O sistema financeiro nacional fechou 3.392 postos de trabalho nos primeiros dez meses de 2014, atuando na contramão da economia brasileira, que gerou 912.287 novos empregos formais no mesmo período. O desemprego no setor seria ainda mais acentuado não fosse a atuação da Caixa Econômica Federal, a única grande instituição financeira a criar vagas (2.125).
Os dados são da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) divulgada nesta quarta-feira (19) pela Contraf-CUT, que faz o estudo em parceria com o Dieese, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
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No total, 18 estados apresentaram saldos negativos de emprego entre janeiro e outubro de 2014. As maiores reduções ocorreram em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com 1.068, 775, 646 e 529 cortes, respectivamente. O estado com maior saldo positivo foi o Pará, com geração de 271 novas vagas.
"Apesar dos lucros gigantescos, os bancos brasileiros, principalmente os privados, seguem eliminando postos de trabalho em 2014, a exemplo do ano passado, o que é injustificável para um setor onde somente os seis maiores bancos (BB, Itaú, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) lucraram R$ 56,7 bilhões em 2013 e mais R$ 44,0 bilhões até o terceiro trimestre deste ano, ostentando os maiores índices de rentabilidade de todo o sistema financeiro internacional", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
"Os bancos que estão fechando postos de trabalho prejudicam os bancários, pioram o atendimento dos clientes e da população e não contribuem para o crescimento econômico e social do país com emprego e distribuição de renda", alerta Cordeiro.
Rotatividade achata salários dos bancários
De acordo com o levantamento Contraf-CUT/Dieese, além do corte de vagas, a rotatividade continuou alta de janeiro a outubro de 2014. Os bancos brasileiros contrataram 28.385 funcionários e desligaram 31.777.
A pesquisa mostra também que o salário médio dos admitidos pelos bancos nos primeiros oito meses do ano foi de R$ 3.356,47 contra o salário médio de R$ 5.279,83 dos desligados. Assim, os trabalhadores que entraram nos bancos receberam valor médio equivalente a 63,6% da remuneração dos que saíram.
"Essa diferença prova que os bancos privados continuam praticando a rotatividade, um mecanismo cruel utilizado para reduzir a massa salarial da categoria e aumentar ainda mais os lucros", destaca o presidente da Contraf-CUT. "Nos últimos onze anos, os bancários conquistaram aumentos reais consecutivos, mas esses ganhos foram corroídos pela rotatividade, freando o crescimento da renda da categoria."
Para Cordeiro, "os números da nova pesquisa reforçam a luta dos bancários contra as demissões e pelo fim da rotatividade, por mais contratações e contra os projetos de terceirização, como forma de proteger e ampliar o emprego da categoria e da classe trabalhadora".
Desigualdade entre homens e mulheres
A pesquisa mostra também que as mulheres, ainda que representem metade da categoria e sejam mais escolarizadas, permanecem sendo discriminadas pelos bancos na sua remuneração, ganhando menos do que os homens quando são contratadas. Essa desigualdade segue ao longo da carreira, pois a remuneração das mulheres ᄅ bem inferior à dos homens no momento em que são desligadas dos seus postos de trabalho.
Enquanto a média dos salários dos homens na admissão foi de R$ 3.801,97 nos primeiros dez meses do ano, a remuneração das mulheres ficou em R$ 2.896,65, valor que representa 76,2% da remuneração de contratação dos homens.
Já a média dos salários dos homens no desligamento foi de R$ 6.037,88 no período, enquanto a remuneração das mulheres foi de R$ 4.464,69. Isso significa que o salário médio das mulheres no desligamento equivale a 73,9% da remuneração dos homens.
"Essa absurda discriminação é totalmente inaceitável e reforça ainda mais a luta da categoria por igualdade de oportunidades na contratação, na remuneração e na ascensão profissional", enfatiza Cordeiro.
Maior concentração de renda nos bancos
O presidente da Contraf-CUT salienta ainda que "a pesquisa fortalece ainda a mobilização dos bancários por distribuição de renda". Enquanto no Brasil, os 10% mais ricos no país, segundo estudo do Dieese com base no Censo de 2010, têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres, no sistema financeiro a concentração de renda é ainda maior.
No Itaú, cada membro do Conselho de Administração recebeu, em média, R$ 15,5 milhões em 2013, o que representa 318,5 vezes o que ganhou o bancário do piso salarial. No Santander, cada diretor embolsou, em média, R$ 7,7 milhões no mesmo período, o que significa 158,2 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que pagou, em média, R$ 13 milhões no ano para cada diretor, a diferença para o salário do caixa foi de 270 vezes.
Desta forma, para ganhar a remuneração mensal de um desses executivos, o caixa do Itaú tem que trabalhar 26,5 anos, o caixa do Santander 13 anos e o do Bradesco 22,5 anos.
"Essa imensa distância, que separa os ganhos dos altos executivos e os salários dos bancários, atenta contra a justiça social e a dignidade dos trabalhadores, bem como contribui para a vergonhosa posição do Brasil entre os 10 países mais desiguais do mundo, o que precisa mudar", conclui Cordeiro.
Fonte: Contraf-CUT com Dieese