RBA
Gabriel Valery
São Paulo – O Brasil registrou 1.893 mortos pela covid-19 nas últimas 24 horas e chegou, assim, a 515.985 óbitos desde o início da pandemia. Foram ainda registrados 64.903 novos casos de covid-19 de ontem para hoje (29). Com isso, desconsiderada a subnotificação em razão da má gestão da pandemia em âmbito federal, 18.513.305 contaminados foram confirmados desde fevereiro de 2020. Como resultado da intensidade da pandemia entre os brasileros, um estudo da revista Nature constatou redução na expectativa de vida dos brasileiros.
No cenário mundial, o Brasil é o segundo país com maior número de mortes, atrás apenas dos Estados Unidos, sendo o primeiro considerados os óbitos registrados em 2021. Isso ocorre porque os norte-americanos avançaram rapidamente com a vacinação, enquanto o Brasil sofre a lentidão no processo. O governo do presidente Jair Bolsonaro, desde o início da pandemia, promoveu e estimulou aglomerações, divulgou mentiras e combateu o uso de máscaras. Como agravante, não atuou para garantir vacinas de forma ágil e, ao contrário, chegou a dizer que não as compraria. Em uma das negociações de compra, da indiana Covaxin, sob investigação na CPI da Covid, o governo ainda é suspeito de superfaturamento.
Mesmo com um presidente contrário à ciência, a vacinação avança no país graças aos esforços de estados e municípios e a centros de pesquisa como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan. Além disso, Legislativo e Judiciário atuaram, e também movimentos organizados da sociedade pressionaram. O resultado começa a aparecer com o recuo nas mortes e internações entre os grupos que já receberam vacinas. Com isso, a pandemia torna-se uma ameaça maior aos mais jovens, expostos ao vírus em cidades que não adotam medidas de distanciamento social eficazes e últimos na fila da vacinação.
Estudo publicado na revista científica Nature aponta que a expectativa de vida no Brasil foi reduzida, em média, em 1 ano 4 meses durante a pandemia. O Brasil tem uma taxa de mortalidade 4,4 vezes superior à média global dos óbitos por covid-19 em relação ao número de infectados. A queda na expectativa de vida passa de 3 anos em estados mais afetados, como o Amazonas. O estudo é assinado por pesquisadores das universidades de Harvard, Princeton e Califórnia (Ucla), em parceria com o Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Baseados no total de mortes reportadas no Brasil em 2019 e 2020, os pesquisadores calcularam as diferenças por períodos nas expectativas de vida por estado e sexo. A queda é maior entre os homens – pouco mais de 18 meses, do que entre mulheres (quase 1 ano). “O maior declínio absoluto acontece no Amazonas, com 3,46 anos de redução, seguido do Amapá, com 1,38, e Pará, 2,71. Todos na região Norte”, afirma o estudo.
O biólogo e divulgador científico Atila Iamarino lamenta que são “décadas de regresso” no indicador, que afeta, inclusive, a média de desenvolvimento do país. Ele lamenta que a piora no indicador deve seguir em 2021, ano que se mostra ainda mais letal para os brasileiros. “As mortes por covid-19 em 2020 reduziram a longevidade dos brasileiros em 1,3 anos. Passou de três em alguns estados. E 2021 já superou essa marca e será ainda pior”.
Atila ainda argumenta que, com a covid-19 fora de controle e matando mais jovens, o cenário pode piorar. “Como continuamos sem fechar, com casos e mortes lá em cima, se segurando na imunização dos mais velhos e mais vulneráveis, as mortes continuam acontecendo entre os mais jovens. Essa redução de expectativa de vida vai ser ainda mais brutal. Sem falar nas sequelas”.
A RBA utiliza informações do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Eventualmente, elas podem divergir do informado pelo consórcio da imprensa comercial. Isso em função do horário em que os dados são repassados pelos estados. As divergências, para mais ou para menos, são sempre ajustadas após a atualização dos dados.