Uma das principais orientações da Organização Mundial de Saúde para controlar a disseminação do coronavírus, é o isolamento social, principalmente para quem faz parte do grupo de risco, como os idosos. Com tanto tempo em casa, foi preciso usar e abusar d criatividade para vencer o tédio, ou dar conta de si, do trabalho, da família, dos afazeres domésticos e dos estudos.
Aos 82 anos e aposentado, o ex-bancário do Banco do Brasil, Coriolano de Souza Pinto, natural de Porto Alegre, mas criado e com família toda do Pará, conquistou a primeira graduação, em meio a uma pandemia.
“Meu grande desejo era de um dia possuir um curso superior. Mas por vários motivos, como minhas obrigações funcionais como militar e bancário, sempre trabalhei em lugares carentes de meios para o desenvolvimento intelectual. Por várias vezes tentei progredir, mas tive que interromper seja por motivos de doença ou dificuldades financeiras”, lembra o seu Coriolano.
O ex-bancário e militar reformado conta que desde a década de 60 carrega consigo o desejo de cursar direito, mas pelos motivos ditos acima, nunca foi possível realizar o sonho de quando cursava ginásio, o ensino médio nos dias de hoje.
“Eu fugia de algumas aulas para assistir aos julgamentos no Tribunal de Júri de Belém, como forma de aprimorar meus conhecimentos nos direitos e deveres de todo cidadão”, conta.
Coriolano trabalhou, casou, teve seis filhos biológicos e um de criação, 19 netos e 7 bisnetos, atualmente morador de Castanhal, no nordeste paraense, viu que finalmente o sonho de anos poderia ser realizado, e nele depositou toda experiência de vida e de carreira como militar, como bancário.
“Dediquei todo meu esforço diário, principalmente de não faltar um dia sequer as aulas. Com sacrifício e renúncia consegui cem por cento de comparecimento durante o curso. E hoje formado em direito, posso ensinar ainda mais meus filhos, netos e bisnetos, que todos nós temos direitos e deveres a serem observados, para vivermos em uma comunidade onde exista compreensão, amor e justiça”, acredita o mais novo graduado em direito do estado.
Toda essa determinação e disciplina foram fundamentais também para aprender não só a parte teórica, mas também a prática, principalmente quando veio a pandemia, e as aulas passaram a ser todas pela internet.
Dentro de casa, aqueles que um dia ele tanto ensinou como avô, se transformaram em professores de informática, apresentando e mostrando, ao seu Coriolano, o passo-a-passo do mundo digital.
“Ao final do curso, quando estava no último semestre, apresentaram-se muitas dificuldades, devido à mudança do presencial para online, entretanto com a ajuda dos meus netos e instituição que me formei, consegui superar todas os obstáculos que surgiram, principalmente para a defesa do TCC, que foi toda virtual, mas mais uma vez com muito esforço consegui a nota máxima”, explica.
A conquista não poderia passar em branco e nem a cerimônia de formatura também. Seu Coriolano vestiu-se a caráter, com direito a beca e tudo, e da mesma forma que o curso foi concluído, teve o juramento de formatura.
“A colação também foi virtual, e essa forma, única possível em meio a uma pandemia, o que não diminuiu a importância de concluir minha primeira graduação. Agradeço a todos os meus mestres pela paciência e sabedoria, bem como toda minha família”, reconhece.
E se você está pensando que os sonhos do seu Coriolano terminaram, ‘pera’ aí que essa história ainda não terminou. Dos seus 82 anos, 20 deles foram como bancário em vários municípios paraenses: Oriximiná, Belém, Santarém, Rurópolis, Presidente Médice, Paragominas e por último em Castanhal, nas funções de gerente interino, na área de crédito rural e industrial como chefe de setor, além de analista de crédito.
Com esse breve currículo, acho que dá pra imaginar em que área ele deseja atuar quando for advogado né?
“Pretendo atuar na a área trabalhista, quanto à prova da OAB é minha pretensão realizá-la no futuro”, conclui o ex-bancário, futuro advogado.
Fonte: Bancários PA