(Brasília) - A banalização da violência tem tomado conta do noticiário brasileiro. Os casos em que o respeito à vida humana é deixado de lado - por preconceito, racismo, intolerância religiosa - se tornaram frequentes.
Neste domingo, 27, durante partida do Campeonato Espanhol, o lateral-direito do Barcelona e da seleção brasileira, Daniel Alves, foi vítima de racismo, mais uma vez. Torcedores do Villarreal jogaram bananas no campo, quando o jogador brasileiro se preparava para cobrar um escanteio. Com uma postura firme e irreverente, Daniel pegou a fruta e a comeu, não permitindo que o agressor tivesse êxito no ato racista.
A NBA, liga norte-americana de basquete profissional, está investigando o proprietário do Los Angeles Clippers, Donald Sterling, após divulgação de áudio em que o dirigente pede à namorada que não leve negros aos jogos da sua equipe. A conversa aconteceu após a modelo V. Stiviano postar foto em rede social ao lado do ex-jogador Magic Johnson. O contraditório: a modelo é negra e latina.
Em fevereiro, durante partida da Copa Libertadores da América, o jogador Tinga foi vítima de racismo. A torcida peruana, anfitriã do jogo entre Cruzeiro e Real Garcilaso, insultou o atleta brasileiro, ao ecoar no estádio som semelhante ao dos macacos, toda vez em que o volante tocava na bola. Apesar da repercussão mundial do caso e de ter aberto processo de investigação, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) ainda não aplicou punição ao clube peruano.
Neste sentido, o sentimento de impotência se torna ainda maior. Nem mesmo a entidade responsável pela competição agiu firmemente diante da situação, mesmo tendo em seu regulamento cláusula que prevê até eliminação de clubes em caso de racismo.
Outro episódio lamentável registrado no esporte, foi a violência sofrida pelo também volante, Arouca - atleta do Santos. Como “repreensão”, a Federação Paulista de Futebol decidiu pela interdição do estádio Romildo Vitor Gomes Ferreira, onde os insultos ocorreram.
Suficiente, com certeza não é. É necessário muito mais do que fechar um local para que as pessoas respeitem as outras, independente de cor, crença ou posição social.
No Distrito Federal, o cenário não é diferente. Em fevereiro, o racismo assombrou Brasília - tanto pelo ato em si quanto pela falta de rigor da lei. Uma australiana se achou no direito de ofender uma trabalhadora porque não queria ser atendida por uma negra. A autora do crime, não satisfeita em agredir verbalmente a manicure, também atacou dois agentes de polícia.
Menos de 24 horas após ser presa em flagrante, a australiana foi liberada. Importante lembrar: a legislação determina pena de reclusão, tornando-se inafiançável e imprescritível o crime de racismo, diante da premissa de que todos somos iguais, sem discriminação de qualquer natureza.
De acordo com balanço do Disque-Racismo, em ação desde março de 2012, foram registradas 8.344 ligações, até 28 de fevereiro. Desse total, 126 foram classificadas como racismo - cerca 11 casos por mês.
“A humanidade avançou na ciência e na tecnologia, produz obras excepcionais. Apesar disso, quando pratica o racismo ou a discriminação racial, se atrasa de forma tragicamente extraordinária”, pondera o coordenador da Comissão de Igualdade do Sindicato, Jeferson Meira.
Atuação do Sindicato
Em novembro passado, diretores do Seeb/Brasília participaram do II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro. O evento, que integrou as comemorações do mês da consciência negra, foi realizado no Rio de Janeiro.
Nas discussões, foi unânime a percepção de que são poucos os negros trabalhadores no sistema bancário, considerando, principalmente, os bancos privados. A diferença não para apenas na presença dos negros: se estende à remuneração e ao cargo ocupado pelo trabalhador.
José Anilton, diretor da FETEC-CUT/CN acredita que “a luta racial deve assumir também um caráter de classe e possibilitar a emancipação dos negros no mercado de trabalho”, adverte.
Já na primeira edição do Brasília Debate de 2014, o Sindicato trouxe ao Teatro dos Bancários, no dia 25 de março, a discussão sobre discriminação racial - em função do Dia Internacional contra a Discriminação Racial, exaltado em 21 de março.
O diretor do Sindicato José Garcia afirma que “todas as formas de racismo impedem a aplicação de um conjunto de políticas efetivas de reparação aos negros”.
Dentro da programação do evento, o Sindicato se preocupou em inserir assuntos de suma importância para o combate a discriminação. Quilombolas, cotas raciais, Estatuto da Igualdade Racial e a lei federal que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na grade curricular da Educação Brasília estiveram em pauta.
Da Redação
Joanna Alves