(Atualizada no dia 30/11 às 8h17)
O Ministério da Saúde divulgou portaria nesta quarta-feira 29 de novembro incluindo 165 novas doenças relacionadas ao trabalho, entre elas novas patologias de transtornos mentais e o burnout (também conhecido como síndrome do esgotamento profissional), provocados por fatores psicossociais relacionados à gestão organizacional, ao conteúdo das tarefas do trabalho, a metas abusivas e a más condições do ambiente corporativo. A lista de doenças provocadas pelo trabalho passa de 182 para 347.
“A inclusão dos fatores psicossociais na lista da vigilância em saúde do trabalhador e da trabalhadora é uma vitória gigante para todas as categorias, mas para os bancários e bancárias que sofrem constantemente adoecimento por assédio moral e metas abusivas é um marco na luta por saúde mental e qualidade de vida”, comemora Rafaella Gomes, secretária de Saúde da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN).
“Essa decisão vem num momento muito importante logo depois de acabarmos de sair de uma pandemia. A lógica neoliberal do mercado nos impôs uma reforma trabalhista penosa em que muitos trabalhadores, inclusive os bancários, tiveram sua rotina de trabalho alterada e trazendo com isso uma série de doenças, como o burnout e os transtornos mentais, fazendo com que a gente. E o Ministério da Saúde agora reconhece esses sintomas como doenças do trabalho”, acrescenta Wadson Boaventura, coordenador do Coletivo de Saúde e Condições de Trabalho da Fetec-CUT/CN.
Publicada pela primeira vez em 1999, havia 20 anos que a lista não era atualizada, prejudicando os trabalhadores e deixando livre o caminho dos empregadores para a ampliação do descaso com a saúde no ambiente de trabalho. A nova lista já teve aprovação do Ministério do Trabalho e Emprego e passa a valer após 30 dias da publicação da portaria.
Conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) atendeu quase 3 milhões de casos de doenças ocupacionais entre 2007 e 2022. A maior parte das notificações (52,9%) foi relativa a acidentes de trabalho grave.
Somente em 2023, já são mais de 390 mil casos notificados de doenças relacionados ao trabalho.
“As mudanças na lista vão contribuir para a estruturação de medidas de assistência e vigilância que possibilitem locais de trabalhos mais seguros e saudáveis. A nova lista atenderá toda a população trabalhadora, independentemente de ser urbana ou rural, ou da forma de inserção no mercado de trabalho, seja formal ou informal”, informa o Ministério da Saúde na portaria publicada no Diário Oficial da União.
Na atualização, o Ministério da Saúde acrescentou a covid-19. A doença pode ser uma patologia associada ao trabalho caso o vírus tenha sido contraído no ambiente corporativo. Também foram adicionados transtornos como ansiedade, depressão e tentativa de suicídio patologias que podem ser decorrentes do estresse psicológico. Na publicação de 1999, a depressão era associada somente ao contato com substâncias tóxicas como mercúrio e manganês.
Em entrevista ao site G-1, a médica Márcia Bandini, professora da Área de Saúde do Trabalhador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explicou que a nova lista recupera uma lacuna de mais de 20 anos em que a ciência avançou e o próprio trabalho sofreu diversas modificações. Bandini fez parte da coordenação técnica responsável pela portaria. "A lista incorporou doenças que não existiam e trouxe doenças que já existiam, mas cuja relação com o trabalho ainda não estava bem estabelecida, como alguns cânceres”, ressaltou.
A relação mais recente inclui comportamentos como uso de sedativos, cocaína e abuso de cafeína como transtornos que podem ser consequência de jornadas exaustivas, assédio moral no trabalho, além de dificuldades relacionadas à organização empresarial, uma realidade muito presente nos bancos.
Fonte: Fetec-CUT/CN, com informações do Ministério da Saúde e do Seeb Rio