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2 de Outubro de 2017 às 07:50

'Não há democracia sem mídia plural', diz professor Venício Lima em palestra no Sindicato de Brasília


“A imprensa tem uma responsabilidade social de proteger o direito dos indivíduos”. Esse é um dos principais papéis da mídia, de acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), Venício de Lima. O docente conduziu o debate sobre “O poder da mídia”, realizado na manhã desta quinta (28), pelo Sindicato em parceria com o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF).

Segundo Venício, há tempos, a imprensa tem atuado como quarto poder. Para ele, essa atuação “trata-se de um poder informal, que opera como agente importante, mas sem ter sido eleito pelo povo. Um quarto poder que passa a ser fundamental para a fomentação da democracia, assumindo papel de fiscal os outros três poderes”.

O professor destaca que, já na década de 40, estudiosos apontavam algumas condições específicas que faziam com que a mídia se tornasse ainda mais poderosa. Entre elas, destaca-se a situação de monopólio. “Se você tiver uma única voz e nenhuma que se contraponha a essa voz existente, é quase impossível ter uma visão diferente do que é apresentado”, afirma.

O outro requisito determinante é a canalização. “É difícil alterar crenças e comportamentos que estão arraigados na sociedade, mas, aliando o discurso e crenças, fica bem mais fácil de convencer as pessoas”, aponta. Já a terceira condição está ligada à suplementação das mensagens da comunicação com contatos pessoais e trabalho de base.

Venício destaca, porém, que, nas democracias liberais, essas condições são dispensáveis, já que a mídia atua como um modelo de propaganda, sendo diretamente influenciada por outros inúmeros agentes.

“O sistema de comunicação é financiado por grandes anunciantes, que vão interferir no seu processo de produção. As fontes definidoras das notícias são as fontes oficiais. Há a existência de um inimigo externo comum, que condiciona a cobertura midiática, além de outros atores poderosos e privados. Assim, não é preciso que se tenha condições específicas para ter o funcionamento da mídia dentro da perspectiva de um consenso que priorize a pequena parcela dominante”, ressalta.

No Brasil, segundo o professor, o Estado atua como curador, pois delega à iniciativa privada, por meio de concessões, um papel que seria seu. “Naturalizou-se a exploração dos serviços de comunicação às empresas privadas. O serviço já nasceu e se consolidou com viés privatista”, aponta.

Ele menciona que, a partir das permissões concedidas, as empresas foram se transformando em oligopólios multimídias, dominados por grupos familiares, muitas vezes, encabeçados por políticos em exercício do poder. “Não há regulamentação dos princípios e normas que estão na Constituição e que poderiam alterar esse quadro. O fato de o Brasil não ter o controle da propriedade cruzada, culmina no monopólio da comunicação. Paralelo a isso, ter políticos como donos maiorais das empresas de comunicação cria uma imensurável distorção do processo democrático”, declara.

Quanto ao processo de comunicação na web, Venício aponta que “a internet e a mídia tradicional são complementares e que a maior parte dos conteúdos que circulam nas redes sociais vêm dos grandes veículos. Outro ponto importante destacado pelo professor é quanto à força de alcance da grande mídia. Segundo ele, “não dá para os pequenos veículos competirem, assim como não se pode isolar a questão da comunicação na internet como se fosse algo independente da sociedade”.

A solução, na visão do professor, estaria na união de movimentos de esquerda para o fortalecimento das mídias alternativas e combate à comunicação de massa, que manipula e atua sob interesse do poder centralizado. “Não há liberdade sem liberdade de expressão. Não há política sem comunicação. E, sobretudo, não há democracia sem mídia plural e diversa”.

Para a secretária de Formação do Sindicato, Teresa Cristina, a ideia de unir bancários e professores para um debate sobre mídia serve como impulsionador de um projeto maior de defesa da classe trabalhadora, silenciada pela grande imprensa.

“Temos a necessidade de união das categorias para que, ao sair cada um do seu quadrado, sejamos mais fortes frente aos oligopólios midiáticos. Essa foi apenas a primeira oportunidade de debater o assunto em conjunto”, destacou a diretora, que é bancária do BB.

No período da tarde, teve exibição e debate do filme “Um sonho americano” e debate sobre defesa dos bancos públicos.

 

Seeb Brasília com CUT Brasília


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