“Falar em direitos humanos na América Latina é luxo”. A frase é de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, que nesta terça-feira (17) compartilhou um pouco de sua experiência e visão do mundo, durante cerca de duas horas, com uma plateia que lotou o Teatro dos Bancários. Sereno, carismático e com uma grande bagagem cultural, o frade dominicano encantou a todos ao abordar o tema Política e Direitos Humanos, em mais uma edição do projeto Brasília Debate, promovido pelo Sindicato.
O religioso iniciou a palestra com um alerta: “Quem tem nojo de política é governado por quem não tem”. Prosseguiu, lembrando que em tudo há política. “É como uma faca de dois gumes e como a religião. Ela serve para oprimir ou para libertar”. E advertiu que “na hora em que nos omitimos na política, estamos dando um cheque em branco para quem está no poder”.
Conhecido por sua atuação política contra o regime militar, embora nunca tenha se filiado a nenhum partido político, Frei Betto avalia que os eleitores votam mal “porque vivemos num mundo onde a política é controlada pela minoria”. E pondera: “Nós progressistas temos muita culpa no cartório”.
Frei Betto também ressaltou que a busca da cultura é o remédio contra o ódio, para termos um Brasil diferente.
Ódio e preconceito
Na opinião do frade, que considera o ódio e o preconceito os dois grandes inimigos dos direitos humanos, de nada adiantam programas, conferências e acordos se os governos e autoridades, responsáveis pelas liberdades básicas de todos os cidadãos, são cúmplices do racismo, da violência contra as mulheres e crianças, das torturas etc.
Lembrando que no próximo dia 10 comemora-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos, Frei Betto sugere que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, seja aprimorada, e passe a incluir também os direitos da natureza. O documento é a base da luta contra a opressão e a discriminação, defende a igualdade e a dignidade das pessoas e reconhece que os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser aplicados a cada cidadão do planeta.
“Direitos humanos e sistema capitalista são incompatíveis”, apregoa o frei, acrescentando que a pirâmide da desigualdade cresce aceleradamente. “O sistema quer formar consumistas. É uma luta desigual que predomina na sociedade”.
Autor de 60 livros, o frade dominicano que dissemina a religião como instrumento transformador do mundo, destacou que Jesus veio para trazer a semente de um novo projeto civilizatório, baseado no amor, “um mundo como Deus quer, de partilha, multiplicação de pães”. E enfatizou que defende sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.
Aula de cidadania
Para o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, a palestra foi uma verdadeira aula de cidadania. Segundo ele, numa clara demonstração de satisfação, os participantes pediram a continuidade do projeto.
O Sindicato vai elaborar uma cartilha com o conteúdo do debate, que será disponibilizada aos bancários e toda a sociedade interessada no tema.
Mariluce Fernandes
Do Seebb Brasília