Em contraste com o silêncio dos banqueiros, que em duas rodadas de negociação na semana passada não avançaram nenhum milímetro na proposta rebaixada de 7% de reajuste (2,9 pontos percentuais abaixo da inflação) com abono, a greve nacional dos bancários não para de crescer, superando o recorde de paralisação da última sexta-feira.
Decretada no dia 6 de setembro, a paralisação entrou na terceira semana nesta segunda-feira 19 fechando 13.071 agências em todo o país, contra os 12.779 unidades da sexta-feira 16. Nas 12 bases sindicais da Federação Centro Norte (Fetec-CUT/CN), os bancários pararam 1.874 unidades, aumento de 2,46% em relação às 1.829 agências paralisadas na sexta.
Portanto, a greve nacional de 2016 já superou a paralisação do ano passado, que em seu 14º dia fechou 12.496 unidades. A greve também é recorde no Centro Norte, onde no ano passado foram fechadas na mesma data 1.384 agências.
“Mais uma vez a categoria bancária dão uma grande demonstração de sua capacidade de mobilização e de unidade nacional e dão um recado claro aos banqueiros de que não aceitam sua estratégia de reajuste abaixo da inflação em troca de abono e exigem aumento real de salário, assim como avanços nas reivindicações sobre emprego, saúde e condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades”, afirma José Avelino, presidente da Fetec-CUT/CN e integrante do Comando Nacional dos Bancários.
> Veja aqui as imagens do 14º dia da greve nas bases da Fetec-CUT CN.
Por que esta é a maior greve
Os bancários conquistaram em 1992, com grandes mobilizações e greves, a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que garante os mesmos salários e os mesmos direitos para todos os trabalhadores do sistema financeiro nacional, de bancos públicos e privados, em todas as regiões do país.
As conquistas que vinham sendo acumuladas desde a redemocratização do Brasil, em meados da década de 1980, passaram a correr sérios riscos durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, quando foram implementadas políticas econômicas neoliberais, coincidindo com uma reestruturação produtiva do sistema financeiro, que reduziu a categoria bancária a menos da metade (de aproximadamente 900 mil em 1990 a 400 mil em 2002) e ampliou as terceirizações.
Durante todo esse período, os bancários e suas entidades sindicais travaram uma verdadeira guerra de resistência para não perder direitos. Os reajustes salariais nos bancos privados contemplavam no máximo a inflação, ficando muitas vezes abaixo. E nos bancos públicos federais, além de uma grande redução do número de bancários, foram oito anos de reajuste salarial praticamente zero – e sem PLR. Nesse cenário desfavorável, não houve greve da categoria no período.
“É essa política de redução de salários e de direitos dos bancários que os bancos estão querendo ressuscitar na campanha nacional deste ano, o que já tentaram no passado mas foram dissuadidos pela força da greve da categoria”, critica José Avelino.
Os bancários voltaram a fazer grandes mobilizações a partir de 2003, com a posse do primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Desde 2004, com greves cada vez maiores, todos os anos a categoria conquistou aumentos reais de salários e outros avanços sociais e políticos. Nesses últimos 11 anos, os bancários tiveram 20,7% de ganho real no salário e 42,1% no piso salarial, além de conquistas no campo da saúde e das condições de trabalho (inclusive no combate ao assédio moral), da segurança e da igualdade de oportunidades.
O maior índice de adesão dos bancários a uma greve, nesse período, havia sido até agora em 2015, quando a categoria fez uma paralisação de 27 dias, fechando 12.496 agências no último dia e conquistando aumento real sobre os salários, demais verbas e o piso salarial. Nesta segunda-feira 19, os bancários já ultrapassaram esse recorde de paralisação do ano passado.
O 14º dia da greve na base da Fetec Centro Norte (Veja quadro ao lado)
Fonte: Fetec-CUT/CN