Crédito: Augusto Coelho - Fenae "Mulheres: não desistam, persistam, porque lugar de mulher é em todo lugar". É sem desistir e persistir sempre que Fabiana Matheus marca o seu nome na história como a primeira mulher a ocupar a coordenação da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa Econômica Federal (CEE/Caixa).
Do interior de São Paulo, da cidade de Bauru, a bancária da Caixa desde 1989 decidiu mudar a realidade, reconhecendo que o empoderamento das mulheres ainda é um grande desafio no Brasil.
Apesar da primeira mulher também ter chegado ao cargo mais alto da nação, apenas 9% das cadeiras do Congresso Nacional, por exemplo, são ocupadas por elas. Além disso, o Brasil está em 156º lugar, num total de 188 países, em relação à representação feminina no Poder Legislativo, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
'Não estamos trocando receitas' Formada em Ciências Contábeis, Fabiana mostra que os números nᆪo causam medo e que as estatísticas vão tomando outra forma e outras cores a partir da base sindical.
"Participei das primeiras reuniões em que se discutia as cotas no Conecef, no início dos anos 90. Muitos homens passavam pelo corredor e encaravam a mobilização das mulheres como motivo de chacota, perguntavam se estávamos trocando receitas. Ter uma mulher hoje na coordenação da CEE-Caixa é reflexo e reconhecimento de toda a nossa luta ao longo desses 30 anos", descreve Fabiana.
Paridade O 30º Conecef aprovou a meta de 50% de participação das mulheres no próximo congresso, assim como foi estabelecido pela resolução de paridade da CUT. Este ano, as entidades trouxeram para o congresso 40% de integrantes mulheres, com obrigatoriedade mínima de 30%.
"O Conecef é vanguarda nesta discussão de gênero. Fomos um dos primeiros congressos a debater a cota de valorização de participação das mulheres e vamos continuar lutando por mais avanços".
Campanha Nacional e pautas específicas Para a dirigente, um dos principais problemas enfrentados pelos empregados da Caixa hoje está nas condições de trabalho. "Há um grande desrespeito à jornada de seis horas, isso é quase uma utopia dentro da Caixa. Na periferia de São Paulo há agências com apenas sete empregados. A situação é caótica. Queremos que o banco aumente as contratações", reivindica.
Fabiana explica que uma das bandeiras à frente da CEE-Caixa será fortalecer o cumprimento da convenção coletiva.
"Toda hora extra feita tem de ser hora extra paga. E ninguém está reivindicando hora extra porque as consequências agem de forma direta na saúde do bancário e sabemos disso. Essa é uma discussão que a gente deve enfrentar agora, assim como a isonomia, a licença-prêmio e o anuênio. Mas também queremos garantir a mesa única na Campanha Nacional para ampliar as conquistas de todos os bancários".
Papel do banco público Fabiana, que é também diretora de Administração e Finanças da Fenae, faz uma crítica firme ao planejamento estratégico da Caixa, que prevê se tornar o terceiro maior banco do país até 2020 e indaga: "Ser o maior banco do país em que? Estar disputando no que com o Bradesco e com o Itaú? Temos que fazer este debate. A Caixa precisa continuar com o papel de banco público, de desenvolver o país, fomentar projetos sociais e de regular o sistema financeiro".
Apoio à reeleição de Dilma Rousseff Os delegados do 30º Conecef aprovaram por maioria de votos o apoio à candidatura à reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT). A proposta foi apreciada na plenária geral que encerrou o evento.
Para Fabiana, ainda há uma série de problemas a serem resolvidos no Brasil, mas o nome e o projeto de Dilma é o que mais se identifica com as reivindicações dos trabalhadores.
"Apoiamos a reeleição de Dilma Rousseff porque acreditamos que é um projeto que está dialogando com a sociedade, com o objetivo de fazer as transformações que nosso país precisa. Temos plena consciência de que há questões que estão travadas, mas é uma candidatura que nos dá a possibilidade de continuar com avanços. Algo que não enxergamos em nenhum dos outros candidatos", explica a dirigente.
Mãe do Pedro Ao finalizar a entrevista sobre seus planos à frente da coordenação da CEE/Caixa, Fabiana só deixou uma falha a ser corrigida, o fato de ser palmeirense. Isso pelo menos aos olhos da jornalista corintiana.
Mas o papo rápido, para quem tem muitos desafios pela frente, se encerrou com uma declaração de amor e de admiração pelo filho Pedro, que hoje na faculdade de engenharia mecatrônica pode ficar sozinho em casa e não acompanhar mais a mãe aos debates sobre a representação feminina. Mas entende que os direitos dos brasileiros precisam ser respeitados.
"Ele me surpreende a cada dia porque tem posições coerentes e avançadas para idade dele, se preocupa com os debates sobre as minorias, as cotas e o combabte à homofobia", conta a mãe, mulher, brasileira, Fabiana Matheus.
Rede de Comunicação dos BancáriosNilma PadilhaFonte: Contraf-CUT