Crédito: Danilo Ramos/Seeb São Paulo
Trabalhadores terceirizados pelo Itaú reclamam da falta de valorização
São Paulo - De um lado da Avenida Lins de Vasconcelos, trabalhadores sem expectativas ou sonhos se depender de suas condições financeiras. Eles são empregados pela Micheletti Processamentos, por sua vez, contratada pelo Itaú. Recebem em média um salário mínimo pelo trabalho que antes era feito por bancários.
Do outro lado da avenida, alguns bancários, em greve, com uma trajetória de luta e algumas conquistas arrancadas com muita luta. Neste 13º dia de greve da categoria, eles estão mais um ano lutando por aumento real, piso melhor, PLR maior, valorização dos vales e melhores condições de trabalho, reivindicações que só avançam com mobilização.
Todos esses funcionários trabalham juntos nos cinco andares do prédio do GPSA, concentração do Itaú localizada na Vila Mariana. Em mais um dia de greve da categoria eles pararam a microfilmagem e a conferência de cheques, além da agência que funciona no local.
Em comum, enfrentam a falta de expectativa na carreira. Enquanto os terceirizados sofrem com as dificuldades ao receber salários tão rebaixados e não terem quase nenhum auxílio, os bancários reclamam da estagnação na carreira e do aumento da terceirização que precariza o trabalho no país.
"Uma empresa como essa, em minha opinião, não tem responsabilidade com nada, e esses funcionários acessam dossiês com informações de clientes sem as orientações desejadas para esse trabalho. É um absurdo", protesta uma funcionária, bancária há sete anos. Do outro lado da rua, a expressão dos jovens com cerca de 20 anos, pressionados pessoalmente e por telefone, era de apreensão.
Procuradas pelo Sindicato para falar sobre suas condições de trabalho, duas trabalhadoras mostraram empolgação, um desabafo para desatar o nó na garganta de quem demora duas horas para chegar ao trabalho e não tem as mesmas condições da categoria bancária. Mas logo são assediadas pela supervisora. "Desculpa, não poderemos falar", dizem com ar de constrangimento. A supervisora, nervosa, informa que não falará com ninguém do Sindicato e fica de olho nos funcionários do setor de microfilmagem.
Por volta das 8h40 todos os terceirizados foram dispensados e saíram felizes, engrossando a greve da categoria. Os bancários também seguem em greve. "Hoje foi um dia D para o Sindicato ajudar a parar esse lugar", diz um dos bancários. O setor, estratégico para o Itaú, presta suporte a 1,9 mil agências em todo o país e é responsável pela conferência de 250 mil cheques por dia. "Mas hoje, dia 1º, esse número chega a 450 mil cheques", explica.
Falta respeito e valorização
Os bancários não estão na greve somente por aumento real. Condições de trabalho, valorização, fim das metas abusivas são algumas das reivindicações que também não avançaram nas mesas de negociação.
Um dos bancários do GPSA reclama que todo ano é necessário parar para que banqueiros respondam aos trabalhadores com uma proposta melhor. "Isso tudo não é necessário para os bancos. Mas sou bancário há 25 anos e sei que se não for assim nada anda." O trabalhador nunca teve uma promoção. "São muitas promessas e promoção mesmo nada. Meu sonho era trabalhar no banco. No fim da minha carreira estou frustrado.
Imagina quem está entrando no Itaú hoje, nesse cenário precário? É outro banco", diz. Outro desabafa: "Como eu me sinto? Me sinto um lixo!" Ele trabalha há dez anos no banco, nunca teve promoção. "Não tenho expectativa de nada. Faço a mesma coisa que os colegas e ganho menos. Tenho família pra cuidar e não tenho nenhum incentivo de carreira, nenhuma facilidade para estudar. Eu não quero que as coisas melhorem só pra mim, quero melhoria para todos que estão na minha situação, quero o justo, o correto".
A greve continua, e as queixas dos trabalhadores não param por aí: geladeira quebrada, poucos aparelhos micro-ondas para esquentar as marmitas, botões do elevador quebrados. "Faz um ano que não vejo alguém fazendo manutenção nesse elevador", relata outro.
PL 4330
Situações como as dos terceirizados do Itaú podem tornar-se ainda mais frequentes, caso seja aprovado o PL 4330, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO). O projeto de lei na prática legaliza a terceirização fraudulenta para atuar em atividades-fim da empresa, ou seja, uma espécie de subcontratação.
Fonte: Seeb São Paulo