O desabafo é de uma bancária do Call Center do Santander, que diz não aguentar mais pressão e metas abusivas. Funcionários aderiram à greve pela terceira vez
São Paulo – Os 2,3 mil bancários do Call Center do Santander cruzaram os braços pela terceira vez nesta greve. O prédio, no bairro do Limão, foi uma das concentrações que amanheceu fechada na terça-feira 1º de outubro, 13º dia da paralisação nacional por tempo indeterminado.
"Já tenho mais de cinco anos de Santander, mas só um ano e meio de call center. É pressão o tempo inteiro, tudo é meta. Antes eu me sentia bancária, hoje sou uma vendedora. Se eu soubesse que seria vendedora, teria procurado emprego no shopping”, reclama Ana (nome fictício).
Na frente do prédio, pouco antes de voltar pra casa, ela desabafa: “Tá todo mundo em depressão, desmotivado. Aqui não conta se você atende bem, só se você vende. Eu fiquei com nota 2 e fui chamada pela gerente. Em cinco anos de banco eu nunca sentei na frente da gerente, e hoje eu sento e ela me conhece como a nota 2, a que não bate metas. É constrangedor”.
Ana critica o fato de os atendentes, apesar de serem obrigados a vender, não ganharem nenhuma comissão por isso. “Não ganhamos nenhuma variável pela venda. Somos obrigados, cobrados, mas não recebemos nada por isso, só enriquecemos mais ainda o banco.” Para ser sincera, ela se corrige: “Na verdade a gente ganha sim: kit de maquiagem, canetas e vales de R$ 100 sorteados entre não sei quantos. Brindes humilhantes”.
Conta que na função que exerce, o número de metas chega a oito, sendo a maior a de empréstimo: “Temos que bater R$ 159 mil de empréstimos por mês. Mas tem ainda a de cartão, a de seguro... já nem me lembro mais de todas. Me pergunto todo dia até quando vou aguentar”.
O fim das metas abusivas e do assédio moral que tanto adoecem a categoria estão entre as principais reivindicações da campanha deste ano. “Os bancários estão adoecendo e precisam urgentemente de melhores condições de trabalho. Enquanto isso os banqueiros mantêm essa postura intransigente e truculenta de não negociar. Estamos na terceira semana de greve e os trabalhadores estão firmes, dando uma resposta à altura da atitude dos bancos, e vamos continuar assim”, afirmou a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, que estava na comissão de esclarecimento do Call Center.
Adoecimento – “Aqui é assim: quem não bate a meta, eles logo chamam pra cobrar. E o fluxo de ligação é muito grande. Ontem mesmo saí daqui com dor de cabeça”, conta outra bancária.
“O que mais tem é gente doente e afastada do trabalho”, diz outra funcionária do call center. “No começo quase que eu saí. Parecia uma prisão, com tempo pra ir no banheiro e pouco tempo pra comer”, acrescenta, referindo-se às pausas de 10 minutos para idas ao banheiro e de 20 minutos para o lanche, que nem sempre são respeitadas no local.
“A pressão pra bater as metas é grande e a cobrança te deixa estressada. É difícil trabalhar. Minha sorte é que tenho um supervisor compreensivo. Mas quem não tem passa por cada situação! Porque aqui o foco é mesmo a venda. A gente atende o cliente e sempre tem que oferecer alguma coisa”, diz ainda outra bancária.
Conquistas – No meio de reclamações e denúncias, uma funcionária conta uma história engraçada e que ilustra muito bem o sentido da greve. “Ontem eu atendi um cliente que me perguntou se eu era bancária e se tinha vale-refeição. Quando eu respondi que sim ele me disse: garças a mim você tem porque eu era bancário e fiz greve pra isso. Depois ele me disse que era aposentado do banco Real.”
Fonte: Seeb/São Paulo, Osasco e Região