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26 de Maio de 2021 às 08:56

Do luto à luta: Bancários e bancárias saem em carreata por Vacina Já


Em meio ao luto pela perda de pelo menos, 43 bancários e bancárias, vítimas da covid-19 no Pará, a categoria saiu às ruas da capital paraense, no último domingo (23), para pedir a inclusão de um dos grupos que faz parte da lista de atividades essenciais conforme Decreto Presidencial nº 10.282, de 20 de março de 2020, em outra listagem, o de prioridade na vacina contra o coronavírus.

“Se somos essenciais em toda essa pandemia, trabalhando inclusive durante todos os períodos de lockdown, por que fomos esquecidos no Plano Nacional, Paraense e Municipal de Imunização, quando nossa taxa de contaminação chega a ser 5 vezes maior que a média de infecção de toda a população do Pará em alguns bancos? O nosso pedido não foi feito de forma aleatória, com base somente na nossa essencialidade, temos dados que comprovam o quanto nosso apelo é justo, necessário e imprescindível para proteger a vida não só da categoria, mas também de seus familiares, clientes e usuários, pois uma vez bancários e bancárias imunizados, cria-se uma barreira de transmissão, segundo especialistas. Todo esse levantamento já está com a Sespa”, explica a presidenta do Sindicato e bancária da Caixa, Tatiana Oliveira.

De acordo com a epidemiologista Maria Juliana Moura Corrêa, pesquisadora associada à Fiocruz na área de Saúde do Trabalhador, justamente por causa do pagamento do auxilio emergencial e outros benefícios sociais, que necessitam de atendimento presencial nas agências, os bancários e bancárias ficam mais expostos à contaminação da doença e deveriam ser prioridade na vacinação.

“Os empregados da Caixa e demais trabalhadores considerados essenciais deveriam ser a população prioritária para a vacinação, inclusive para ser grupo alvo de barreiras sanitárias, em territórios produtivos e reduzir a transmissibilidade”, destaca. “Porque foi esse grupo que ficou impedido de realizar distanciamento social e que se expõe diariamente de diversas formas durante o trabalho, diferente de outros grupos de riscos que podem adotar o distanciamento social e demais medidas de proteção”, afirma Maria Juliana, que também é uma das coordenadoras do projeto Rede de Informações e Comunicação sobre Exposição de Trabalhadores ao SARS-CoV-2, da Fiocruz.

Taxa de contaminação na categoria é maior que a média estadual

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), até o último dia 20, o Pará possuía 506.810 casos confirmados de Covid-19 e uma população de 8.702.353 habitantes em todo o estado. Com base nesses números, a taxa de contaminação oficial no Pará é de 5,82%. Já entre a categoria bancária, de acordo com os dados obtidos junto aos bancos, a mesma taxa é muito superior à média estadual, chegando a 28,68% em um banco privado e 25,27% em uma instituição pública.

“O Banpará é um dos bancos públicos com maior número de casos. E assim como a Caixa, o Banpará é outro banco responsável pelos pagamentos dos auxílios emergenciais locais, como o Renda Pará, Fundo Esperança, Incentiva Mais Pará e Bora Belém. O Banco do Estado do Pará é também o banco que está presente em quase todos os municípios paraenses, de 60 cidades que têm uma única agência ou posto de atendimento, o Banpará atua sozinho em 41. Mais do que números, as vidas que se foram deixaram famílias desoladas e colegas enlutados; e para que não choremos mais mortes dos nossos, a vacina, e logo, é a única forma eficaz de impedir que isso aconteça”, defende a vice-presidenta do Sindicato e bancária do Banpará, Vera Paoloni.

Do luto à luta

“Hoje faz uma semana que perdemos um colega muito querido. Diferente dele que trabalhava com atendimento ao público, eu trabalho na área meio, mas de forma presencial todos os dias e assim como todos os colegas, da área meio ou de agência, corremos risco diário de infecção ou reinfecção. Eu não tive covid-19, mas o medo de me contaminar me acompanha todos os dias. Nossa categoria ser incluída como prioridade na imunização é sinônimo de poder continuar trabalhando de forma ainda mais segura pra mim, meus colegas e principalmente protegendo minha família e por isso vim hoje pra carreata, porque a luta do Sindicato pela nossa inclusão na prioridade é uma luta nossa, de toda uma categoria. O Sindicato atua como nosso representante, mas os principais beneficiados e interessados somos nós, e para que nosso apelo tenha mais força acho importante nossa participação em manifestações como essa, que podemos manter o distanciamento e estar seguros dentro do carro”, comenta a bancária Ádria Reis.

Com a pandemia, até as manifestações tiveram que ser reinventadas, e as caminhadas deram lugar às carreatas, uma forma segura de ir às ruas protestar de forma pacífica e principalmente sem aglomeração, uma das medidas de prevenção à covid-19, segundo a Organização Mundial da Saúde, além do uso de máscaras e álcool em gel.

E foi exatamente assim que o Sindicato realizou a Carreata Bancária por Vacina Já em Belém, diferente do presidente da República, que durante passeio de moto no Rio de Janeiro, acompanhado de políticos e apoiadores, não usaram máscaras, causaram aglomeração e ainda cometeram irregularidades previstas no Código de Trânsito, como o uso de capacete incorreto, placas de moto escondidas, falta do uso de cinto de segurança, corpo para fora do carro, segundo levantamento do G1.

Essenciais na pandemia

Só o funcionalismo da Caixa atendeu cerca de 140.000 pessoas em busca do auxílio emergencial somente nos seis primeiros dias de maio, quando iniciou a modalidade de pagamento presencial do benefício. Além da modalidade presencial, o auxilio emergencial também é pago de forma digital, opção disponível no mês anterior e que levou 61.000 pessoas às agências.

“Percebemos que o número de atendimento dobrou, pois a opção digital ainda não é acessível para muitos beneficiários por conta da própria realidade socioeconômica que o impossibilitam de ter acesso aos equipamentos eletrônicos; até o conhecimento para a utilização de recursos tecnológicos não é comum a toda a população; eis aí mais uma prova do quanto continuamos sendo essenciais nessa pandemia, mas correndo risco diário de infecção ou reinfecção devido à elevada demanda por atendimento presencial nas agências, por isso reafirmamos nosso pedido por vacina já para a categoria, para que nossos colegas possam continuar trabalhando protegidos”, argumenta Tatiana Oliveira.

Dados da Fundação Getúlio Vargas mostram que, entre os mais pobres em todo o país, 40% não acessam a internet.

Ainda sobre a relevância socioeconômica do pagamento do auxílio emergencial, somente a primeira etapa do benefício, paga em 2020, representou 6,5% do PIB do estado do Pará. Em muitos municípios, os valores pagos pela Caixa somente com o auxílio emergencial ultrapassaram em 20% a arrecadação da administração municipal, de acordo com dados da instituição financeira.

“O papel dos bancos públicos é de extrema importância nesse contexto social e econômico da pandemia, somos nós bancários que fazemos esse pagamento chegar de fato a essas famílias que tanto precisam, quando elas não conseguem acessar os meios digitais. Incluir nossa categoria como prioridade na vacina, é garantir não somente a nossa proteção, mas de nossos todos aqueles que têm contato com a gente, como os clientes e usuários, e principalmente nossos colegas e familiares”, defende o bancário Jânio Corrêa, que participou da carreata.

 

Fonte: Bancários PA com Agência Pará e portal de notícias G1


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