Bancários criticam proposta insuficiente da Fenaban e relatam rotina de metas abusivas e assédio moral
São Paulo – Os funcionários do Telebanco Bradesco aderiram em peso à greve, que chegou na quarta-feira 1º de outubro ao seu segundo dia. Estima-se que cerca de 2 mil bancários trabalhem no prédio, situado no Largo de Santa Cecília, centro de São Paulo. Do lado de fora, os trabalhadores expressavam apoio.
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“As reivindicações são justas e é para além do salário. A batalha é maior e é por oportunidade de qualificação, por exemplo”, afirmou um bancário que exerce há quatro anos a mesma função no Telebanco. “Até tem vagas para promoção, mas a gente não consegue se preparar pra elas porque o Bradesco nᆪo incentiva, não dá bolsa de estudo, como fazem outros bancos. Tenho muita vontade de crescer e me aperfeiçoar, mas não tenho dinheiro pra isso. Aí o que acontece é que eles acabam contratando gente de fora, ao invés de promover”.
A concessão de auxílio-educação para graduação e pós é uma das reivindicações da categoria. Todos os grandes bancos já pagam, só o Bradesco não.
O trabalhador também critica a proposta da federação dos bancos (Fenaban) de 0,94% de aumento real para os salários e 1,55% para os pisos. “Se o banco cresce, é porque tem gente trabalhando pra isso e essas pessoas têm de ter o retorno desse crescimento. Mas o lucro é altíssimo e o retorno é baixo.”
Ele reclama ainda da pressão e da cobrança constante por metas cada vez maiores. “De início não imaginava, mas depois vi que seria um vendedor. Discordo disso, acho que a gente deveria priorizar o atendimento, e a venda de produtos deveria ser apenas uma consequência do bom atendimento. Mas não é o que acontece e a cobrança beira o assédio. Já ouvi de uma supervisora que quem não está satisfeito deve sair e que todos deveriam deixar seus problemas pessoais na catraca do metrô. Se fosse assim eu deixava no banco mesmo!”
Valorização – “A oferta dos bancos foi super baixa, não chegou nem perto do que o Sindicato está pedindo”, concorda outra bancária, que reclama ainda dos valores dos vales alimentação e refeição. “Os preços aumentam e o VA e VR deveriam ser maiores. Não entendo porque eles (bancos) não concordam, já que um funcionário que se sente recompensado trabalha melhor.”
Há apenas seis meses no Telebanco, a bancária de 24 anos, já sofreu o estresse causado pela pressão constante por vendas. “É um trabalho bem puxado na questão das metas, é muito estressante. Vai chegando o final do mês e a pressão aumenta. Eles não entendem as limitações das pessoas, a gente se esforça e eles acham que estamos fazendo corpo mole.” E conta que, apesar de ser uma funcionária que costuma bater as metas, enfrentou muitos problemas no último mês. “Cheguei num nível... Já chegava chorando e tinha de camuflar minha insatisfação. Poxa, eles não entendem que a gente também tem uma vida fora daqui?! Por tudo isso que eu digo que a greve é justa. Pelo que a gente passa psicologicamente, merecíamos muito mais.”
Proposta – “É muito pouco, muito mesmo!”, diz outra trabalhadora sobre a proposta da Fenaban. “Diante de uma proposta dessa, o certo é grevar mesmo.” Mãe de uma menina, ela destaca entre as reivindicações o auxílio-creche/babá de R$ 724 (salário mínimo nacional). “O que recebo hoje não cobre a creche da minha filha.”
A bancária queixa-se também do valor do VA e VR: “Quem tem família sabe que não dá para as compras do mês”.
“Às vezes eu acho que a Fenaban faz de propósito pra gente fechar, porque se houvesse uma negociação justa, não teria greve”, opina a colega. E uma terceira funcionária acrescenta: “Minha família gasta cerca de R$ 900 por mês no supermercado, e hoje o VA é menos de R$ 400. E eles lucram muito, podem pagar mais.”
Luta – Em frente ao Telebanco, a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, ressaltou a importância da participação de todos para fortalecer o movimento e, assim, avançar nas conquistas. “Tudo que temos até agora veio da nossa disposição pra luta. Não foi porque os banqueiros acordaram um dia e resolveram dar vale-refeição, vale-alimentação, PLR. O VR conquistamos depois de greve em 1991, o VA em 1994 e a PLR em 1995. Não são benesses dos banqueiros, são conquistas dos trabalhadores.”
Fonte: Andréa Ponte Souza - SEEB/São Paulo