As cobranças abusivas por metas inatingíveis e assédio moral por parte das instituições financeiras têm levado a categoria bancária ao adoecimento mental. Na base do Sindicato dos Bancários de Campo Grande-MS e Região, as denúncias e queixas constantes são dos trabalhadores do Bradesco que relatam sofrimento e problemas de saúde devido à pressão intensa por resultados.
O sindicato ainda está fazendo um levantamento do número de adoecidos, mas diversos bancários estão afastados para tratamento mental, inclusive com internações hospitalares.
“É uma triste e preocupante realidade que atinge nossa categoria. Nós, como sindicato, estamos levantando as informações dos trabalhadores afastados, para que possamos orientá-los e auxiliá-los. Criamos, nesta gestão, uma Secretaria de Saúde para cuidar com mais atenção desses casos”, comenta a presidenta do SEEBCG-MS, Neide Rodrigues.
A presidenta disse ainda que as informações também serão repassadas ao COE para que abra uma negociação com o banco, para cobrar providências e mudanças.
“O Bradesco é o segundo maior banco privado do país e lucra bilhões graças ao trabalho dos seus funcionários. Precisamos cobrar uma mudança de postura e de modelo de gestão. O lucro do banco não pode estar acima da saúde dos bancários”, destaca Neide Rodrigues.
O Bradesco lucrou R$ 20,7 bilhões em 2022 e R$ 8,8 bilhões somente no primeiro semestre de 2023.
Os afastamentos por doenças mentais e comportamentais dos trabalhadores dos bancos representam 24% dos casos no país, embora a categoria corresponda a 1% da força de trabalho. E nos últimos cinco anos, os afastamentos cresceram 26,2%. A situação é tão preocupante que foi tema de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, no dia 26 de outubro.
Por conta do ambiente de trabalho bancário, com altas demandas, pressão por metas e longas jornadas, mais de 40% dos trabalhadores no setor financeiro usam medicamentos controlados, segundo pesquisa realizada com a categoria.
Diante do cenário de adoecimento físico e mental dos bancários, o movimento sindical bancário também está, desde o início do ano, com a campanha “Menos Metas, Mais Saúde”, que busca sensibilizar a sociedade, mobilizar os trabalhadores e cobrar atitude das empresas e dos órgãos reguladores sobre a importância de estabelecer práticas mais saudáveis e equilibradas no ambiente de trabalho.
De 2012 a 2021, 42.138 bancários tiveram o direito ao benefício acidentário reconhecido pelo INSS por conta de doenças e acidentes relacionados ao trabalho.Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho.
O SEEBCG-MS possui um canal de denúncias que garante que o trabalhador possa denunciar, com segurança e anonimato, irregularidades, assédios, desrespeitos e demais abusos no ambiente de trabalho.
Esse canal de comunicação entre os trabalhadores e o sindicato é uma conquista da mesa de negociação do Comando Nacional dos Bancários para que as entidades recolham as denúncias, examinem e, assim, cobrem um posicionamento ou esclarecimento das instituições financeiras.
Na hora de preencher o formulário de denúncia, é preciso que o trabalhador se identifique, para que o sindicato possa dar o devido retorno, mas somente a entidade sindical conhecerá a identidade do denunciante.
“Combater as diversas formas de opressão aos trabalhadores dos bancos é parte fundamental da luta do sindicato. E, através deste canal via site, facilita e agiliza as denúncias. Sabemos que o assédio ou a pressão por metas adoece dezenas de bancários todos os anos e para que, a gente reverta essa situação, precisamos que os trabalhadores denunciem para que possamos tomar providências”, destaca a presidenta do SEEBCG-MS, Neide Rodrigues.