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26 de Junho de 2021 às 08:00

Com ministro, CUT lança campanha de solidariedade aos trabalhadores venezuelanos


CUT Nacional
Vanilda Oliveira

A CUT lança na próxima terça-feira (29), às 16h, campanha de solidariedade aos trabalhadores venezuelanos. Como parte do lançamento, haverá uma live com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, e o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre.

A live será transmitida simultaneamente pela TVT e redes sociais da CUT, Brasil 247, Opera Mundi, GGN, Brasil de Fato, Revista Fórum, Barão de Itararé e Carta Capital, que apoiam a campanha. O chanceler responderá a perguntas feitas por jornalistas dessas mídias.

O objetivo da campanha é arrecadar fundos para a compra e doação de peças de manutenção à usina de oxigênio hospitalar da Venezuela, que enfrenta, desde 2015, bloqueios e sanções econômicas que a impedem de negociar e comprar insumos no mercado externo.

Apesar do bloqueio que levou à queda de 60% do PIB, o governo venezuelano doou oxigênio hospitalar a Manaus, em janeiro deste ano, durante o colapso no sistema de saúde na capital amazonense. O governo brasileiro nunca agradeceu o gesto de solidariedade da Venezuela, que evitou que muitos brasileiros morressem asfixiados após contrair o novo coronavírus e ser internado com Covid-19.

O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, afirma que a Central sempre teve relação solidária com os sindicatos venezuelanos. “É importante retribuir a solidariedade dos trabalhadores da Venezuela”, afirma o dirigente, ao destacar que os problemas da classe trabalhadora são parecidos em boa parte do mundo, principalmente na América Latina, portanto, a luta tem de ser globalizada.

“A CUT tem tomado iniciativas para ampliar a aproximação com o movimento sindical da América Latina, diante do distanciamento que o Brasil impõe a maioria dos países da Região, incluindo o sindicalismo e demais movimentos progressistas. A luta sindical e popular, cada vez mais globalizada, exige ainda mais unidade e integração internacional”, afirma o presidente nacional da CUT.

“É momento de retribuir a solidariedade, pois a diplomacia que nos interessa é a diplomacia da classe trabalhadora”. diz Sérgio Nobre.

Descaso diplomático

Em janeiro, a Venezuela enviou 130 mil litros de oxigênio ao Brasil, transportados por oito caminhões próprios, frota que também sofre com a falta de peças de reposição e manutenção por força do embargo. O país governado por Nicolás Maduro reuniu 107 médicos venezuelanos e brasileiros, formados pela Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, em Caracas, para auxiliar na linha de frente do combate à pandemia de Coronavírus na região amazônica.

Nada disso mereceu agradecimento do Brasil. O descaso do governo brasileiro com o ato de solidariedade da Venezuela chegou até a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, a CPI da Covid, quando o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado sobre as razões de não ter enviado, pelo menos, aviões brasileiros para buscar o oxigênio em território venezuelano. Nada disse. Outro ex-ministro, Ernesto Araújo (Relações Exteriores) confirmou à mesma CPI não ter agradecido à Venezuela pela doação do oxigênio hospitalar.

Sobre bloqueio e sanções

A Venezuela, uma nação com 28 milhões de habitantes e tamanho similar ao do Estado do Mato Grosso, tem a maior reserva petrolífera do mundo. Segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a nação é responsável por 24,9% da reserva de países membros (que representam 82% do total global), seguido por Arábia Saudita (21,9%) e Irã (12,8%). São 303,2 bilhões de barris de reserva, o que facilita entender a cobiça internacional traduzida em embargos e sanções econômicos.

No total, a Venezuela, que importa 70% do que consome, enfrenta mais de 150 sanções.  Sessenta e duas delas por parte dos EUA; nove da União Europeia; cinco do Canadá e outras cinco do Reino Unido. Desde 2015.

As sanções reduziram a produção de petróleo venezuelano em 60%, porque o país depende de peças e componentes tecnológicos importados de outras nações para a produção e o refino do óleo.

O prejuízo dos venezuelanos por conta do embargo econômico é de US$ 30 bilhões por ano, segundo o governo, impondo sofrimento e desabastecimento à classe trabalhadora e a todo povo da Venezuela.

Em 26 de março deste ano, a Venezuela protocolou denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os EUA pelo bloqueio econômico, conforme anunciou o ministro Arreaza nas suas redes sociais, à época. No documento o chanceler denuncia e confirma que o embargo gera prejuízo anual de US$ 30 bilhões e levou o PIB a queda de 60%. A Venezuela também já apresentou denúncia contra Washington na Corte Penal Internacional, na qual sustenta que o bloqueio é crime de lesa-humanidade.

O país ainda enfrenta sanções do sistema que faz a mediação das transações entre bancos em todo o mundo, causando retenções bancárias, o que impacta diretamente no dia a dia da população.

Entre 2020 e janeiro de 2021, 28 empresas das áreas de tecnologia, transporte e petrolífera foram sancionadas pelo Departamento do Tesouro dos EUA por fazer negócios com entidades e organizações venezuelanas.

O direito de ir e vir também foi afetado pelo bloqueio: o presidente Nicolás Maduro e dezenas de assessores da presidência da República e dos poderes Legislativo e Judiciário estão impedidos de viajar aos Estados Unidos, enquanto a Casa Branca segue reconhecendo o ex-deputado Juan Guaidó como autoridade legítima venezuelana. Faz pior: confere a ele o direito de gerenciar a Citgo Petroleum, filial da estatal petroleira PDVSA nos Estados Unidos, considerada o maior bem público venezuelano no exterior.

Sobre o chanceler Arreaza

Excelência, a região da América Latina e do Caribe está passando por uma perigosa encruzilhada, tornando-se o epicentro global do crescimento da pandemia. Não há espaços ou desculpas para atrasar nossa responsabilidade histórica de enfrentar e reverter os terríveis efeitos deste vírus. É urgente uma ação coordenada entre nossos países, que compartilham uma extensa fronteira comum, bem como uma longa tradição de laços familiares, culturais, sociais e econômicos, especialmente nas vastas áreas limítrofes (…) Ministro, o Covid-19 não distingue ideologias ou tendências políticas (…) O mundo deve se unir para enfrentá-lo”.

 “Procuremos a fórmula para ultrapassar as nossas diferenças particulares, dando lugar a uma nova dinâmica de relações bilaterais integrais, para o bem comum dos nossos povos. É nosso dever e nossa responsabilidade para com as gerações presentes e futuras.”

Os trechos acima estão na carta escrita por Arreaza ao então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, em 7 de agosto de 2020, e dizem muito sobre o chanceler venezuelano, nascido em 1973, em Caracas. Desde 2017, ele é ministro das Relações Exteriores.

Antes, Arreaza foi vice-presidente da Venezuela, entre 2013 a 2016, ministro da Ciência e Tecnologia de 2011 a 2013 e presidente da Fundación Gran Mariscal de Ayacucho de 2005 a dezembro de 2009. Desde 2007, é casado com Rosa Virginia, filha mais velha do presidente Hugo Chavez (1954 – 2013). 

Arreaza graduou-se em Estudos Internacionais pela Universidade Central da Venezuela. Com bolsa da Fundação Gran Mariscal de Ayacucho se tornou mestre em Estudos de Política Europeia em Universidade de Cambridge , Inglaterra. Na UCV, também trabalhou como jornalista e professor, locutor e entrevistador em vários canais de televisão pública na Venezuela, e como apresentador do programa de televisão Diálogo Aberto, na Venezolana de Televisión.

Presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, fala da campanha às base sindicais, assista:

 


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