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11 de Dezembro de 2015 às 05:15

“Brasil vive momento singular”, frisa economista Marcio Pochmann


Crédito: SEEB/BRASÍLIA

Brasília - “O Brasil está vivendo um momento singular, comparável a outros de forte tensão como fora as décadas de 1930 e 1980”. A constatação é do economista e professor da Unicamp Marcio Pochmann que, nesta terça-feira (8), abordou o tema Desenvolvimento Econômico, Distribuição de Renda e Avanços Sociais, em mais uma edição do Brasília Debate, promovido pelo Sindicato em sua sede. 

De acordo com Pochmann, que também é presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), naqueles momentos o país soube dar passos importantes, reconstruindo sua maioria política e ao mesmo tempo construindo um projeto de desenvolvimento da nação.

“O ciclo político iniciado com a Nova República se esgotou. Estamos vivendo este esgotamento e a expectativa é que o governo tenha a capacidade de reconstruir sua maioria estabelecendo um projeto ousado para o Brasil nos próximos anos”, ressaltou o economista, ponderando: “Nós estamos muito limitados numa agenda de curtíssimo prazo”.

Pochmann frisou que a desigualdade é uma marca do Brasil, embora a realidade social brasileira tenha melhorado expressivamente durante a última década, com a diminuição da exclusão social. “Contudo, a desigualdade regional continua marcante”, observou. 

Retrocesso

“No ano 2000 houve um retrocesso inclusive do índice econômico e social, porque o Brasil havia sido a 8ª economia nos anos 1980 e nesse ano retroagiu à posição de 13º país, e havia um quadro social mais alarmante do que em 1980 em virtude da expansão do desemprego”, citou o economista, lembrando que em 1980 a taxa de desemprego era de 2,7% da força de trabalho e no ano 2000 era de 15%.

Pochmann prosseguiu: “Na primeira década do século 21 houve um crescimento econômico significativo, combinado com democracia e política de distribuição de renda, de maneira geral. Isso nos permitiu, comparativamente aos últimos 50 anos, oferecer resultados significativos na década de 2000. Que foi uma década em que a desigualdade aumentou no mundo, mas em que o Brasil, de forma inversa, conseguiu reduzir, pelo menos, a desigualdade na renda do trabalho. Nós, que éramos o terceiro país mais desigual do mundo, hoje somos o décimo-sexto”.

Fome Zero e Bolsa Família

Autor de mais de 40 livros de economia e políticas públicas, Márcio Pochmann também falou sobre o fracasso na tentativa de tornar miseráveis em atores políticos relevantes. Tirá-los da condição de passividade em que estão colocados ao longo da história nacional. “O fracasso ocorreu na medida em que nós tivemos que trocar o programa Fome Zero. Ele era um programa com os pobres e não para os pobres. Tinha uma série de iniciativas que faziam com que os pobres passassem a ser agentes de sua própria emancipação, que colocavam de forma descentralizada a necessidade de auto-organização dos pobres e decidindo quem seriam os beneficiados”. 

Porém, conforme comentou o professor, as primeiras tentativas de implementação do Fome Zero começam a sofrer forte pressão dos poderes conservadores locais. É quando surge a sua substituição pelo Bolsa Família. “Não houve a possibilidade de transformar 40 milhões de pobres em atores políticos relevantes”, pontuou Pochmann.

Movimento sindical

Pochmann também falou do papel dos sindicatos na atual conjuntura. “O sindicalismo brasileiro responde por 16% da força de trabalho que está sindicalizada e conectada com a atuação dos sindicatos, que são importantes mobilizadores nas campanhas salariais ao longo dos últimos dez anos, conquistando remunerações maiores e melhores condições de trabalho”, destacou o professor da Unicamp.

E frisou: “Portanto, agora, no momento em que está em jogo o futuro do país, os sindicatos precisam se mobilizar, especialmente em torno da defesa da democracia”.

Cartilhas

O presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, informou que o conteúdo do debate de Marcio Pochmann será transformado em cartilha, conforme tem ocorrido em todas as edições, e será disponibilizada aos bancários e toda a sociedade interessada no tema. E garantiu que o projeto terá continuidade em 2016, com abordagens de temas de interesse de toda a categoria bancária.

Mariluce Fernandes 
Do Seeb Brasília


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