Brasília - Independentemente, se a economia brasileira vai bem ou mal, os resultados financeiros dos bancos são sempre positivos, com os lucros nas alturas. Ou seja, não existe crise para as instituições financeiras. E isso se deve, entre outros motivos, à exploração a que são submetidos os bancários que, para contribuírem com o enriquecimento desmedido dos banqueiros, cumprem uma rotina de trabalho estressante com metas abusivas e muita pressão pela cobrança de resultados, o que os classifica como uma das categorias que mais apresentam problemas de saúde com causas nas condições de trabalho.
Os casos de transtornos mentais e comportamentais estão crescendo muito mais rapidamente na categoria bancária e já superam os adoecimentos relativos a LER/Dort. Entre janeiro e março do ano passado, 4.423 bancários foram afastados do trabalho, sendo 25,3% por lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares e 26,1% por doenças como depressão, estresse e síndrome do pânico.
Por todo esse cenário, a classe trabalhadora não vai desistir de reivindicar o que lhe é de direito. Já passou da hora de os banqueiros devolverem aos trabalhadores o que lhes é tirado em prol da lucratividade. Para alterar essa realidade, a categoria bancária exige mudança de postura dos sugadores, com a contratação de mais empregados e melhores condições de trabalho e de atendimento.
Caixa
“Infelizmente, não houve nenhum avanço nas cinco rodadas de negociações com a Caixa. O máximo que o banco prometeu foi um evasivo ‘vamos analisar’, porém, sem nenhum aceno de que responderia positivamente a qualquer das reivindicações de seus empregados,” ressalta Antonio Abdan, secretário de Formação Sindical, que também é empregado da Caixa.
Abdan acrescenta que, associado a isso, o conjunto das equivocadas decisões que reduziram direitos e proporcionam a todos as mesmas condições de ascensão na carreira, exigem dos trabalhadores uma postura mais radical. “Os empregados da Caixa têm todos os motivos para entrarem em greve. Por isso, vamos à luta”, conclama o dirigente sindical.
Lucro e demissões
Em 2014, os maiores bancos que atuam no Brasil lucraram, juntos, a extraordinária quantia de cerca de R$ 60 bilhões. E, mesmo lucrando tanto, as instituições financeiras demitiram 5.004 bancários no ano passado. Em 2015, já foram 2.795 trabalhadores.
A Caixa Econômica Federal teve um lucro de R$ 7,1 bilhões em 2014. E no primeiro semestre deste ano atingiu R$ 3,6 bilhões, valor que corresponde a um aumento de 2,8% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Contudo, mesmo com todos esses lucros exorbitantes, a Caixa não demonstra nenhum interesse em atender as reivindicações dos trabalhadores. Pelo contrário, o banco penaliza o empregado com medidas que estão na contramão dos benefícios pleiteados pela categoria.
Substituições abaixo de 7 dias
Os empregados que substituem algum colega por período inferior a 7 dias não recebem o valor referente à função do colega substituído. Ignorando o fato de que quando o empregado se ausenta, seja lá qual for o motivo, a atividade do colega não o acompanha, cabendo a outro empregado a incumbência da realização da de tal atividade. Ao se negar a pagar a função ao substituto, a Caixa incorre num desrespeito aos direitos desse trabalhador.
Contratação
A Caixa contraria cláusula do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de 2014/2015, que previa a contratação de mais 2 mil novos empregados até dezembro deste ano, ao reduzir o número de empregados de 101 mil para cerca de 97 mil.
Mesmo com a autorização do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) para a Caixa atingir o contingente de 103 mil empregados, a realidade tem sido outra. Em 2014, a empresa contava com 101 mil empregados, porém, com a deflagração do Plano de Apoio à Aposentadoria (PAA), foi registrada a saída de mais de 3 mil trabalhadores, fechando o quadro funcional em 97.975 providos em 30 de junho deste ano.
Exclusão PSICs
Outro descaso da Caixa refere-se à exclusão dos empregados da Vitec e Vivar de participarem dos Processos Seletivos Internos por Competência (PSIC's), prejudicando a ascensão profissional de tais empregados e gerando grande descontentamento entre os trabalhadores das áreas discriminadas. O Sindicato questionou o banco sobre os reais motivos desta medida, mas ainda não obteve uma resposta satisfatória.
Banco de habilitados
Os trabalhadores também reivindicam mais transparência e equidade na sistemática nos processos seletivos internos da Caixa. Recentemente, por recomendação do Ministério Público do Trabalho (MPT), o banco decidiu extinguir a atual sistemática para formação de banco de habilitados. Marcado por irregularidades, o processo de seleção foi realizado em abril.
Menos de 27% dos 8.286 trabalhadores que fizeram a prova alcançaram os 70 pontos necessários para fazer parte do banco de habilitados.
Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília