Apesar de reconhecer avanços da última década, Sader faz reflexão sobre o futuro em lançamento de livro no Seeb/Brasília
TV: assista à integra do debate com Emir Sader no lançamento do livro 'Lula e Dilma'
(Brasília) - Em sua segunda passagem pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, o sociólogo, professor e escritor Emir Sader lançou, na noite de quarta-feira (16), o livro ‘Lula e Dilma’, que faz uma avaliação das enormes transformações pelas quais o país passou na última década. Durante o debate, aberto ao público, Sader fez um breve histórico dos governos da América Latina e recordou como era o Brasil antes de janeiro de 2003.
“O mundo hoje é mais desigual”, afirmou Emir Sader, ao destacar que o capital especulativo não está comprometido com o crescimento econômico. “No Brasil, por exemplo, os investidores estrangeiros não pagam imposto para entrar e sair da bolsa de valores”, acrescentou.
Durante sua exposição, Emir Sader lembrou as crises financeiras e os ataques sofridos pelos trabalhadores nos últimos tempos. Em relação ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo frisou a alta taxa de desemprego e o enfraquecimento do movimento sindical.
Ditadura da palavra
Sobre a hegemonia dos meios de comunicação, Sader destacou a grande concentração do controle da mídia. “No Brasil, nesses últimos 10 anos, não avançamos nada em relação aos meios de comunicação. Meia dúzia de famílias concentra o controle dos jornais, rádios e televisões. Precisamos democratizar esses meios”.
Em seguida, o escritor defendeu o financiamento público das campanhas. “É preciso oferecer as mesmas condições para todos os candidatos”.
Shopping center
Contrário à disseminação da chamada ‘cultura’ de shopping center, Emir Sader observou que este tipo de estabelecimento comercial ‘engole’ culturas e prioriza a globalização de marcas. “Num shopping, tudo tem preço. Ao contrário da praça pública, o shopping é seletivo e não permite o acesso de todos”.
Médicos cubanos
Criticado pelos médicos e pelos meios de comunicação, o Programa Mais Médicos, do governo federal, foi um dos temas abordados por Emir Sader durante sua exposição na sede do Sindicato. “Ao contrário dos médicos da Organização das Nações Unidas (ONU), que ficam somente nas capitais, os profissionais cubanos estão no interior da África e conhecem de perto as doenças tropicais”, disse.
O escritor também condenou o preconceito contra os médicos cubanos que desembarcaram no Brasil. “Os médicos brasileiros, geralmente formados em universidades públicas, preferem montar consultórios para atender madames. Por isso estão revoltados com a chegada dos profissionais de Cuba”.
Na primeira fase do Programa Mais Médicos, 400 profissionais cubanos vieram trabalhar no Brasil. A previsão do Ministério da Saúde é trazer ao país, até o final do ano, 4 mil profissionais de Cuba. Esses médicos vêm ao Brasil por meio de um acordo intermediado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Coletânea organizada por Emir Sader, o livro ‘Lula e Dilmaル faz uma análise das profundas mudanças desde que a população brasileira elegeu os governos democráticos e populares. A publicação conta com reflexões de alguns dos mais destacados pensadores brasileiros, como Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia, Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luis Fiori, Luis Pinguelli Rosa e Paulo Vannuchi.
“Mais uma vez, Emir Sader fez um debate rico, provocativo e intenso aqui na sede do Sindicato. Sua presença é sempre bem-vinda e estimulante para enriquecer e fortalecer nossas lutas, que não são poucas”, afirmou o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, que assistiu atento ao debate do escritor.
Ao final do debate sobre os governos Lula e Dilma, Emir Sader autografou exemplares de sua publicação no foyer do Teatro dos Bancários. Trabalhadores, estudantes, sindicalistas e profissionais liberais participaram da exposição e da sessão de autógrafos conduzidas pelo sociólogo.
Currículo
Emir Sader é doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sader esteve no Sindicato, participando do Brasília Debate, em outubro de 2012.
Rodrigo Couto
Do Seeb Brasília