Brasília - A posição intransigente do BB em não aceitar a reabertura da mesa de negociação e em ratificar os limites da proposta anterior mostram que parte da direção da empresa está apostando num “Plano B”, que seria manter a assistência de saúde sem utilizar a Cassi.
Em paralelo, a direção da empresa e seus aliados na Cassi apostaram no aumento da coparticipação para os funcionários, com acréscimo unilateral de contribuições somente incidindo sobre os associados. Essa medida traz uma situação mais cômoda ao banco e seus representantes, já que, além de desequilibrar negativamente o percentual de contribuição das partes, pode inibir a utilização do plano, reduzindo as despesas assistenciais e melhorando o resultado financeiro da Cassi.
Ao aprovar o aumento das coparticipações, os representantes indicados pelo banco conseguiram impor uma medida que tentavam passar há mais de cinco anos.
Esse recurso, conhecido por um “fator financeiro de regulação”, por não ter nenhuma base em critérios técnicos, atinge todos da mesma maneira, os que necessitam e os que não necessitam, e ainda pode impactar nos custos do plano a longo prazo por ausência de ações de prevenção, proteladas pelos usuários por falta de dinheiro para pagar as coparticipações.
E é nesse contexto que nos manifestamos sobre o que, a nosso ver, poderia se transformar no maior golpe nos benefícios dos funcionários da ativa e dos aposentados associados do BB – a liquidação da Cassi. A linha de atuação dos representantes do BB na Caixa de Assistência está alinhada à direção do Banco do Brasil. Contam agora com a Direção Fiscal da ANS para levar a cabo a solução final. Por isso, os associados e os eleitos não podem vacilar.
Sem Cassi, caminho aperto para planos de mercado
Em nota de esclarecimento emitida aos associados em agosto de 2019, o BB anunciou às operadoras de plano de saúde do mercado que está disposto a se livrar da carteira da Cassi.
O banco (por meio da diretoria da Cassi) fala em continuar contribuindo com o limite de 4,5% para o custeio da assistência para a saúde dos funcionários, aposentados e grupos familiares, mesmo sabendo que esse valor está aquém da atual necessidade, apontando para seus investidores que o passivo está limitado e sob controle.
O risco aumenta com a entrada de capital estrangeiro no mercado de saúde, com investimentos cada vez maiores voltados para a aquisição de carteiras à venda. E as carteiras das autogestões sempre foram vistas como de elevado valor, tanto pela garantia de pagamento quanto pela saúde dos participantes, herança essa obtida a partir do acompanhamento sistemático de qualidade fornecido pelas autogestões.
Para piorar a situação, a Cassi tem investido pouco na ampliação da atenção primária e integral, negociações por performance, controle de crônicos, tecnologia e inteligência para monitoramento da sua população, seguindo na direção contrária ao que o mercado vem perseguindo.
Outras operadoras do mercado aberto também estão ampliando seus investimentos no setor. Somente a Amil possui cerca de R$ 12 bilhões de patrimônio líquido e mais de R$ 7 bilhões de investimentos em participações. A Américas já adquiriu cerca de 29 hospitais e a Optum é responsável por toda a inteligência de negócios, principalmente no que tange à compra de serviços.
A United Health Group, empresa estadunidense e uma das maiores do mundo do setor, adquiriu a Amil em 2015, criou a Américas e trouxe para o Brasil a Optum, a maior empresa de tecnologia de saúde do mundo, com atuação em mais de 150 países.
Enquanto entre os associados parece difícil o consenso em torno da defesa de uma proposta que salve a Cassi, a situação do patrocinados parece ser de céu de brigadeiro.
O Encontro Nacional de Saúde dos Funcionários e Funcionárias do Banco do Brasil, que aconteceu nesse último fim de semana em São Paulo, foi fundamental para o debate de ideias e estratégias, clareando novos passos na unidade que assegure a existência e o fortalecimento da Cassi.
Kleytton Morais
Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília