Notícias

home » notícias

30 de Agosto de 2015 às 23:00

31/08/2015 - Assédio Moral: SEEB/Brasília se mobiliza no combate a essa praga


Brasília - Não há nada de positivo numa gestão que pratica assédio moral e que enfraquece a coletividade. Essa é a conclusão a que chegaram os participantes do seminário ‘Combate ao Assédio Moral’, realizado pelo Sindicato, nesta quinta-feira (27), no Teatro dos Bancários.

Mais que isso, os integrantes da mesa destacaram como vilão o novo modo de gestão das relações de trabalho, incluindo diminuição salarial, jornadas intensas e extenuantes, pressão para cumprimento de metas e humilhações frequentes, além da precarização do trabalho advinda da terceirização.

Compuseram a mesa de debate Luciana Veloso, auditora fiscal do trabalho da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE); Ana Magnólia, professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), e o desembargador Grijalbo Coutinho, um dos críticos mais contundentes da terceirização no Brasil.

O presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, que conduziu os trabalhos, definiu o seminário como um dos muitos instrumentos que serão usados pela entidade para combater este mal que tem adoecido bancárias e bancários. “Além de compor a campanha deste ano, o assunto estará em discussão continuará em pauta permanentemente. Outras etapas virão, com desdobramentos não só junto aos bancos, mas no legislativo e no judiciário.”

Diretor da Contraf-CUT, Miguel Pereira parabenizou o Sindicato pela iniciativa e por ter topado essa briga. “Esse enfrentamento ao assédio moral já vem de algum tempo. O fundamental não é domesticar o problema. Temos que enfrentar para acabar de vez com este problema que está ligado à forma de organização do trabalho bancário vinculado à conquista de metas abusivas e que o trabalhador não tem a menor ingerência em momento algum.”

Enfraquecimento da coletividade

A professora Ana Magnólia, responsável por mapear os indicadores de adoecimento da categoria bancária que deram origem à cartilha ‘100% não é mais o limite’, publicada em abril deste ano, levantou questões práticas para serem desenvolvidas em parceria com o Sindicato.

Segundo as perspectivas da professora, a crise do capital vai se perpetuar e as patologias tenderão a se intensificar. “Estamos num contexto desfavorável que contribui muito para agravar o sofrimento no trabalho. Além disso, ainda há a vivência do sofrimento em função do enfraquecimento do coletivo e do perverso modelo de gestão da atualidade.”

Ana Magnólia propõe uma discussão mais significativa do assunto junto à sociedade, principalmente junto a todos os trabalhadores que estão submetidos a esses modelos de gestão danosos à saúde. “O Sindicato já vem desenvolvendo um trabalho nesta área desde 2003, com publicação de livros, artigos, além da cartilha, que estão sendo divulgados em outros contextos além do setor bancário.”

Patologias do assédio

Sobre as patologias mentais relacionados ao trabalho, a auditora fiscal Luciana Veloso diz que houve um aumento significativo do problema nas últimas décadas. Dentre quatro grupos de adoecimento, Luciana destaca as patologias do assédio, em que cada trabalhador reage de forma diferente. Os outros riscos são sobrecarga de trabalho, estresse pós-traumático e suicídios tentados e consumados.

“No setor bancário, são muitos os riscos psicossociais. As metas ‘gritam’ mais porque contribuem para a quebra do sentimento de coletividade e de solidariedade entre as pessoas, deixando-as vulneráveis. Com isso, os trabalhadores não conseguem mais elaborar qualquer tipo de enfrentamento.”

Segundo a auditora, a questão do suicídio relacionado ao trabalho é muito séria e deve ser encarada como um problema de saúde pública. “Na categoria bancária, esse problema é especialmente grave. Há dados que apontam que no ano de 1993, um bancário se suicidou a cada 20 dias. E a maior razão se deve pela ruptura de vínculos no trabalho relacionado ao assédio e à implantação sistemática de métodos de gestão neoliberais a partir da década de 90.”

Em seu livro “Riscos Psicossociais e Saúde Mental do Trabalhador”, lançado este ano, a jurista propõe a implantação de um regime jurídico preventivo e alerta sobre a insuficiência normativa do assunto.

Terceirização sem limites

 

Para o desembargador Grijalbo Coutinho, escritor do livro “Terceirização: máquina de moer gente trabalhadora”, o assédio moral ofende o trabalhador em sua dignidade laboral. “Não há dúvidas que os novos modelos de gestão provocam uma violação dos direitos humanos, não só dos positivados, mas também daqueles que conferem dignidade às pessoas. Ou seja, dos direitos que dão acesso igualitário aos bens materiais e imateriais em sua totalidade e integralidade.”

“Já não basta explorar o trabalhador. Estão tentando capturar a subjetividade das pessoas. O assédio moral é uma das diversas formas de cooptação das pessoas, jogando umas contra as outras. Não há outra razão para isso além de maiores taxas de rentabilidade e acumulação de riquezas”, completou Grijalbo, mestre em Direito e Justiça pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Proposta de documentário

O bancário Manoel Leite Magalhães, há mais de 30 anos funcionário do Banco do Brasil, propôs a realização de um documentário para tentar resgatar a história da implantação dos anos neoliberais, principalmente para que os novos bancários fiquem conhecendo o que aconteceu com a implantação do Plano de Demissão Voluntária (PDV), que ocorreu à época. “As pessoas perdiam o emprego, a família. Enfim, perdiam o ‘chão’. Foi quando aconteceu o recorde de suicídio e doenças dos bancários”, analisou.

 

Fonte: Rosane Alves - Do Seeb Brasília 

Notícias Relacionadas