O Banco Central elevou a taxa Selic a 11,25% para ganhar credibilidade e reatar laços com o setor privado, regozijam-se os analistas do mercado financeiro com voz hegemônica na grande mídia. A decisão, tomada três dias após a reeleição, é estarrecedora porque vai contra os pronunciamentos da presidenta Dilma de que é necessário ampliar o diálogo para fazer o Brasil voltar a crescer.
É preciso avisar o Banco Central que quem ganhou a eleição foi a presidenta Dilma Rousseff e não Aécio Neves e seus apoiadores. Em vez de dialogar com a sociedade, o BC preferiu "dialogar" apenas com o mercado financeiro, o mesmo que até anteontem vinha promovendo a mais criminosa campanha de terrorismo econômico jamais vista em nossa história para impedir a reeleição da presidenta.
Dilma também disse na campanha que é preciso parar de plantar inflação para colher juros. Nós acreditamos que é necessário plantar juros baixos para colher investimento, emprego e geração de renda.
A elevação da Selic é mais uma âncora a puxar para baixo o crescimento econômico, já cambaleante em razão, dentre outras causas, justamente dos juros que já estavam nas alturas. A decisão do BC só serve para engordar o lucro dos bancos e inibir os investimentos das empresas na produção, na contramão do compromisso assumido pela presidenta da República reeleita perante a sociedade.
Esse aceno aos rentistas não é o único elemento extremamente preocupante para os bancários, para os trabalhadores dos outros setores econômicos e para toda a sociedade, que apostaram e foram às ruas para tornar vencedor o projeto que busca transformar o Brasil num país econômica e socialmente desenvolvido, o que passa necessariamente por crescimento com geração de emprego e renda e redistribuição da riqueza.
Dois dias após a reeleição, as forças conservadoras na Câmara dos Deputados derrubaram o decreto presidencial que aprofunda a democracia brasileira via instituição de conselhos consultivos. O mesmo mercado financeiro que fez terrorismo para derrotar Dilma Rousseff faz agora um verdadeiro cerco midiático não apenas para nomear os ministros que conduzirão a política econômica como para impor a sua agenda no segundo mandato.
É esse o cenário que já está desenhado, o que obriga o movimento sindical, os movimentos sociais, os partidos políticos de esquerda, a parcela progressista da sociedade, a juventude, a não abandonarem a grande mobilização nacional das últimas semanas, que garantiu a vitória do projeto de desenvolvimento com distribuição de renda.
Pelo contrário, é hora de aproveitar esse momento histórico para estender esse debate no interior de todos esses movimentos, ampliando os espaços democráticos de discussão, de forma a manter e intensificar a mobilização - a única força capaz de barrar a ofensiva conservadora e garantir que o segundo governo Dilma Rousseff estará voltado para os interesses dos trabalhadores e da sociedade, e de um Brasil com justiça social, solidário e soberano na ordem internacional.
Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT
Fonte: Contraf-CUT