para a classe trabalhadora. Além das campanhas salariais e da luta cotidiana pela manutenção dos direitos, o movimento sindical terá pela frente eleições e a Copa do Mundo.
O presidente da CUT, acredita que ambos podem representar avanços para os trabalhadores e reafirma que a Central acredita no projeto de governo da presidenta Dilma Rousseff. Porém, destaca que o apoio está atrelado à resposta para a pauta de reivindicações, em especial, ao fim do fator previdenciário, à redução da jornada de trabalho sem redução de salário e à regulamentação da negociação com os servidores públicos.
Sobre a Copa, Vagner ressalta que o Brasil não pode desperdiçar a oportunidade de construir um legado de avanços em áreas como a mobilidade social e a elevação dos salários e direitos para trabalhadores diretamente envolvidos com o evento. Para ele, o movimento sindical também deve ficar atento para que o desrespeito às condições dignas de trabalho, que ocorreu em outros países, não se repita por aqui.
Em entrevista ao Portal, o dirigente destaca ainda o papel da Central em defesa da democracia e da liberdade no ano em que o Brasil lembra os 50 anos do Golpe Militar de 1964 e comenta a importância da política de valorização do salário mínimo.
Portal da CUT – Qual a agenda que a CUT levará às ruas em 2014?
Vagner Freitas – Em 2014, novamente dois projetos estarão em disputa: um democrático e popular, representado pelos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma, e outro conservador, personificado pelo tucano Aécio Neves e pelo tucano vermelho Eduardo Campos. Entendemos que precisamos manter o da presidenta Dilma porque dialoga com a classe trabalhadora e, para isso, é fundamental que coloquemos nossa militância nas ruas para evitarmos qualquer tipo de retrocesso para os trabalhadores. Aécio e Campos representam isso, como representaram Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor, uma agenda de retirada de direitos e de ataque e flexibilização da legislação trabalhista para garantir maior lucratividade aos empresários. Agora, vamos apoiar com base no atendimento às nossas reivindicações. Porque o governo Dilma está em débito com a classe trabalhadora, a agenda que entregamos no ano passado não avançou. Nós temos um posicionamento claro, não defendemos presidentes, mas projetos, e precisamos cobrar mais atenção às nossas propostas.
Você citou que a presidenta Dilma Rousseff ainda tem uma dívida com a classe trabalhadora. Em quais pontos ela precisa avançar para saldá-la?
Vagner Freitas – Entregaremos a ela a Plataforma da Classe Trabalhadora e voltaremos a apontar que a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, o fim do fator previdenciário e a regulamentação do direito à negociação dos servidores públicos precisam avançar urgentemente. Reafirmo, vamos dialogar com nossa base para dizer que apoiamos a presidenta, mas é preciso deixar uma marca para a classe trabalhadora que vá além do discurso e fazer com que se sinta incluída. O presidente Lula, por exemplo, deixou como legado a valorização do salário mínimo nacional até 2024 e não temos algo parecido no governo Dilma. O recado de início de ano que a CUT quer dar é, se somos importantes para esse projeto democrático e popular, queremos ver nossas pautas atendidas.
O novo salário mínimo começou com a injeção de R$ 11,7 bilhões na economia. Qual a avaliação que você faz dessa política?
Vagner Freitas – A política de valorização permanente é um exemplo de medida adotada por quem acredita no país, porque deixamos de dar armas aos especuladores e priorizamos o crescimento do mercado interno. Porém, devemos ficar atentos porque alguns economistas já pregam que essa estratégia está esgotada e temos de partir para outras ações. Não concordamos com essa visão, pensamos que encontramos um antídoto para a crise mundial e não se trata apenas de uma questão econômica, mas de uma visão política. Portanto, neste ano, ao defendermos um projeto democrático e popular, também defendemos a manutenção da valorização do mínimo e das nossas conquistas. Haverá uma ofensiva conservadora dizendo que não pode ter aumento de salário sem aumento da produtividade, porque isso gera inflação, o que não passa de uma desculpa para mudar a regra que foi construída pela CUT e pelo presidente Lula. São iniciativas como essas, utilizadas para combater nossas conquistas e gerar mais lucro para os empresários, que devemos enfrentar. Como é o caso do Projeto de Lei 4330/2004, que amplia a terceirização, ataca direitos trabalhistas e não passa da ressurreição de propostas que surgiram durante o governo de Fernando Henrique Cardoso para desregulamentar o mercado de trabalho. Aliás, quero lembrar aos parlamentares que enfrentamos no ano passado o PL 4330 e voltaremos a enfrentar. Se houver a tentativa de colocar a proposta em votação, voltaremos às ruas e denunciaremos os parlamentares que defenderem o projeto como traidores da classe trabalhadora.
Você acredita que a Copa prejudicará as mobilizações da classe trabalhadora?
Vagner Freitas – Ao contrário, ajudarão a vender nossas pautas, desde que estejamos atentos a como as coisas serão construídas. O presidente Lula colocou claramente que a Copa deveria ser um legado para sociedade brasileira. E é isso que a CUT cobra, queremos obras de infraestrutura, metrô, hospital, mobilidade urbana, saúde, modernização dos aeroportos e que esse processo gere empregos decentes, fiscalizados por nossos sindicatos e depois deixe um legado social. Se o evento não é para o povo e sim um torneio particular promovido pela Fifa, ao menos as obras que o acompanham deve ser. Aeroporto de qualidade tem que ter trabalho decente e emprego de qualidade. Hotel de primeira precisa ter trabalhador que ganhe decentemente e tenha condições dignas de trabalho. Para o Brasil, não é só o jogo que interessa.
Em 2014, o golpe militar completa 50 anos. A CUT fará alguma manifestação sobre essa data?
Vagner – Certamente. Definiremos uma agenda no início do ano para que uma mancha como essa na história do Brasil nunca mais se repita. Cobraremos que os torturadores sejam condenados, porque o Brasil é um dos poucos países em que os militares que assassinaram, torturaram e perseguiram continuam passeando pelas ruas. Vamos levantar esse debate, cobrar punição para os culpados e defender a democracia e a liberdade como patrimônio. Essa data deve ser sinônimo de Justiça para as vítimas da ditadura e defesa da democracia e da liberdade como forma de evitar que voltemos a conviver com golpes como o de 1964.