São Paulo - “Funciona assim: pro banqueiro, dinheiro; pro bancário, desespero.” É dessa forma que um gerente do Bradesco descreve a corrida insana para bater metas nas agências.
O problema se agravou com a antecipação do prazo da Operação Natal Luz, referente à venda de consórcios de veículos e imóveis, e da Operação IR, que corresponde a venda de planos de previdência privada.
Em relação ao Natal Luz, os gerentes de relacionamento tinham de vender pelo menos 40 consórcios até o final do ano, mas agora tem de cumprir a meta até 14 de novembro. “Era para quase dois meses, o que daria em média 20 consórcios por mês. Não seria fácil, mas seria possível. Agora temos apenas uma semana. É desumano! Somos oito gerentes na minha agência. Como vamos conseguir vender tantos consórcios em uma semana? Vamos forçar os clientes a comprar, é isso?”, questiona.
Segundo ele, o clima de angústia é geral. “Os comentários são sempre de indignação. Quando temos reunião na regional ou quando nos encontramos extra banco o sentimento é o mesmo: de estar sendo oprimido”, conta.
Quando o bancário relata a rotina dos funcionários, nota-se que não é para menos: “Se não bate (a meta), a cobrança é ferrenha. Vem da diretoria geral, da gerência regional e do gerente-geral da agência, em audioconferências ou mesmo diretamente, e sempre de forma não muito amigável. É lugar onde filho chora e mãe não vê. E antes tem as ameaças: tem que bater, se não bater tem punição... coisas do tipo. A gente vai pra casa pensando na meta, perde o sono, tem pesadelo. Coisa mais comum é gente que se afasta por estresse ou que sofre de gastrite”.
O funcionário chama ainda a atenção para um detalhe: o nome da operação é uma referência ao prêmio para quem bate a meta, uma viagem a Gramado, cidade tradicionalmente enfeitada com luzes de Natal em dezembro. Seria ótimo se fosse para todos, mas é apenas para poucos. “Todos sofrem, mas só alguns usufruem.”
Operação IR – Algumas gerências regionais já estão cobrando que a meta da Operação IR seja batida em meados de novembro, quando o prazo inicial era dezembro. “Esse tipo de campanha atropela todo o planejamento de uma agência, pois além delas, os bancários têm outros objetivos para cumprir. Os gerentes não aguentam mais tanta pressão e o Bradesco precisa rever essas formas insanas de cobrança sobre os bancários”, critica a diretora do Sindicato Érica de Oliveira.
Fonte: Andréa Ponte Souza – SEEB/São Paulo