Brasil lidera ranking de maior consumidor de agrotóxicos; secretário de Meio Ambiente da CUT ressalta importância de uma nova matriz produtiva baseada na agroecologia
Escrito por: William Pedreira - CUT
O Seminário Nacional sobre o Uso Indiscriminado de Agrotóxicos e Modelo de Produção no Campo realizado pela CUT na semana passada, em Brasília, com a presença de secretários/as de Meio Ambiente dos Estados e Ramos e especialistas na área, possibilitou traçar um panorama sobre o impacto dos agrotóxicos no meio ambiente e na saúde da população.
O Brasil é hoje o maior consumidor do mundo e que mais emprega pesticidas em suas lavouras. De acordo com dados apresentados pelo professor Wanderlei Pignati, em 2008 o consumo foi de 674 milhões litros de agrotᄈxicos, o que corresponde a uma exposição de 3,9 litros/habitante. Já em 2010 o número saltou para 828 milhões, ou seja, 4,3 litros/habitante.
Em relação à saúde humana, os agrotóxicos podem ser absorvidos pela pele, por ingestão e por inalação e causam dois grandes efeitos: agudos (exposição a uma quantidade elevada num curto período de tempo), como também agravos crônicos (exposição diária a pequenas doses por um longo período de tempo).
O tema transversaliza sobre todo o conjunto da classe trabalhadora porque se relaciona com os trabalhadores químicos que são responsáveis pela produção e parte dos assalariados e dos agricultores familiares que utilizam estes produtos químicos e estão em contato direito, além de toda classe trabalhadora que consome diariamente produtos contaminados.
“Nós, da CUT, temos a compreensão de que o debate não perpassa apenas pelo conjunto dos sindicatos, mas de pensar e construir um projeto de sociedade. E tendo uma população consumindo uma quantidade cada vez maior de produtos contaminados mostra que temos que ter uma atuação mais firme”, assinalou Jasseir Fernandes, secretário nacional de Meio Ambiente da CUT.
Além dos graves problemas à saúde, a utilização desenfreada de agrotóxicos tem contaminado água, solo e ar, acabando com a biodiversidade e o equilíbrio natural. O uso destes produtos químicos é de acordo com dados dos IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a segunda maior causa de contaminação dos rios no Brasil, atrás somente do esgoto doméstico.
Frente a esta realidade, a CUT vai investir numa campanha nacional contra o uso indiscriminado dos agrotóxicos, tendo em vista a importância de uma nova matriz produtiva baseada na agroecologia com práticas sustentáveis que promovam o respeito ao meio ambiente e a produção de alimentos mais saudáveis. “Uma estratégia de ação a partir de uma nova proposta, um novo modelo de produção, que não seja o das multinacionais que explora trabalhadores e recursos naturais e está baseado somente no resultado dos lucros”, contestou.
Produto do capitalismo - Com a malfadada justificativa de resolver o problema da fome no mundo, os agrotóxicos chegaram aos países periféricos do capitalismo mundial a partir da década de 1970 com a chamada ‘‘Revolução Verde’. Houve uma transformação do modelo de produção agrícola, que passou a ser baseado na monocultura e altamente dependente de insumos químicos industriais.
“Temos mais de um bilhão de pessoas passando fome ainda em todo o mundo. Isso prova a estratégia das grandes indústrias químicas de continuar ganhando dinheiro à custa do conjunto da sociedade. Quando jogam veneno estão lucrando e grande parte dessas indústrias também são donas de laboratórios farmacêuticos, portanto obtém o lucro em todos os sentidos, mas quando existe um problema maior quem socorre é o sistema público de saúde ou a seguridade social. Precisamos ter uma avaliação do custo aos sofres públicos em nome de uma produção mais barata que é colocada pelo uso de agrotóxicos”, analisou Jasseir.
O dirigente da CUT criticou a omissão do Estado. Banidos em outros países, alguns agrotóxicos continuam sendo empregados livremente no Brasil. São pelo menos 14 tipos de venenos proibidos no mundo. Recentemente, quatro foram banidos no Brasil, embora haja uma suspeita que ainda continuem sendo utilizados nas lavouras.
“Temos de fazer o enfrentamento em conjunto com os movimentos sociais que atuam neste segmento sobre o modelo que está sendo empregado no Brasil, detentor de terra e que produz muito menos que a agricultura familiar mesmo possuindo mais terras. Sabemos que o agronegócio tira proveito do poder político que possui sobre este Congresso Nacional atrasado”, afirmou Jasseir.
“Precisamos externar a sociedade a importância da agricultura familiar que é responsável pela segurança alimentar e a qualidade dos alimentos, sem contar que ainda exportamos para garantir alimentação de outros países. Fala-se que tem que apoiar o grande agronegócio porque gera divisas, imagina se a agricultura familiar não produzisse o que é consumido dentro do nosso País?”, indagou o dirigente da CUT. “Mais importante do que gerar divisas é garantir a segurança alimentar. Se a agricultura familiar com todas as dificuldades responde por quase 40% do total da produção agrícola cadê a competência desse grande agronegócio”, contestou.
Para Jasseir, o meio ambiente não é inimigo do desenvolvimento, já que um modelo sustentável pode trazer, inclusive, ganhos na geração de empregos e renda. “Os trabalhadores continuarão vivendo no nosso País, mas o empresariado não tem pátria, estarão no local onde tenham melhores resultados econômicos.”