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3 de Março de 2015 às 23:00

04/03/2015 - Para professor de jornalismo, ação de repórter da 'Veja Brasília' foi criminosa


Revista admite ter publicado informações falsas sobre o ex-presidente Lula em publicação do último dia 18; jornalista Laurindo Lalo Leal Filho analisa: "Estamos chegando ao limite da barbárie"

por Helder Lima, da RBA

São Paulo – O site da revista Veja Brasília (Editora Abril) divulgou nota na noite de ontem (2), em que admite ter publicado informações inverídicas sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em matéria com o título 'Celebração estrelada', à página 16 da publicação impressa de 18 de fevereiro. A matéria fazia referência a uma suposta festa em homenagem a um sobrinho do ex-presidente, chamado Thiago, que seria realizada no bufê Aeropark, no Distrito Federal, para receber 180 crianças ao custo de R$ 220 mil. Pelo texto, de autoria do repórter Ulisses Campbell, cada criança teria recebido de antemão um iPad, com mensagem de incentivo à prática de esportes, gravada pelo lateral do Flamengo Léo Moura.

“Pelo equívoco, Veja Brasília se desculpa com seus leitores e, mesmo que a nota não contivesse conotação negativa, se desculpa também com o ex-presidente e sua família por quaisquer transtornos que possa ter ocasionado.”

A nota foi divulgada depois que o Instituto Lula já havia desmentido a publicação. “Lamentamos que a revista publique informações falsas sem nem sequer checar a informação e que perfis da internet, como os do blogueiro Felipe Neto, o da apócrifa Folha Política, e o do site Implicante, entre outras pessoas e veículos de boa e má-fé, repliquem tal absurdo”, afirmou o Instituto Lula.

Além do desmentido ao texto, Frei Chico, irmão do ex-presidente Lula, registrou boletim de ocorrência contra o jornalista Ulisses Campbell, por ele ter invadido o condomínio onde mora, tentando se passar por vendedor de livros para interrogar a babá de seu filho.

Em contato com a RBA, o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, o Lalo, afirma que a ação do jornalista da revista Veja Brasília tem teor criminoso: “Isso é um crime, foi cometido um crime de invasão de propriedade, estamos chegando ao limite da barbárie. E não se pode responsabilizar apenas o malfeitor, ele faz parte de um processo estruturado pelas empresas de comunicação. Se os profissionais não tiverem uma formação ética forte, eles acabam sendo envolvidos por esse clima de vale-tudo para atacar governos populares”.

Para Lalo, em casos como esse há diferentes níveis de reação de profissionais de redação. “Alguns se revoltam e abandonam a profissão; outros têm úlcera e vão para o psicólogo”, diz. Mas ele acredita que a maioria se adapta à situação de falta de ética “e passa a acreditar que está fazendo um serviço de utilidade pública ou de defesa da sociedade”.

“O envolvimento dos jornalistas com a empresa é muito grande, é possível perceber isso por meio dos textos publicados. E, atualmente, passamos por um limite extremo de um processo que vem de há muito tempo”, avalia.

Ele considera que, apesar disso, o jornalismo brasileiro tem exemplos de excelentes matérias investigativas, sem haver necessidade de romper os limites da legalidade. “Há limites legais, você não pode invadir propriedades.”

O mais recente episódio da revista da Abril mostra “uma falta de ética e de seriedade na profissão do jornalista hoje”. Professor de comunicação, Lalo também acredita que “é preciso resgatar o uso da deontologia da comunicação” nos cursos de jornalismo – essa disciplina trata do exercício profissional sempre na perspectiva da moral. “Muitas vezes parece que o jornalista não se cerca de limites legais. O assunto deve ser tratado da mesma forma que a liberdade de expressão, ou seja, há limites, não só legais. O exercício do jornalismo tem limites, é preciso compreender isso.”

Erramos: Nota de esclarecimento aos leitores


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