Em 7 de janeiro de 1835 a Revolução Cabana, construída por homens e mulheres, negras, mestiças, indígenas, em aliança com parte da elite local contra a coroa portuguesa, tomou o poder em Belém e instaurou o primeiro governo revolucionário e popular da história do Brasil, que durou até 1840.
A historiografia clássica ocultou da memória histórica da Cabanagem, quase por completo, a participação ativa de mulheres na Revolução. Mulheres de todas as idades, responsáveis por toda a família nos tempos de guerra, contestando politicamente ou presente nas frentes de combate e resistência (1836-1840). Negras, índias, tapuias… herança viva das lendárias guerreiras Icamiabas.
“É como se a Cabanagem tivesse sido construção social e política somente da ação de homens, pois, é marcante o perfil masculino no movimento construído pela historiografia. As mulheres estão subsumidas no desenrolar dos combates e dos conflitos. Os documentos encontrados apontam para a presença das mulheres na Cabanagem, revelando suas práticas, estratégias e grau de envolvimento.”, afirma a historiadora Eliana Ramos Ferreira, em seu artigo intitulado As mulheres na Cabanagem: presença feminina no Pará insurreto, publicado em 2003 no XXII Simpósio Nacional de História.
Eliana Ramos Ferreira também argumenta que, em tempos de guerra, o homem assume a linha de frente na batalha; enquanto que a mulher ocupa a retaguarda, o que não faz delas menos importante em um conflito, pois desenvolvem ações imprescindíveis para o sucesso dos empedernidos combates.
“Nesse sentido, enquanto o homem estava no combate direto com as tropas legais, a mulher que tinha seus pares envolvidos visceralmente no conflito, afastados de casa lutando nas matas e rios, assumia os papéis de mantenedora e provedora da família, além de papéis como o de espiã”, explica.
Porém, na pesquisa feita pela historiadora em documentos militares oficiais da época, há registros sobre uma incursão das tropas legais nas matas da localidade de Jaguarary, em julho de 1836, onde houve um confronto sangrento com um número significativo de cabanos, com alguns feridos e mortos. Dentre os feridos, achava-se uma mulher da fileira dos cabanos, o que indica uma possibilidade de feminização da Cabanagem, uma vez que se encontrou indícios de mulheres envolvidas no confronto direto entre as fileiras cabanas e os contingentes das tropas legais, pois, elas estavam muito próximas, também, da linha de frente.
Do pouco que sabemos sobre elas; é certo que em Setembro de 1839, o Comandante Militar de Monte Alegre documentou ofício sobre a prisão de mulheres no Rio Curuá. Onde destacou a prisão de Maria Lira Mulata. Após ser obrigada a confessar, declarou ser escrava de um tal Fernando, conhecido como Bolóta, morador de Macapá. Muito provavelmente seu destino foi entregue á cólera escravocrata de seu senhor.
“A história da Cabanagem, autêntica revolução amazônica, não pode apagar o protagonismo das mulheres nas lutas de resistência popular em nossa região. A Revolução Cabana segue viva em todos e todas nós que resistimos contra as explorações, opressões e as injustiças sociais. Viva os 186 da Cabanagem!”, comemora a presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará, Tatiana Oliveira.
Fonte: Bancários PA, com informações do Brasil e Fato, ANPUH e Rádio Idade Mídia