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6 de Julho de 2017 às 20:51

Pela primeira vez bancárias conquistam paridade de gênero em um encontro nacional da categoria

Congressos nacionais do BB e da Caixa foram realizados com 50% de representação masculina e 50% feminina. É mais uma conquista das mulheres rumo à igualdade de oportunidades


Além da aprovação das pautas de reivindicações específicas para a Campanha 2017 e do fortalecimento da campanha em defesa dos bancos públicos, o que mais chamou a atenção nos congressos nacionais dos bancários do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, realizados em São Paulo entre 30 de junho e 2 de julho, foi a efetivação, pela primeira vez em um fórum da categoria, da paridade de gênero nas representações dos dois encontros.

“Essa é uma conquista muito importante na história das bancárias, que sempre estiveram na linha de frente das lutas das mulheres brasileiras contra as discriminações de gênero na sociedade e nos locais de trabalho, por igualdade de oportunidades e pelos direitos universais do ser humano”, destaca Cida Sousa, secretária da Mulher da Federação dos Bancários do Centro Norte (Fetec-CUT/CN).

Somente na década de 1960 as mulheres começaram a trabalhar no sistema financeiro nacional, antes um reduto exclusivamente masculino.

Hoje elas formam 49% da categoria. E apesar de serem mais escolarizadas - e dos avanços que conquistaram com luta -, ainda enfrentam preconceito dentro dos bancos.

Segundo o II Censo da Diversidade, realizado em 2014 em parceria entre o movimento sindical bancário e a Febraban, as bancárias recebiam remunerações médias equivalentes a 77,9% das remunerações médias dos homens. Parte significativa dessa diferença se deve aos obstáculos que as mulheres ainda enfrentam para a ascensão profissional.

Discriminações semelhantes as bancárias enfrentam no movimento sindical, onde ainda são franca minoria na maioria das direções das entidades sindicais. Mas também nesse campo a luta das mulheres trabalhadores avança.

O 10º Congresso da Fetec-CUT/CN, realizado em abril último em Cuiabá, decidiu que a próxima direção da Federação terá paridade de gênero e vai convocar um Encontro de Mulheres em data ainda a ser definida. A direção da CUT Nacional já possui o mesmo número de homens e mulheres na executiva e na direção nacional, conforme decisão do Congresso de 2012. Mas a Contraf-CUT, no Congresso realizado em 2015, andou na contramão, reduzindo de 40% para 30% a participação das mulheres em sua direção.

“Por isso, a paridade de gênero nos congressos dos trabalhadores e trabalhadoras do BB e da Caixa se reveste de uma importância especial, porque estabelece um paradigma que vamos lutar para ser estendido a todos os fóruns da categoria bancária”, comemora Tereza Cristina Mata Pujals, secretária de Formação do Sindicato de Brasília.

As lutas e conquistas rumo à igualdade de oportunidades

1986 – A categoria conquista o auxílio-creche, com uma greve nacional que parou mais de 500 mil bancários e foi duramente reprimida pelo governo.

1992 – Bancários(as)  iniciam o debate sobre convenção 111 da OIT que trata da igualdade de oportunidades no trabalho

1995 – CUT lança a campanha “Igualdade de oportunidades na vida, no trabalho e no movimento sindical”, que fortalece o debate que já existia na categoria. 

1996 – A então Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT, precursora da Contraf-CUT) destaca um dirigente para tratar das questões de gênero, raça e orientação sexual. A partir daí, o debate torna-se central para a categoria. Bancários(as) são pioneiros na compreensão e no enfrentamento as discriminações.

1997 –1º Encontro das Mulheres Bancárias cria a Comissão de Gênero, Raça e Orientação Sexual (CGROS).

1998 - O tema igualdade de oportunidades é incorporado à pauta de negociação sob o lema “Nunca Desista”. A Fenaban, no entanto, se recusa a reconhecer a existência de discriminação nos bancos.

1999 - A categoria bancária retoma as negociações sobre o tema.

2000 – A CNB-CUT realiza o seminário nacional “Rumo à Construção de Relações Igualitárias no Mundo do Trabalho” e, mesmo diante da recusa da Fenaban em reconhecer a existência de discriminação e em negociar cláusulas sobre o tema, os bancários o mantêm como eixo da campanha nacional naquele ano. E conquistam a seguinte cláusula na CCT: “Os Sindicatos apresentarão resultados de pesquisa sobre o tema abrindo discussão entre as partes”.

No mesmo ano, a CNB-CUT realiza a pesquisa “Os Rostos dos Bancários: mapa de gênero e raça no setor bancários”, em parceria com o Dieese. Pioneira no movimento sindical brasileiro, a pesquisa mostra a existência da discriminação de gênero e raça nos bancos, revelada nas diferenças salariais, na reduzida participação desses segmentos em cargos de direção e em oportunidades menos frequentes de ascensão profissional.

Os dados da pesquisa provocam grande desconforto entre os representantes patronais que se recusavam a admitir a existência de discriminação nos bancos. A partir daí, ocorre uma mudança da postura patronal em relação ao tema, que passou da simples negação ao reconhecimento da existência de “diversidades” no interior dos bancos – mas, não necessariamente, de discriminações.

2001 – Conquista da Mesa de Igualdade de Oportunidades.

2002 – Categoria insere na Convenção Coletiva a primeira cláusula sobre a Mesa de Igualdade de Oportunidades e seu funcionamento, com a seguinte redação:

Cláusula 52 - “As partes ajustam entre si a constituição da Comissão Bipartite que desenvolverá campanhas de conscientização e orientação a empregados, gestores e empregadores no sentido de prevenir eventuais distorções que levem a atos e posturas discriminatórias nos ambientes de trabalho e na sociedade de forma geral”.

2006 – A partir de solicitação do movimento sindical, o Ministério Público Federal denuncia existência de preconceito no sistema financeiro, forçando os bancos a aceitarem a criação de grupo de trabalho para discutir o tema envolvendo patrões, trabalhadores e entidades que combatem as discriminações na sociedade. Como resultado dessa pressão, bancos topam fazer o Censo da Diversidade.

2008 –
É realizado o Censo da Diversidade, pesquisa efetuada com a colaboração de todos os sindicatos respondida por 202 mil bancários em todo o país e confirmou a existência de discriminação contra as mulheres , negros e pessoas com deficiência nos bancos.

2009 – Fenaban divulga os resultados do Censo em audiência na Comissão de Direitos Humanos e minorias da Câmara dos Deputados. Na campanha nacional os bancários conquistam a ampliação da licença-maternidade por 120 dias (que depois se tornaria lei) e isonomia de direitos para casais homoafetivos.

2010 – Incluídas na Convenção Coletiva as diretrizes do Programa de Valorização da Diversidade que os bancos criaram a partir do Censo da Diversidade.

2011- Conquista do monitoramento trimestral por parte dos sindicatos das ações desenvolvidas pelos bancos em prol da igualdade de oportunidades. Seguindo orientação da Uni Mundial, 3º Congresso da Contraf-CUT amplia de 30% para 40% a representação de gênero na direção.

2013 – Bancários conquistam na campanha nacional a realização do II Censo da Diversidade, que pela primeira vez inclui a orientação sexual e identidade de gênero.

2014 – É realizado o II Censo da Diversidade, mostrando que, apesar de avanços pontuais, persistem as discriminações de gênero, raça e orientação sexual. Na campanha nacional, bancos assumem compromisso de fazer campanha para combater o assédio sexual. O 4º Congresso da Contraf-CUT reduz a participação de gênero na direção de 40% para 30%, retornando à situação anterior ao 3º Congresso, na contramão do que a CUT viria a aprovar em seu 12º Congresso, em 2015, a equiparação de gênero direção da central.

2016 – Conquista da licença-paternidade de 20 dias.


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