RBA
Tiago Pereira
São Paulo – Apesar da tentativa de Jair Bolsonaro de atrapalhar a vacinação infantil, a maioria das famílias brasileiras pretendem sim proteger suas crianças e adolescentes. Mais de 80% dos pais e responsáveis querem vacinar os filhos contra a covid-19, de acordo com estudo VacinaKids. Elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o levantamento foi divulgado nesta segunda-feira (17). O objetivo da pesquisa é compreender o posicionamento à respeito da vacinação infantil. Além das motivações que permeiam essa decisão.
Por outro lado, os dados apontam que 16,4% das famílias com crianças de zero a quatro anos ainda hesitam em vaciná-los. Esse sentimento é menor (12,8%) para a faixa etária entre 5 e 11. E volta a subir (14,9%) para os pais de adolescentes a partir de 12 anos.
Para o levantamento, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) consultou 15.297 pessoas de todo o Brasil. Eles responderam a um questionário virtual entre os dias 17 de novembro e 14 de dezembro.
“Trazer a vacinação desse grupo é uma oportunidade para conter o vírus”, afirmou a pediatra e pesquisadora Daniella Moore. Coordenadora do estudo, ela destaca que a vacinação das crianças aumenta a segurança do retorno escolar presencial. Além disso, fortalece a imunidade coletiva da população. “E, o mais importante, protege as crianças e adolescentes.”
“Alguns pais subestimam a gravidade da doença em crianças. No entanto, apesar da Covid-19 ser considerada menos grave em crianças quando comparada a adultos, elas ainda assim ficam doentes, podem ficar graves e ter evoluções desfavoráveis”, alerta Daniella.
A vacinação infantil torna-se ainda mais essencial nesse momento, diante do avanço da ômicron, muito mais transmissível. Também nesta segunda, doze estados iniciaram a campanha de imunização para crianças de 5 a 11 anos. Outras regiões já haviam iniciado ainda durante o final de semana.
Os pais que resistem citam o medo de eventuais reações adversas causadas pela vacina. Também acreditam que os imunizantes são mais eficazes para adultos do que para crianças. E que seria necessário mais tempo para que fossem considerados seguros. Além disso, ainda há aqueles que discordam da gravidade da pandemia e os que acham que quem teve covid-19 não precisa vacinar. Há até mesmo quem aposte em “produtos naturais” para aumentar a imunidade dos pequenos.
Para esclarecer essas crenças infundadas, Daniella explica que a vacina infantil é segura e eficaz. Além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o imunizante da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos recebeu o aval de órgãos reguladores dos Estados Unidos, do Reino Unido e da União Europeia, por exemplo.
Nesse sentido, somente no ano passado, os Estados Unidos aplicaram 8,7 milhões de doses do imunizante infantil. Desse total, as autoridades registraram efeitos adversos em apenas 0,049% dos casos. Ainda assim, a grande maioria (97,6%) foi de reações leves a moderadas, como dor no local da injeção, fadiga ou dor de cabeça.
No estudo VacinaKids, alguns pais reportaram medo da ocorrência de miocardite, como efeito colateral da vacina. A doença é uma inflamação do músculo cardíaco. No entanto, entre as crianças estadunidenses, foram observados apenas 11 casos dessa doença. E “todos com evolução favorável”, e sem um único registro de óbito, destaca Daniella. Além disso, ela também ressalta que a miocardite é uma das manifestações da covid-19 na infância. Portanto, mais do que o risco, a vacinação infantil, na verdade, protege também contra a ocorrência dessa anomalia no coração.
Com o avanço da ômicron, o Brasil teve registradas hoje 74.134 novas infecções em 24 horas. Assim, a média móvel de diagnósticos chegou a 73.728 a cada um dos últimos sete dias. É o maior índice desde o pico registrado em 24 de junho. Naquele momento, a média móvel alcançou os 77.328 casos. Os dados são fornecidos pelo boletim diário do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
No mesmo período, 121 pessoas morreram pela covid-19, de acordo com os registros. Como resultado, são oficialmente 621.166 vítimas da doença, desde o início da pandemia, em março de 2020. Contudo, no último mês, os números não são precisos, em função do “apagão” de dados do Ministério da Saúde.