Para tucanos, interessa mudar a pauta para que esses fatos caiam no esquecimento. Nesse contexto, um factóide vem a calhar: pedir uma auditoria ou recontagem dos votos, para tumultuar e funcionar como cortina de fumaça
por Helena Sthephanowitz
Há pelo menos dois fatos gravíssimos, com indícios de crimes, na última eleição que não podem ser varridos para debaixo do tapete, senão a legislação eleitoral, que busca equilíbrio no pleito, vira letra morta para as próximas eleições.
O primeiro fato é um criminoso confesso, em processo de delação premiada, fazer ou não (ainda não se sabe ao certo) divagações abstratas sobre a presidenta da República, e candidata a reeleição, ter conhecimento prévio de atividades criminosas praticadas por ele. Ato contínuo, tais divagações alimentaram uma pseudorreportagem de capa sensacionalista, panfletária e escandalosa da revista de maior circulação nacional induzindo o leitor a pensar que aquilo seria a comprovação de que a candidata não teria credenciais nem para merecer o voto, nem para cumprir o mandato se eleita fosse.
Como se não bastasse, a pseudorreportagem foi usada no horário eleitoral gratuito do candidato tucano, o maior interessado. A própria candidata Dilma Rousseff foi obrigada a usar seu horário eleitoral para fazer um pronunciamento duro repugnando o que ela chamou de terrorismo eleitoral e intento criminoso, além de declarar que iria tomar as medidas cabíveis na Justiça, diante da calúnia e difamação contra ela.
Seguiram-se batalhas judiciais para evitar que a pseudorreportagem fosse usada como campanha eleitoral negativa e paralela, infringindo as normas eleitorais. Além disso, um direto de resposta foi pedido reconhecido como justo e necessário tanto pelo Ministério Público Eleitoral como pelo Tribunal Superior Eleitoral, coisa que a revista só cumpriu na forma que mandava a sentença às 16h30 da tarde do dia das eleições, horário já próximo do fechamento das urnas.
A pseudorreportagem pautou a campanha e o noticiário nos dois últimos dias anteriores e no próprio dia da eleição, funcionando como boca de urna negativa contra a candidata Dilma Rousseff. Como se não bastasse, no dia da eleição, um boato falso foi espalhado nas redes sociais de que o doleiro delator teria morrido envenenado como "queima de arquivo".
Estes fatos estão registrados. São notórios e incontestáveis. O que não se sabe ainda é o que se passou nos bastidores e as tramas que levaram ao desdobramento que teve. Então não vamos fazer ilações sobre o que não se sabe, mas é inaceitável que não se investigue até o fim para sabermos.
Se este episódio for varrido para debaixo do tapete se criará um precedente muito perigoso, onde qualquer bandido pode vir a eleger presidente da República da sétima economia do mundo através de escândalos forjados. Note bem que qualquer candidato, de qualquer partido, pode vir a ser vítima no futuro deste tipo de golpe eleitoral.
Bandidos envolvidos em escândalos podem ser cooptados por corruptores inescrupulosos a serviço de megacorporações internacionais, seja do setor bancário, seja do petróleo, seja da indústria bélica, seja outras áreas interessadas em obter vantagens indevidas das riquezas nacionais, através da eleição de um candidato dócil ou afinado com seus interesses econômicos. Com seus tentáculos financeiros podem perfeitamente plantar divagações em depoimento de um bandido, em seguida oferecer "fontes" para plantar pseudo-reportagem em revistas, inclusive patrocinadas com anúncios pelos setores econômicos interessados, que serão repercutidas nas TVs e na campanha do candidato interessado, podendo levar a vontade popular a ser manipulada por informações falsas que causem um clima de catarse contra um candidato que contrarie interesses poderosos em defesa do interesse popular.
Outro fato diz respeito à manipulação de pesquisas. Um dos donos do Instituto Veritá denunciou pressões vindas do marketing da campanha de Aécio Neves, para divulgar pesquisa que não expressava a realidade. Pesquisas dos institutos Veritá e Sensus, com números muito diferentes das demais, foram usadas na propaganda eleitoral do candidato tucano. O PT prepara representação ao Ministério Público Eleitoral contra os dois institutos, pois ministros do TSE relatam que as pesquisas de ambos foram feitas sem observar o padrão estatístico do IBGE.
Conforme o grau de participação da campanha tucana nestes fatos, as consequências podem ser bastante graves tanto na esfera judicial como na própria opinião pública. O cidadão não gosta de ser enganado por trapaças eleitorais.
Logo, para os tucanos, interessa de forma urgente mudar a pauta, para que esses fatos caiam no esquecimento o mais rápido possível. E, nesse contexto, um factóide vem a calhar: pedir uma auditoria ou recontagem dos votos, para tumultuar e funcionar como cortina de fumaça.