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10 de Fevereiro de 2014 às 14:44

10/02/2014 - Cinegrafista da Band atingido em manifestação no Rio tem morte cerebral


Santiago trabalhava havia dez anos na Band. Fazia cobertura das manifestações desde junho de 2013, quando começaram os protestos em todo o país contra o reajuste das tarifas de ônibus

por Redação RBA  

São Paulo – O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, atingido por um rojão na cabeça na quinta-feira (6), teve morte cerebral, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. O profissional foi atingido quando registrava o manifestação contra o aumento da passagem de ônibus, no centro do Rio. Ele estava em coma induzido na CTI do Hospital Souza Aguiar depois de passar por cirurgia para diminuir a pressão craniana. Ele sofreu afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. Ele deixa mulher, uma filha e três enteados.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, lamentou a morte de Santiago, afirmando em nota que a liberdade de imprensa é um bem que deve prevalecer como instrumento para o exercício do direito fundamental à informação. "O direito de manifestação é fundamental para a democracia, mas a violência é inaceitável. O diálogo entre cidadãos e Poder Público é o caminho para o aprimoramento da sociedade. O Estado se solidariza com a família de Santiago. E busca, observando o devido processo legal, a autoria do crime para que o responsável possa ser submetido à Justiça."

A mulher de Santiago, Arlita Andrade, em entrevista na noite de ontem (9) à TV Globo, disse que "falta amor" às pessoas responsáveis por ferir gravemente seu marido. "Eles destruíram uma família. Uma família que era unida, muito unida mesmo”, desabafou.

 

Santiago trabalhava havia dez anos na Band. Fazia cobertura das manifestações desde junho de 2013, quando começaram os protestos em todo o país contra o reajuste das tarifas de ônibus. Pela cobertura do tema, ele recebeu dois prêmios jornalísticos de Mobilidade Urbana, em 2010 e 2012, ao lado do repórter Alexandre Tortoriello.

Desde 2013, ele registrou diversas manifestações no Rio e estava escalado para participar da cobertura jornalística da Copa do Mundo este ano. Participou de grandes coberturas, eventos esportivos e reportagens sobre a "guerra" contra o tráfico de drogas nos morros cariocas. No final do ano passado, participou do curso para jornalistas em áreas de conflito, ministrado pelo Exército.

 

A explosão de quinta-feira foi registrada por fotógrafos, cinegrafistas e câmeras de vigilância. Após a divulgação das imagens, Fábio Raposo, de 22 anos, se apresentou na 17ª DP (São Cristóvão, zona norte). Ontem, ele foi detido em casa. Nesta manhã foi levado para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste.

O advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende o manifestante, está sendo aguardado na 17ª DP, em São Cristóvão. Ele confirmou que apresentará, ainda hoje à polícia o nome do segundo suspeito envolvido no arremesso do explosivo. Fᄀbio Raposo identificou o suspeito de ter acendido o rojão, de acordo com o advogado. Fábio garantiu que ele e o suspeito não são ligados ao movimento Black Bloc.

Democracia ameaçada

Integrantes do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional lamentaram o ocorrido. “O que nós queremos é que identifiquem e punam os responsáveis por essa tragédia, mas também que o governo crie e adote políticas e procedimentos necessários para garantir o trabalho dos profissionais e manifestantes que têm pacificamente demonstrado a sua insatisfação, e não desse grupo minoritário de baderneiros e arruaceiros que têm depredado o patrimônio público e restringido a atividade dos profissionais de imprensa”, disse o presidente da Associação Brasileira de Rádio de Televisão (Abert), Daniel Slavieiro, ao lamentar a morte do cinegrafista.

Slavieiro informou que a Abert e outras entidades que representam empresas de comunicação solicitaram uma audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na qual querem saber que medidas o governo pretende tomar para impedir novos casos. Os representantes das empresas querem também manifestar a preocupação dos profissionais de imprensa com a escalada da violência contra eles.

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, lembrou que a entidade já se manifestou sobre o “atentado” de quinta-feira e reafirmou que, com a morte do cinegrafista da Bandeirantes “exige do Estado brasileiro pronta reação para barrar esse tipo de violência”.

Segundo Schröder, a morte de Santiago não pode passar desapercebida, nem ser mais uma estatística na sociedade brasileira. “É uma morte completamente injustificada, não tem sentido para o jornalismo brasileiro e é uma ofensa povo brasileiro”, afirmou.

De acordo com Schröder, há uma mobilização para que se realize audiência pública no Congresso, com a participação dos ministros da Justiça e de Direitos Humanos, para pedir a implementação imediata de políticas públicas concretas de acompanhamento, investigação e, princialmente, de um pacto entre o Estado brasileiro, as empresas de comunicação e os jornalistas. “O objetivo do pacto é garantir que a vida, a integridade e o trabalho desses profissionais será garantida. Não é possível que isso  se reduza a lamentações e notas de pesar. Precisamos reagir a isso”, ressaltou o presidente da Fenaj.

A presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio, Paula Máiran, disse que toda a sociedade perde com a morte de Santiago Andrade. “É toda a sociedade que perde com a morte do Santiago. Isso representa um atentado a um pilar da democracia. Todo jornalista é um defensor dos direitos da população e dos direitos humanos. É um contrassenso um atentado a um jornalista. A sociedade tem que se unir a nós. Os movimentos de direitos humanos têm que se unir a nós neste momento, e se aliar na luta em defesa do nosso papel, que é fundamental para melhorar a nossa sociedade”, disse.

Segundo Paula, desde o início das manifestações nas ruas da cidade, em junho do ano passado, pelo menos 50 jornalistas ficaram feridos. O sindicato defende o uso de equipamentos de proteção individual e o direito de jornalista de se recusar a fazer coberturas que coloquem em risco sua integridade física. De acordo com a sindicalista, o Estado também precisa garantir a segurança das ruas.

Com informações da Agência Brasil e G1


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