Durante a assembleia mundial dos acionistas do Santander, na Espanha, o movimento sindical brasileiro denunciou os abusos e desrespeitos que a filial brasileira do grupo pratica contra os trabalhadores brasileiros e a população do país, que respondem por 17% do lucro global do conglomerado espanhol. A manifestação ocorreu na presença da presidenta do banco, Ana Botín.
“Fraudes de contratação, demissões arbitrárias, ataques ao plano de pensão e aos convênios de saúde, assédio moral e sobrecarga de trabalho têm sido parte do nosso cotidiano, gerando altos índices de adoecimento entre nossos colegas e uma total ausência de solução dos conflitos através da negociação coletiva. Esta situação obriga os trabalhadores a buscar na justiça o que deveria ser resolvido de forma negocial aumentando, assim, o passivo trabalhista e comprometendo a estabilidade futura”, denunciou aos acionistas Lucimara Malaquias, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo e funcionária do Santander (leia no final deste texto a íntegra do manifesto).
A assembleia foi realizada nesta sexta-feira (22), em Boadilla Del Monte, a cerca de 30 quilômetros de Madrid. Neste mesmo dia, os bancários e sindicatos espanhóis deflagraram greve-geral no país para reivindicar reajuste salarial e a renovação do acordo coletivo de trabalho.
A presidenta mundial do Santander, Ana Botín, e demais membros do Conselho, apresentaram os lucros e resultados aos acionistas, ignorando completamente a greve realizada no lado de fora, organizada justamente pelos trabalhadores, os maiores responsáveis pelos resultados.
Nos últimos 10 anos, o resultado para o acionista do Santander subiu 7 vezes. Em 2023, foram distribuídos 5,5 bilhões de euros na forma de dividendos.
O movimento sindical espanhol também participou da assembleia e denunciou o completo silêncio do banco com o que se passa no cotidiano dos trabalhadores.
Em um palco montado para celebrar os resultados, diversas intervenções denunciaram práticas imorais, ilegais e antiéticas. “O que demonstra que a sociedade civil está mais atenta a práticas que ferem princípios éticos, a sustentabilidade, a vida e os direitos humanos”, enfatiza Lucimara.
Chamou a atenção a denúncia de representantes do Greenpeace, que cobraram ações concretas contra o desmatamento da Amazônia.
Lucimara Malaquias durante assembleia mundial de acionistas
Outro ponto da assembleia que mereceu destaque foi a participação de um acionista que cobrou medidas de combate contra a guerra e o genocídio na Palestina. Em sua fala, o acionista acusou o Santander de manter negócios com empresas que produzem armas nucleares e aviões de guerra. “O Santander tem mãos sujas de sangue”, afirmou.
Ana Botín citou o Brasil diversas vezes, ressaltando a importância do país para o grupo, e respondeu diretamente à Lucimara que em breve interlocutores do banco no Brasil buscarão o movimento sindical para dialogar sobre os problemas denunciados.
“Queremos solução, respeito e que o banco assine o acordo macro global, e demonstre seu compromisso com uma atuação socialmente responsável. Seguiremos denunciando em todos os espaços os desmandos do Santander, nossa luta é por justiça! O mundo está de olhos atentos para empresas q só se preocupam com seu lucros” afirma Lucimara.
O lucro extraordinário de 1.9 bilhões de euros no Brasil é 17%, do lucro global do banco. Esse sucesso financeiro não pode obscurecer o comportamento do Santander em relação aos brasileiros.
O Santander é um dos cinco maiores bancos que atuam em nosso país e poderia almejar uma posição ainda mais destacada se tratasse os brasileiros com o respeito e a responsabilidade social que merecem. Infelizmente, temos sido testemunhas de práticas antissindicais recorrentes, denúncias e condenações na justiça brasileira que mancham a reputação e comprometem a integridade da instituição.
Fraudes de contratação, demissões arbitrárias, ataques ao plano de pensão e aos convênios de saúde, assédio moral e sobrecarga de trabalho têm sido parte do nosso cotidiano, gerando altos índices de adoecimento entre nossos colegas e uma total ausência de solução dos conflitos através da negociação coletiva. Esta situação obriga os trabalhadores a buscar na justiça o que deveria ser resolvido de forma negocial aumentando, assim, o passivo trabalhista e comprometendo a estabilidade futura.
Nós, trabalhadores brasileiros exigimos respeito as instituições representativas, à justiça brasileira e o fortalecimento da negociação coletiva como instrumento legítimo de solução de conflitos. Conclamamos os acionistas do Santander a atuarem com responsabilidade social e práticas trabalhistas humanizadas, reconhecendo que a negociação coletiva é o principal meio de garantir um ambiente laboral justo e equilibrado, trazendo benefícios significativos para todos os envolvidos.
Chegou o momento do Santander reavaliar as prioridades e reafirmar o compromisso com valores que vão além do lucro financeiro. O verdadeiro sucesso de uma empresa não se mede apenas pelos números em seus balanços, mas pela forma como trata seus trabalhadores e contribui para o bem-estar da sociedade em que está inserida.
Juntos, podemos construir um futuro melhor para todos nós.
Muito obrigada.
Fonte: Seeb SP