Tal qual no conto de Lewis Caroll, no mercado de trabalho, a passagem ao "país das maravilhas" ainda é feita por portas diminutas para as Alices. E isso porque apenas 10,53% das vagas em diretoria de corporações são ocupadas por mulheres, um patamar que deixa o Brasil em 20º lugar num ranking de 41 países. Quem cruza a tal "porta", mantém-se em média 7,6 anos no topo da carreira, a quarta melhor média de longevidade mundial. Mas não há truques de mágica neste aparente paradoxo.
"Ter mulheres em cargos de chefia é muito diferente de mantê-las lá", -afirma Sucheta Nadkarni, professora da Judge Business School, de Cambrigde, e autora do estudo "A ascensão da mulher na sociedade: capacitadores e inibidores".
O levantamento analisou dados públicos de 1.002 empresas, de 41 países, listadas como as maiores do mundo pela "Forbes". No Brasil, foram analisadas estatísticas de 28 companhias entre 2004 e 2013, e o país encontra-se em patamar mediano em grande parte das variáveis.
Embora a proporção de mulheres com mais anos de estudo seja superior ao de homens no Brasil, na comparação mundial, as brasileiras ficam em 31º lugar, com 13,6 anos de estudo, em média. O percentual de mulheres na força de trabalho entre 2004 e 2013 fica abaixo da média, com índice de 43,3%, e o país é classificado em 24º entre as 41 nações. Os dois parâmetros são, na opinião de Sucheta, as chaves para a maior entrada feminina no mercado.
"O empoderamento das mulheres, basicamente aumentando os anos de estudo e o número delas na força de trabalho, é o maior incentivo para contratar mulheres no comando".
Outras variáveis explicam a disparidade entre homens e mulheres. Professora da UFF e especialista em trabalho e desigualdade de gênero, a economista Hildete Pereira lembra que a divisão entre lar e trabalho é a principal barreira para elas e explica por que o percentual das mulheres na força de trabalho não mudou muito desde os anos 1990.
"Isso passa pela não conciliação de trabalho e família. Até 2002, as creches tinham cobertura de 7% da população que poderia frequentá-las. Hoje, está em 21%. As crianças de 0 a 3 anos são tratadas como se fossem problema das mulheres. Os homens estão na periferia do problema. O difícil acesso ao topo mostra que ainda há portas fechadas".
No quesito longevidade, o Brasil está atrás apenas de México, Hong Kong e Estados Unidos. Hildete diz que no topo da carreira é possível arcar com custos da ajuda em casa, o que contribui para a permanência feminina. A longevidade também aponta para um mercado pouco aquecido, com relativamente pouca mobilidade de altos executivos, especialmente mulheres.
"Muitas empresas ainda são controladas por famílias e isso pode acabar gerando maior estabilidade nas posições de controle, independentemente do gênero. Nos países anglosaxões, onde o controle das empresas é mais difuso, há uma mobilidade maior dos executivos," -indica Silvia Fazio, presidente da W.I.L.L., organização brasileira com foco no desenvolvimento da carreira de mulheres na América Latina.
Com 27 anos de carreira, Renata Greco, de 45 anos, já trabalhou no setor bancário, predominantemente masculino, e no de serviços, onde as mulheres representam até 80% da força de trabalho. Desde janeiro, é vice-presidente Comercial de Grandes Contas da Cielo, uma das empresas no levantamento. Mãe de um menino, ela reconhece que teria sido mais difícil equacionar vida pessoal e carreira se tivesse optado por ter mais filhos.
"Progredir na carreira ajuda. No começo, é mais difícil ter uma estrutura de babá, empregada, motorista. Mas a questão é aprender a equacionar vida pessoal e profissional. Meu filho de 7 anos dorme e acorda mais tarde. Chego em casa e ainda tenho duas horas com ele para brincar e fazer tarefas."
Índice de mulheres no topo
1º - Noruega: 39,5%
2º - Suécia: 32,6%
3º - Finlândia: 32,1%
4º - Austrália: 23,3%
5º - África do sul: 18,4%
20º -Brasil: 10,5%
21º -Tailândia: 10,5%
22º- Alemanha: 10%
Há mais tempo na chefia
1º - México: 8,35 anos
2º - Hong Kong: 8,22 anos
3º - EUA: 7,65 anos
4º - Brasil: 7,6 anos
5º - Malásia: 7,54 anos
6º- Alemanha: 7,51 anos
7º - Grécia: 6,65 anos
Fonte: Extra - O Globo / Thais Lobo