Santiago trabalhava havia dez anos na Band. Fazia cobertura das manifestações desde junho de 2013, quando começaram os protestos em todo o país contra o reajuste das tarifas de ônibus
por Redação RBA
São Paulo – O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, atingido por um rojão na cabeça na quinta-feira (6), teve morte cerebral, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. O profissional foi atingido quando registrava o manifestação contra o aumento da passagem de ônibus, no centro do Rio. Ele estava em coma induzido na CTI do Hospital Souza Aguiar depois de passar por cirurgia para diminuir a pressão craniana. Ele sofreu afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. Ele deixa mulher, uma filha e três enteados.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, lamentou a morte de Santiago, afirmando em nota que a liberdade de imprensa é um bem que deve prevalecer como instrumento para o exercício do direito fundamental à informação. "O direito de manifestação é fundamental para a democracia, mas a violência é inaceitável. O diálogo entre cidadãos e Poder Público é o caminho para o aprimoramento da sociedade. O Estado se solidariza com a família de Santiago. E busca, observando o devido processo legal, a autoria do crime para que o responsável possa ser submetido à Justiça."
A mulher de Santiago, Arlita Andrade, em entrevista na noite de ontem (9) à TV Globo, disse que "falta amor" às pessoas responsáveis por ferir gravemente seu marido. "Eles destruíram uma família. Uma família que era unida, muito unida mesmo”, desabafou.
A explosão de quinta-feira foi registrada por fotógrafos, cinegrafistas e câmeras de vigilância. Após a divulgação das imagens, Fábio Raposo, de 22 anos, se apresentou na 17ª DP (São Cristóvão, zona norte). Ontem, ele foi detido em casa. Nesta manhã foi levado para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste.
O advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende o manifestante, está sendo aguardado na 17ª DP, em São Cristóvão. Ele confirmou que apresentará, ainda hoje à polícia o nome do segundo suspeito envolvido no arremesso do explosivo. Fᄀbio Raposo identificou o suspeito de ter acendido o rojão, de acordo com o advogado. Fábio garantiu que ele e o suspeito não são ligados ao movimento Black Bloc.
Integrantes do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional lamentaram o ocorrido. “O que nós queremos é que identifiquem e punam os responsáveis por essa tragédia, mas também que o governo crie e adote políticas e procedimentos necessários para garantir o trabalho dos profissionais e manifestantes que têm pacificamente demonstrado a sua insatisfação, e não desse grupo minoritário de baderneiros e arruaceiros que têm depredado o patrimônio público e restringido a atividade dos profissionais de imprensa”, disse o presidente da Associação Brasileira de Rádio de Televisão (Abert), Daniel Slavieiro, ao lamentar a morte do cinegrafista.
Slavieiro informou que a Abert e outras entidades que representam empresas de comunicação solicitaram uma audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na qual querem saber que medidas o governo pretende tomar para impedir novos casos. Os representantes das empresas querem também manifestar a preocupação dos profissionais de imprensa com a escalada da violência contra eles.
O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, lembrou que a entidade já se manifestou sobre o “atentado” de quinta-feira e reafirmou que, com a morte do cinegrafista da Bandeirantes “exige do Estado brasileiro pronta reação para barrar esse tipo de violência”.
Segundo Schröder, a morte de Santiago não pode passar desapercebida, nem ser mais uma estatística na sociedade brasileira. “É uma morte completamente injustificada, não tem sentido para o jornalismo brasileiro e é uma ofensa povo brasileiro”, afirmou.
De acordo com Schröder, há uma mobilização para que se realize audiência pública no Congresso, com a participação dos ministros da Justiça e de Direitos Humanos, para pedir a implementação imediata de políticas públicas concretas de acompanhamento, investigação e, princialmente, de um pacto entre o Estado brasileiro, as empresas de comunicação e os jornalistas. “O objetivo do pacto é garantir que a vida, a integridade e o trabalho desses profissionais será garantida. Não é possível que isso se reduza a lamentações e notas de pesar. Precisamos reagir a isso”, ressaltou o presidente da Fenaj.
A presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio, Paula Máiran, disse que toda a sociedade perde com a morte de Santiago Andrade. “É toda a sociedade que perde com a morte do Santiago. Isso representa um atentado a um pilar da democracia. Todo jornalista é um defensor dos direitos da população e dos direitos humanos. É um contrassenso um atentado a um jornalista. A sociedade tem que se unir a nós. Os movimentos de direitos humanos têm que se unir a nós neste momento, e se aliar na luta em defesa do nosso papel, que é fundamental para melhorar a nossa sociedade”, disse.
Segundo Paula, desde o início das manifestações nas ruas da cidade, em junho do ano passado, pelo menos 50 jornalistas ficaram feridos. O sindicato defende o uso de equipamentos de proteção individual e o direito de jornalista de se recusar a fazer coberturas que coloquem em risco sua integridade física. De acordo com a sindicalista, o Estado também precisa garantir a segurança das ruas.
Com informações da Agência Brasil e G1