Presidente da CUT destaca que pauta do retrocesso foi derrotada nas urnas e secretários da Central apontam que mobilização não cessará em ano eleitoral e de Copa
Escrito por: CUT Nacional e CUT-SP
As 40 mil pessoas que as centrais sindicais levaram às ruas de São Paulo nesta quarta-feira (9) reforçaram a capacidade de mobilização da classe trabalhadora. Na Praça da Sé, marco zero da capital paulista, o presidente da CUT, Vagner Freitas, deixou claro aos candidatos: quem deseja o voto dos trabalhadores, precisa defendê-los.
O dirigente apontou que, apesar de não ter caráter partidário, a manifestação cobrou daqueles que disputarão as eleições deste ano comprometimento com a agenda sindical. Durante o encerramento da marcha, no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, ele lembrou que a pauta da elevação dos juros perdeu nas urnas.
“Aumentar a taxa Selic para controlar a inflação é coisa do passado, derrotada nas últimas eleições. É preciso entender que não há desenvolvimento sem atender a pauta dos trabalhadores e desenvolvimento não significa apresentar números de superávit, mas melhorar a qualidade de vida do povo”, disse Vagner.
Ele também ironizou quem previu a divisão das centrais – “a mídia que apostou em nosso racha quebrou a cara” – e afirmou que as mobilizações crescerão, se governos federais, estaduais, municipais e o Congresso não responderem às reivindicações.
“É muita gente aqui para os governos não atenderem e mostrarmos que, mais uma vez, prevaleceu nossa unidade. A mesma que unificou CUT, Força e UGT para eleger o companheiro João Felício (Secretário Internacional da Central) como presidente da CSI (Central Sindical Internacional). Não há movimento mais organizado que o brasileiro e, se não formos atendidos, faremos manifestações maiores que essa”, alertou.
As centrais já solicitaram uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff para entregar a “Agenda da Classe Trabalhadora para um Projeto Nacional de Desenvolvimento com Soberania, Democracia e Valorização do Trabalho”, construída em 2010, durante ato unificado das centrais no estádio do Pacaembu.
O documento também será apresentado aos presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados e do Tribunal Superior do Trabalho.
Mulheres na luta – Por volta das 10h, a Praça da Sé já estava tomada por milhares de trabalhadores, a maioria deles, vestidos com coletes e bonés vermelhos.
Sob um sol intenso, os dirigentes das entidades sindicais falaram dos eixos da marcha, entre eles, a igualdade de oportunidades e salários entre homens e mulheres, abordado na intervenção da secretária de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, que também tratou da democratização dos meios de comunicação.
“Estamos juntos aqui também para combater a criminalização dos movimentos sociais na velha mídia e cobrar uma reforma para garantir o direito de liberdade de expressão a todos”, resssaltou.
Durante a subida da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, quem ditou o ritmo da ala cutista, a maior da manifestação, foi a escola de samba Tom Maior, á frente de uma enorme bandeira da Central.
Luta contra a terceirização – Sobre os carros de som, secretários da CUT destacavam que, mesmo com o ano de eleições e Copa da Mundo, a classe trabalhadora manterá a mobilização para que nenhuma proposta dos empresários passe por debaixo do pano.
A principal preocupação, conforme destaca o secretário de Administração e Finanças da Central, Quintino Severo, é com o Projeto de Lei 4330, que amplia a terceirização e precariza as relações trabalhistas.
“Precisamos preparar a classe trabalhadora para resistir à terceirização. Passando o processo eleitoral, acredito que os patrões vão voltar com tudo a esse tema e por isso estamos reforçando nesta marcha nossa posição contrária ao projeto, para derrotar esse projeto no Congresso”, disse.
Também presente no ato, o presidente da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro, afirmou que, em conversa com o deputado federal Artur Maia (PMDB-BA), relator do texto, ouviu sobre o retorno da pauta ao Congresso. “Ele disse que, após as eleições, vão votar esse projeto, porque agora estão com medo de retaliação. Vamos mobilizar ainda mais as categorias para derrotar de vez esse PL, que está na Câmara e Senado.”
CUT de luta – Para o secretário-geral da Central, Sérgio Nobre, a grandeza da marcha reafirma a representatividade do movimento sindical. “Uma manifestação deste tamanho mostra que quando sentamos na mesa de negociação falamos em nome da classe. A pauta de reivindicações da classe trabalhadora não vem da cabeça dos dirigentes, responde ao anseio dos trabalhadores e a marcha com mais de 40 mil pessoas prova isso. Essa marcha vai refletir nas mesas de negociação, não apenas com o governo federal, mas com os patrões. E terminar este ato próximo da Fiesp é simbólico, porque muitas categorias entrarão em campanha salarial agora e é um recado: se eles acham que os trabalhadores vão aceitar não ter aumento real este ano pode esquecer”.
Secretária de Mulheres da CUT, Rosane Silva destacou que a luta pela democratização inclui também a ampliação da participação das mulheres na construção das manifestações. “Nós, mulheres, ainda vivemos uma condição de discriminação e opressão no mundo do trabalho. E questões como igualdade salarial, igualdade de direitos, não foram reivindicações apenas das mulheres, mas das centrais sindicais. A própria construção de todo o processo teve uma presença significativa de mulheres, fundamental para mostrarmos à sociedade brasileira que estamos nos espaços públicos, que estamos nas centrais sindicais, e lutamos para romper com essa realidade de discriminação e opressão no mundo do trabalho.
Pressão sobre os patrões – Diante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o secretário de Organização Sindical, Jacy Afonso, falou sobre a responsabilidade dos empresários sobre os pontos da agenda dos trabalhadores. “A redução da jornada de trabalho também deve ser conquista na campanha salarial e não só na Constituição. Os patrões também devem ser pressionados para que cumpram sua parte”, falou.
As reivindicações das centrais sindicais podem ser divididas entre as bandeiras trabalhistas, que visam ampliar os direitos, e as questões estruturais, que impactam a população, como transporte, saúde e educação de qualidade, conforme destacou o diretor-executivo da CUT, Antônio Lisboa Amâncio. “A pauta das centrais trata tanto dos interesses imediatos da classe trabalhadora brasileira, como de conquistas sociais que serão ganhas em longo prazo, caso da reforma agrária”, acrescenta.
De acordo com a secretária de Relações do Trabalho, Maria das Graças Costa, é importante lembrar que o fator previdenciário – que reduz o benefício dos trabalhadores que se aposentam – é herança do governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). “Criaram esse dispositivo para impedir que a classe trabalhadora se aposente de forma correta e digna. O que o FHC fez foi diminuir a renda dos trabalhadores. Há 15 anos essa medida vem trazendo sofrimento ao povo brasileiro e deve ser modificada”, disse.
Para Graça, a redução da jornada de trabalho precisa ter atenção especial do governo, pois poderá diminuir o índice de adoecimento da classe trabalhadora. “Com maior tempo livre, os trabalhadores podem se preocupar mais com o lazer, a educação e a qualidade de vida”.
Das lutas atuais, Lisboa destacou também a necessidade de pressionar os deputados, nesta semana, pela aprovação imediata do Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita na Câmara, e pela destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor. Em ano de eleição, completa, “a política de manutenção do salário mínimo deve estar entre as propostas dos candidatos”.
Unidade para essas lutas é que não deve faltar, conforme ficou claro no encerramento do ato, quando os trabalhadores filiados a todas as centrais, de mãos dadas, aprovaram de maneira simbólica a agenda da classe trabalhadora.