Carolina Mandl e Felipe Marques
Valor Econômico - São Paulo
Depois de mais de uma década de franca expansão, os bancos começam a repensar suas redes de correspondentes bancᄀrios, espécie de mini agência montada dentro de padarias, farmácias e supermercados.
Brasileiríssimos, os correspondentes bancários formam no país uma imensa malha que desperta a curiosidade de estudiosos mundo afora. Eram 165 mil pontos no fim de 2013, representando 7,3 vezes o número de agências que os bancos têm nas ruas.
Essa rede, entretanto, dá sinais de um certo encolhimento. Dados preliminares da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apontam que o número de correspondentes bancários caiu 5,8% de 2012 para o ano passado. Ainda assim, a base é quase o dobro da registrada em 2008 (83 mil). Os números da entidade englobam levantamento feito com 19 instituições financeiras, entre as quais as mais ativas no canal alternativo de atendimento.
O diagnóstico de bancos e especialistas no tema é que a expansão da rede de correspondentes no Brasil perdeu fôlego, principalmente graças ao esforço das instituições financeiras de tornar os correspondentes mais rentáveis. Apesar de representarem um canal de atendimento bem mais barato de se construir do que a agência, os correspondentes ainda geram poucos negócios. Operações mais rentáveis para o banco, como crédito e venda de seguros, ainda passam longe desse canal.
Publicado em novembro, um estudo comprovou que os brasileiros vão ao correspondente principalmente para pagar contas. O artigo foi produzido pela Bankable Frontier Associates (BFA), instituto americano especializado em estudos sobre inclusão financeira.
As pesquisadoras Caitlin Sanford e Laura Cojocaru entrevistaram 2,8 mil brasileiros em todo país, e concluíram que 68% pagam regularmente contas em correspondentes bancários. Contudo, da fatia dessa amostra com conta em banco, apenas 9% depositam regularmente e 12% sacam dinheiro nesse canal. Mais, apenas 4% dos entrevistados bancarizados abriram sua conta em um correspondente e só 6% tomaram crédito no correspondente. São números que dão uma amostra do desafio que os bancos enfrentarão para rentabilizar o canal.
"Altas taxas de contas pagas em correspondentes bancários não se traduziram em um uso nacional de serviços financeiros muito difundido neste canal", concluem as pesquisadoras, no estudo. "Como um todo, brasileiros não usam amplamente os correspondentes para transações associadas às suas contas bancárias, ou para acessar qualquer tipo de crédito."
Números das próprias instituições financeiras reforçam essa conclusão. No Banco do Brasil, os 17.378 correspondentes bancários foram responsáveis pelo recebimento de 67,6 milhões de contas entre julho e setembro do ano passado. Outros 7,9 milhões de transações foram de depósitos. Para o crédito, porém, os volumes são menos expressivos. Os pontos foram responsáveis por um desembolso de R$ 1,9 bilhão.
"O grande desafio para tornar o correspondente um ponto para gerar negócios é o tempo. No caixa, o atendente não pode demorar muito. Tem de ser rápido para não gerar fila ou descontentamento aos clientes", diz Sidney Passeri, gerente-geral da unidade de canais parceiros do Banco do Brasil.
Desde o ano passado, o BB revisa sua malha de correspondentes bancários. "O banco busca uma maior profissionalização dos correspondentes", diz Passeri. "O foco é fazer uma reavaliação dos correspondentes, vendo, por exemplo, se há alguma sobreposição." Em meio a esse processo, a rede do BB encolheu 15,2% entre setembro de 2012 e igual mês de 2013.
A Caixa Econômica Federal também estuda como melhorar a forma de atuação de sua rede de correspondentes. O banco conta hoje com 13 mil lotéricas e outros 22 mil postos não-lotéricos que completam sua malha alternativa de atendimento. Contudo, apenas 40% das lotéricas fazem transações financeiras mais complexas, afirma o diretor executivo de estratégia e distribuição, Paulo Nergi.
"A rede cresceu muito forte até 2011, mas hoje está estabilizada. Fazemos um trabalho forte de seleção para novos correspondentes", afirma, apontando a necessidade de certificação dos funcionários que atuam na oferta de produtos e serviços financeiros nos correspondentes como um dos fatores que frearam a expansão da rede. Em fevereiro de 2011, o Banco Central deu um prazo até o fim deste mês para que os correspondentes obtenham a certificação para poder funcionar. "O maior desafio hoje é a qualificação e a especialização dos correspondentes", afirma Nergi.
Fonte: Valor Econômico