Belém PA - O último 8 de março foi o dia de “ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês” nas ruas de Belém e de Marabá. A data marca a luta histórica e internacional das mulheres em todo o mundo, contra o machismo, a violência, por igualdade de oportunidades, que nesse ano, na ‘Terra Tupiniquim’, teve como principal bandeira a ‘reforma’ da Previdência.
“As mulheres serão as mais prejudicadas com a ‘reforma’ da Previdência se a proposta apresentada por Jair Bolsonaro (PSL/RJ) for aprovada pelo Congresso Nacional.” A afirmação é da professora de Economia e Relações do Trabalho do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit-Unicamp), Marilane Teixeira.
Pelas regras atuais, explica a professora, uma mulher de 55 anos e com 25 anos de contribuição teria de trabalhar mais cinco anos para se aposentar por idade e conseguir receber o benefício integral. Ou seja, estaria aposentada aos 60 anos e com 30 anos de contribuição.
Já pelas regras de transição propostas por Bolsonaro, que quer implementar a idade mínima de 62 anos para as mulheres, essa mesma mulher terá de trabalhar mais sete anos (55+7 = 62) para se aposentar por idade. Ainda assim, ela só chegaria a 32 anos de contribuição (25+7 = 32) e não se aposentaria com o benefício integral, que, pelas novas regras, vai exigir, no mínimo, 40 anos de contribuição.
“No meu caso, não vou ser atingida por essa proposta nefasta, pois já tenho direito adquirido”, conta aliviada a professora Maria Júlia Alves. “Em minha opinião essa ‘reforma’ é mais um golpe dado ao trabalhador, do que a justificativa de rombo na previdência”, desabafa.
Para as mulheres trabalhadoras a conta resultaria em um benefício de apenas 84% do valor a que ela teria direito pela regra atual. Ou seja, 60% correspondentes aos 20 anos mais 24% referentes aos 12 anos a mais que ela contribuiu para poder se aposentar aos 62 anos de idade.
“Sou contra a ‘reforma’ da previdência, primeiramente, porque é um golpe contras as mulheres. Se formos prestar atenção em todas as prerrogativas, do tipo a idade mínima, o tempo de contribuição, o aumento gradual de idade mínima e a aposentadoria de professoras rurais, esses requisitos nos prejudicam, além de ser uma proposta injusta. Fico preocupada com o meu futuro, pois me formei recentemente em turismo pela Universidade Federal do Pará e já estou pensando no futuro, pretendo contribuir logo com a Previdência para garantir uma aposentadoria digna. Eu estive presente no ato do dia da Mulher para denunciar mais esse retrocesso”, conta a turismóloga, Marciliane Moraes.
Desigualdade
“Além da perversidade da ‘reforma’ da Previdência apresentada, as mulheres brasileiras são as mais atingidas pelas retiradas de direitos, como por exemplo, a redução do número de famílias contempladas com o Bolsa Família. Sem falar das desigualdades impostas pela sociedade, dentro e fora de casa. Somos nós que damos conta da jornada tripla, com ou sem alguém pra ajudar: casa, trabalho e estudos. E nada disso foi levado em consideração durante a construção do texto da ‘reforma’ da previdência. A igualdade que pedimos é de oportunidades, de poder concorrer as mesmas vagas, de receber o mesmo salário do nosso colega homem que desempenha a mesma função que a nossa”, explica a vice-presidenta do Sindicato e bancária, Tatiana Oliveira.
Dados da Pesquisa de Emprego Bancário, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), apontam que as 1.089 mulheres admitidas nos bancos em janeiro de 2019 receberam, em média, um valor correspondente a 82,8% da remuneração média auferida pelos 1.359 homens contratados no período. As informações levam em conta os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do IBGE.
Segundo a pesquisa, a diferença salarial entre bancárias e bancários persiste ao longo de toda a carreira, uma vez que também é constatada no momento do desligamento dos trabalhadores da categoria. As 1.189 mulheres desligadas dos bancos em janeiro recebiam, em média, valor correspondente a 79% da remuneração média dos 1.253 homens que deixaram seus cargos nos bancos no primeiro mês de 2019.
“Essa pauta, a de igualdade de oportunidades e salários, é uma luta permanente em nossos calendários e mesas de negociação, e por ela vamos às ruas nos 8 de março. Queremos respeito, igualdade e o fim do assédio moral e sexual, que também somos vítimas”, lembra a dirigente sindical e bancária do Banpará, Heidiany Moreno.
Fonte: Bancários PA com informações da Contraf-CUT