O centro da capital federal foi tomado por milhares de mulheres negras de todo o país. Mais de 20 mil pessoas marcharam, nesta quarta-feira (18), contra o racismo, a violência e pelo bem viver. O Sindicato dos Bancários de Brasília participou da Marcha e apoia as pautas das mulheres negras.
Embalada ao som dos ritmos africanos, a Marcha Nacional das Mulheres Negras seguiu do Ginásio Nilson Nelson, local de concentração do movimento, até o Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Crianças, jovens, adultas e idosas entoaram cantos ancestrais e saudaram as ativistas negras que permanecem vivas na luta diária de cada mulher negra brasileira.
Durante a Marcha, em que as delegações de todos os estados do Brasil enviaram representantes, cartazes, faixas e bandeiras foram erguidas com frases de protesto contra os ataques que a população negra sofre todos os dias. O genocídio da juventude negra do Brasil, confirmado pelos 80% dos 30 mil jovens mortos por ano, foi um dos temas mais citados pelas manifestantes.
“A Marcha traz à tona diversas pautas e demandas que o Sindicato também vai encaminhar, inclusive sobre a nossa participação no mercado de trabalho. Precisamos da atuação dos parlamentares no sentido de garantir às negras o acesso aos direitos que muitas vezes nos são tirados”, afirmou a secretária de Assuntos Parlamentares do Sindicato, Louraci Morais. “É emocionante participar dessa Marcha que me representa enquanto mulher negra e trabalhadora bancária”, finaliza.
Negras no mercado de trabalho
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49,6% dos negros e pardos trabalham informalmente enquanto os brancos representam 36%. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o Pnad 2013, a população negra representa apenas 8.75% dos cidadãos empregados do país.
As mulheres negras, que sofrem ainda mais com a desigualdade de oportunidades, vítimas da soma de racismo e sexismo, dificilmente chegam a cargos de chefia. Apesar dos esforços das organizações internacionais e das entidades sociais que lutam pela igualdade entre homens e mulheres, elas continuam ganhando cerca de 30% a menos que os homens. Essa diferença é ainda mais acentuada quando se trata do salário das mulheres negras.
Para o secretário de Saúde do Sindicato, Wadson Boaventura, a Marcha das Mulheres Negras também é uma oportunidade para debater a participação da população negra no mercado de trabalho bancário. “Ainda há dificuldade para inserção do negro no sistema bancário, principalmente nos bancos privados. Acreditamos que esta Marcha seja um grito por inclusão e igualdade de oportunidades”, destaca.
Violência policial
Dois policiais civis foram presos por disparar tiros para o alto enquanto a Marcha passava em frente ao Congresso Nacional. Segundo informações dos meios de comunicação, pelo menos um dos presos integra o grupo dos acampados que pedem a volta dos militares ao poder.
As mulheres em marcha foram alvo de bombas de efeito moral atiradas pelo grupo de acampados. Durante a ação da Polícia Militar, que fez cordão de isolamento para proteger os integrantes do acampamento, gás de pimenta foi jogado na multidão.
Em entrevista à TV Bancários, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, afirmou que os ataques vieram de um grupo de pessoas “autoritárias e retrógradas”, que usaram da violência para atacar as mulheres em marcha. “Apesar disso, do lado de cá, temos pessoas que lutam pela democracia e pela cidadania. Esta Marcha é uma grande vitória, porque veio mostrar que a mulher negra pode ocupar todos os espaços, inclusive dentro do Congresso”, destaca.
As mulheres negras representavam 25% da população brasileira, aproximando-se de 50 milhões de pessoas. Essa população é a principal atingida pela violência de gênero e o Distrito Federal está no ranking dos estados em que mais meninas e mulheres negras são mortas.
De acordo com o Mapa da Violência 2015, onde foram observadas as taxas de homicídio de mulheres entre 2003 e 2013, os índices entre as mulheres negras cresceu 19,5%, enquanto entre as mulheres brancas, houve uma queda de 11,9%.
Brasília Debate
Na próxima terça-feira (24), o Sindicato debate a força do negro no processo de formação do país em mais uma edição do Brasília Debate. Estudiosos do assunto e personalidades do movimento negro brasileiro participarão do evento, que tem entrada gratuita.
Coordenador nacional da Comissão da Verdade da Escravidão Negra e de Combate ao Trabalho Escravo no Brasil da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Humberto Adami participou da Marcha e integrará roda de discussão na próxima edição do Brasília Debate.
Segundo o advogado, “esta Marcha é muito importante para a construção da história do povo negro brasileiro, em especial para a luta da mulher negra”.
Joanna Alves
Colaboração para o Seeb Brasília