A rotina de trabalho exaustiva e precarizada, foi prioridade dos movimentos sindicais dos bancários no Brasil durante a campanha nacional de 2024. A visibilidade sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) para mudança do modelo de trabalho 6x1 reflete o anseio da classe trabalhadora. O debate sobre o tema começou com forte movimentação nas redes sociais, com cobrança de posicionamento dos deputados federais para aprovação da proposta.
O Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Estado do Amapá (Sintraf-AP), junto a outras organizações sindicais, luta por melhores condições de trabalho para toda categoria. Durante a campanha reivindicou a mudança da jornada de trabalho 5x2 para 4x3. A cobrança surgiu após inúmeros relatos de trabalhadores adoecidos devido à rotina exaustiva e às metas abusivas dos bancos públicos e privados.
Qual a origem desta mobilização pública?
Atualmente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) define que a jornada de trabalho não pode ultrapassar mais de 8 horas por dia, e 44 horas por semana. Com esta realidade, o vereador recém-eleito Rick Azevedo (PSOL), em 2023, publicou em suas rede social um vídeo expondo sua indignação com a rotina exaustiva de inúmeros trabalhadores do modelo de escala. Ele destacou os impactos negativos para as relações familiares e sociais, bem como para saúde mental e física.
Após o vídeo viralizar, o vereador de São Paulo, com outros apoiadores da causa, criaram o movimento Vida Além do Trabalho (VAT), com objetivo de pressionar o poder público por mudanças do modelo exploratório de trabalho.
O movimento criou um abaixo assinado para coletar assinatura da sociedade para mostrar a importância do debate. A mobilização chamou atenção da deputada federal Érika Hilton (PSOL), que protocolou a PEC. No dia 13 de novembro (Quarta-feira), a proposta recebeu o número de assinaturas necessárias e agora será indicado um relator para analisar a proposta. Em diálogo com a classe trabalhadora e empreendedores será construído o projeto para ser colocado em prática.
Entenda como deputados federais do Amapá se posicionaram |
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Assinaram |
Não assinaram |
Dorinaldo Malafaia (PDT) |
Vinícius Gurgel (PL) |
Josenildo Abrantes (PDT) |
Silvia Nobre (PL) |
Professora Goreth (PDT) |
Sonize Barbosa (PL) |
Augusto Puppio (MDB) |
Acácio Favacho (MDB) |
Por que é necessária adaptação?
Área comercial de Macapá-AP local com grande concentração de trabalhadores| Foto:GEA/Divulgação
A PEC propõe a mudança no inciso XIII, do Artigo 7º da Constituição Federal, para a jornada de trabalho não ultrapasse 8 horas diárias, com no máximo de 36 horas semanais, sem a redução salarial.
A trabalhadora Debora Souza, de 23 anos, atuou nos anos de 2020 e 2021 em uma grande loja de roupas do Amapá, no modelo 6x1. Ela relatou diversas dificuldades enfrentadas devido à intensa realidade de trabalho exploratória.
“Era muito desgastante, ficávamos de pé, sendo vigiados, sem poder sentar. O cansaço era tanto que perdi contato com pessoas próximas e minha saúde mental e física piorou. Eu não tinha vontade para nada, quase entrei em depressão por causa do trabalho”, conta Debora.
Relatos de brasileiros adoecidos pelas longas rotinas de trabalho estão cada vez mais recorrentes, como pontua dados divulgados pela pesquisa State Of The Global Workplace, de 2024, mostra que 46% dos trabalhadores e trabalhadoras estão com níveis elevados de estresse, 25% se sentem tristes e 18% com raiva.
A trabalhadora deu seu ponto de vista sobre a possibilidade de mudança da jornada, “Vi uma colega desmaiar de cansaço no trabalho e os supervisores nos impediram de ajudar. Por esse e outros motivos, sou favor do fim deste modelo, entendo que pode ter consequências boas e ruins, mas é algo que precisa acontecer, é uma forma de respeito com a classe trabalhadora brasileira”.
Outros dados alarmante, apresentado pelo Ministério da Previdência Social, mostra o aumento em 38% de trabalhadores e trabalhadoras incapacitados de exercer suas funções laborais devido a transtornos mentais e comportamentais, entre os anos de 2022 e 2023.
Embora os trabalhadores do ramo financeiro atuam na escala 5x2, diferente do padrão atual da maioria dos brasileiros, a “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: Modelos de gestão e patologias do trabalho bancário” de 2023, trouxe dados preocupantes. 76,5% dos bancários e bancárias tem algum problema de saúde relacionado ao trabalho, isso reflete a carga excessiva e danosa para os trabalhadores.
O presidente do Sintraf-AP, Samuel Bastos, demonstra preocupação com o cenário atual e conta, “A escala 6x1 é um modelo que perpetua a exploração e não é aceitável ter uma jornada que prejudique o físico e o emocional, afastando as pessoas de seus famílias e trazendo danos para a saúde. Nosso compromisso, como sindicato, é lutar por condições dignas de trabalho. Defender a mudança dessa escala não é apenas uma questão trabalhista, é uma luta por justiça social e respeito à classe trabalhadora. Queremos um modelo que priorize a vida, o bem-estar e a dignidade dos bancários e de todos os trabalhadores brasileiros”, ressalta o presidente.
Redação Sintraf/AP
Texto: Giovane Brito
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