mais mulheres no poder, mas que também estejam identificadas com a causa das trabalhadoras e das feministas”, explicou Sônia.Na visão do representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Raul Amorim, a luta pela ampliação da democracia brasileira e contra a subrepresentação nos espaços de poder vai além dos interesses de cada setor. “A bandeira da Constituinte está ligada à soberania nacional e à concretização da reforma agrária. Temos que dar um basta ao modelo atual em que o capital estrangeiro se sente livre para comprar nossas terras e atuar na especulação imobiliária”, disse. Ocupar cadeirasA militante do Levante Popular da Juventude, Laryssa Sampaio, ressaltou que a pouca representação de jovens na Câmara e no Senado dificulta para avançar em temas cruciais ao movimento. “Os projetos de lei que existem vinculados à juventude, como os da educação, tramitam com lentidão, sofrem restrições ou não são aprovados”, explica.Para Laryssa, o plebiscito é que irá destravar essas e outras questões. “Lutamos por bandeiras como a desmilitarização da polícia, porque sabemos que quem está morrendo são jovens negros da periferia”, completa.O dirigente Júlio César Silva Santos, coordenador do Coletivo de Combate ao Racismo do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, lembrou que negros e indígenas também são minorias entre os parlamentares e enfrentam resistência semelhante. “A regularização das terras remanescentes quilombolas e a demarcação de terras indígenas só irão avançar se o Congresso mudar, porque é o agronegócio quem ocupa as cadeiras de decisão na política.”.Povo nas ruasO deputado federal Renato Simões (PT-SP) destacou a visibilidade que a mobilização deu ao tema, com a organização de 800 comitês em todo o país e a formação de milhares de lideranças para tocar o processo de votação pelas regiões.
Para ele, há um processo de construção de consciência sobre a necessidade de desatar nós que impedem as reformas estruturais como a agrária, urbana, tributária e a democratização dos meios de comunicação.“A reforma política é para responder ao ‘não me representa’ que as ruas trouxeram para o debate político em junho do ano passado. E, a partir de agora, não vamos mais sair das ruas. Como em 2002, quando derrotamos a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), vamos derrotar o Congresso e fazer nossa Constituinte com o Plebiscito Popular”, afirmou.Para Misa Boito, dirigente do PT de São Paulo e candidata à Câmara Federal, a Constituinte deve tratar ainda de regras que fortaleçam os partidos e não os indivíduos. Em período eleitoral, ela defende também que os eleitores cobrem dos candidatos que transformem seus comitês em espaços para a coleta de votos. “A partir de agora será um mês de povo nas ruas.”Constituinte jáNo final da tarde, após deixar o Teatro Municipal, a marcha do Plebiscito pela Reforma do Sistema Político seguiu até a Câmara dos Vereadores, onde uma faixa vertical com os dizeres “Plebiscito Já” tomou a fachada.Diante da Casa, o advogado Benedito Barbosa, o Dito, ligado aos movimentos de luta pela moradia, que sentiu na pele a criminalização aos movimentos sociais ao ser agredido e preso durante reintegração de posse em junho deste ano, falou sobre como a reforma política pode alterar esse cenário de violência.“Sem mudarmos o sistema político, o que fazemos é atuar nos efeitos e não na causa. É fundamental que possamos fazer a reforma política no país para ampliar a desconcentração da terra e diminuir os conflitos sociais e fundiários, que representam a ponta do iceberg dos choques sociais. Assim, diminuiremos a criminalização dos movimentos sociais e o recrudescimento contra a pobreza”, avaliou.Para a militante da Consulta Popular, Olívia Carolino, que durante a atividade carregava nos braços a filha pequena, a luta por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político no Brasil não se encerrará com a votação de 1º a 7 de setembro. “É uma bandeira importante de mudanças estruturais que cresce a cada dia e que não termina agora e nem no próximo mês”, alerta.