RBA
Gabriel Valery
São Paulo – A quarta-feira (14) foi mais um dia em que o Brasil teve número elevado de mortos pela covid-19 em um período de 24 horas, com 3.459 óbitos oficialmente notificados, totalizando 361.884 vítimas desde o início da pandemia, em março de 2020. Também foram notificados pelos estados 73.513 infecções pelo novo coronavírus. Os dados não levam em conta a ampla subnotificação. Mesmo assim, o país soma 13.673.507 doentes em pouco mais de um ano de pandemia. De acordo com análise de dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o surto deve permanecer descontrolado durante todo o mês de abril.
A RBA utiliza informações fornecidas pelas secretarias estaduais, por meio do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Connas). Eventualmente, elas podem divergir do informado pelo consórcio da imprensa comercial. Isso em função do horário em que os dados são repassados pelos estados aos veículos. As divergências, para mais ou para menos, são sempre ajustadas após a atualização dos dados.
O Brasil é o segundo do mundo em número de mortes por covid, atrás apenas dos Estados Unidos (564 mil vítimas) e terceiro em infectados, atrás dos norte-americanos (31,4 milhões de casos) e da Índia (13,8 milhões). Também é o país com maior taxa de mortalidade, entre os três em pior situação, o que revela ausência de políticas de controle da pandemia, em especial a baixa quantidade de testes realizados.
Além de apontar que a pandemia de covid seguirá descontrolada em abril, a Fiocruz também afirma que muitos estados do Brasil seguirão com sistemas de saúde em colapso. Isso por falta de leitos de UTI disponíveis, em razão da alta demanda de pacientes. Alguns estados vem registrando redução nos números do colapso, o que pode significar um movimento de arrefecimento da pandemia, como observado entre agosto e novembro de 2020. Entretanto, ainda de acordo com a Fiocruz, a redução de casos e mortes não deve ser tão significativa como naquele período.
“A alta proporção de testes com resultados positivos revela que, durante esse período, o vírus permanece em circulação intensa em todo o país. Segundo os pesquisadores do Observatório (Covid-19, também da Fiocruz), o quadro epidemiológico observado pode representar a desaceleração da pandemia, com a formação de um novo patamar, como o ocorrido em meados de 2020, porém com números muito mais elevados de casos graves e óbitos”, afirma boletim extraordinário da entidade, publicado hoje.
Das 27 unidades da federação, apenas quatro estão com o sistema hospitalar em situação fora de colapso: Amazonas, Maranhão, Paraíba e Roraima. Este último com a situação mais confortável. Porém, a Fiocruz alerta que os dados seguem alarmantes. “Outro indicador estratégico, a taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) se manteve predominantemente estável e muito elevada”, afirma.
A entidade aponta para alguns destaques positivos, como São Paulo, que observa queda nos índices diários de internações após a intensificação de medidas de isolamento social. “Destacam-se a saída do Maranhão (78%) da zona de alerta crítico para a zona de alerta intermediário e quedas significativas do indicador no Pará (87% para 82%), Amapá (de 91% para 84%), Tocantins (de 95% para 90%), Paraíba (de 77% para 70%) e São Paulo (de 91% para 86%).”
Os resultados positivos antecedem uma redução no número de vítimas, já que as mortes evidenciam cenário de contágio de, ao menos, duas semanas atrás. Isso acontece em razão do tempo que a covid-19 leva para se manifestar e debilitar pacientes mais graves. “Ainda não tiveram impacto sobre o número de óbitos e no alívio das demandas hospitalares”, alertam os pesquisadores.
A Fiocruz reforça a necessidade de medidas de isolamento social para desafogar hospitais e reduzir o número elevado de mortes diárias. Eles reafirmam casos de sucesso, como o registrado na cidade de Araraquara, onde o prefeito Edinho Silva (PT) adotou medidas severas de lockdown e levou a cidade para patamares confortáveis de controle do surto. “As medidas de restrição de mobilidade e de algumas atividades econômicas, adotadas nas últimas semanas por diversas prefeituras e estados, estão produzindo êxitos localizados e podem resultar na redução dos casos graves da doença nas próximas semanas.”
Por fim, a entidade pede que sejam mantidas por um período mais longo medidas rígidas e, se possível, ainda mais intensas em locais problemáticos. “As medidas de restrição de mobilidade e de algumas atividades econômicas, adotadas nas últimas semanas por diversas prefeituras e estados, estão produzindo êxitos localizados e podem resultar na redução dos casos graves da doença nas próximas semanas. No entanto ainda não tiveram impacto sobre o número de óbitos e no alívio das demandas hospitalares”, alertam os pesquisadores. “A flexibilização de medidas restritivas pode ter como consequência a aceleração do ritmo de transmissão e, portanto, de casos graves de Covid-19 nas próximas semanas.”