RBA
Gabriel Valery
São Paulo – A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou alerta nesta terça-feira (23) de que a “quarta onda” da covid-19 que afeta a Europa deve ser uma tendência global. “O mundo, na verdade, está entrando em uma quarta onda, mas as regiões tiveram comportamento diferente em relação à pandemia“, disse a diretora-geral adjunta de acesso a medicamentos da entidade, Mariângela Simão. A especialista ainda reforçou a preocupação com grandes aglomerações, em especial com o carnaval no início de 2022.
“Me preocupa bastante quando vejo no Brasil a discussão sobre o carnaval. É uma condição extremamente propícia para o aumento da transmissão comunitária. Precisamos planejar as ações para 2022”, declarou Mariângela. Ela teme uma disseminação descontrolada do vírus. Mesmo com a melhora no quadro geral da pandemia no Brasil após o avanço da vacinação, a transmissão segue forte e de forma comunitária. Existem riscos de novas variantes mais agressivas surgirem com a ampliação da transmissão, mesmo com maioria dos brasileiros vacinados.
Na Europa, países com taxas de vacinação superiores às do Brasil, como a Alemanha, o cenário atual é o pior desde o início da pandemia. No geral, o velho continente passa por uma “pandemia de não vacinados“, já que as mortes estão concentradas majoritariamente entre os negacionistas que rejeitaram as vacinas. Entretanto, não existe vacina 100% eficaz contra nenhuma doença. Como o vírus tem potencial, ainda que reduzido, de ser transmitido entre vacinados, menos mortes ainda serão muitas em um cenário de descontrole generalizado.
Em outubro, a Europa registrou 4,2 mil mortes diárias em média, mais que o dobro do notificado em setembro. Em novembro, a situação deve ser ainda pior. O cenário divulgado pela entidade é “dramático”, como já havia dito a chanceler alemã, Angela Merkel. De acordo com previsões da OMS, 700 mil pessoas podem morrer no continente até março, caso medidas fortes não sejam adotadas. Hoje, a Europa tem 1,5 milhão de mortos.
Durante as ondas anteriores de impacto, países europeus sempre anteciparam em alguns meses o que foi observado no Brasil. A Itália viu o sistema de Saúde colapsar em março de 2020. No Brasil, esta primeira onda atingiu seu pico em julho. Já na segunda onda, a mais letal, países como Espanha e Inglaterra perceberam picos já na virada do ano, enquanto o Brasil sucumbiu de forma agressiva entre março e abril.
“A ressurgência de casos na Europa após a flexibilização das medidas sociais e de saúde pública é uma realidade inescapável. Só a vacinação não basta; com certeza diminui hospitalizações e mortes pelo Sars-Cov2, mas não diminui a transmissão a ponto de eliminar a circulação do vírus”, acrescentou Mariângela.
Logo, a OMS emitiu também hoje uma nota reforçando boas práticas enquanto a pandemia não seja superada. “Limpeza regular das mãos, distanciamento físico, uso de máscara, e a boa ventilação de ambientes provou ser eficaz para prevenir a transmissão do vírus”. Além das vacinas que, comprovadamente, já salvaram centenas de milhares de vidas, as máscaras também seguem a mesma lógica. “A máscara é capaz de reduzir em mais da metade a incidência do coronavírus. Assim, se 95% da população aderir, a estimativa é que mais de 160 mil mortes poderiam ser evitadas até março do próximo ano”, informa a entidade.
Em situação mais tranquila, mas ainda instável, o Brasil registrou nas últimas 24 horas 284 vítimas do vírus. Com o acréscimo, o país superou a marca de 613 mil mortes desde o início do surto, em março de 2020. Também foram registrados 10.312 novos casos, totalizando 22.030.182, sem contar a ampla subnotificação. A média diária de mortes está em 227, e de casos em 9.214. Estão vacinados com a primeira dose quase 81% dos brasileiros e com duas, 63%. Mas as aglomerações de carnaval estão aí, as de rua e as nas passarelas.