Depois da greve de 26 dias – uma das maiores das duas últimas décadas –, fui procurado por uma bancária para falar sobre a paralisação. Satisfeita com o resultado do movimento, a colega parabenizou o Sindicato e os diretores da entidade pela mobilização e pelas conquistas da Campanha Nacional 2013. Na mesma conversa, a trabalhadora pediu esclarecimentos sobre o caso da bancária do Banco do Brasil Maria Suely Fernandes, cedida para a Fundação do banco, que, após denunciar irregularidades na instituição, teria sofrido ameaças.
Sobre o caso citado acima, o comentarista da rádio BandNews FM de Brasília Cláudio Humberto, que também vende uma coluna para diversos jornais, disse muitas inverdades, algumas caluniosas. Ex-porta-voz de Fernando Collor de Melo, único presidente a sofrer impeachment no Brasil, Cláudio Humberto tem um currículo que fala por si só. Em suas colunas, o jornalista faz comentários preconceituosos contra trabalhadores e sindicatos.
Inconformado até hoje por ter perdido seu emprego – obtido sem concurso público – durante o governo Collor, Cláudio Humberto ataca os movimentos sociais e os sindicatos, instituições que lideraram o Fora Collor, manifestação espontânea que pressionou o Congresso Nacional a abrir o processo de impeachment contra Collor.
Em seu comentário veiculado nesta quinta-feira (17) na Band News FM de Brasília, o jornalista disse que Campanha Nacional dos Bancários é uma farsa. Segundo ele, ex-sindicalistas representam os bancos na mesa de negociação com a categoria e que um acordo sobre o número de dias de greve e do reajuste a ser concedido para os bancários já estava acertado previamente. Como isso pode ser possível, uma vez que 143 sindicatos de todo o país que participam do Comando Nacional dos Bancários realizam assembleias para decidir se aceitam a proposta dos banqueiros e se começam ou acabam a greve?
Além de calunioso, o comentário é um ataque direto aos mais de 490 mil bancários e bancárias de todo o país, única categoria com uma convenção coletiva nacional, o que garante os mesmos direitos para os trabalhadores de todos os 26 estados e do Distrito Federal.
Na ânsia para atacar os bancários e revelando um total despreparo e ignorância, Cláudio Humberto ‘esquece’ de fazer uma das lições básicas do jornalismo: checar as informações. Há mais de 20 anos, o diretor de Relações Trabalhistas da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), Magnus Apostólico, participa da mesa de negociação pelo lado patronal. Ele nunca foi sindicalista e tampouco fez greve na vida.
O último ex-sindicalista que chegou a atuar em negociações fazia parte do quarto escalão do Banco do Brasil e se aposentou há dois anos. Não existe nenhum ex-sindicalista que atualmente seja diretor e/ou representante de qualquer banco público e privado na mesa de negociação. Basta checar com os próprios bancos.
Talvez por falta de assunto em sua coluna na rádio BandNews FM de Brasília Cláudio Humberto ainda questionou até o local (um hotel em São Paulo) onde ocorrem as negociações entre a Fenaban e os representantes dos trabalhadores.
Nós, sindicalistas, sempre convidamos os banqueiros para participarem das negociações nos sindicatos. Eles nunca aceitaram. Assim como nós também nunca concordamos em negociar dentro da casa dos patrões, até para não haver qualquer constrangimento durante os duros e logos debates que travamos. Por isso, em comum acordo, optamos por realizar as rodadas de negociações em local neutro para as duas partes.
Voltando ao assunto da bancária do Banco do Brasil Maria Suely Fernandes, esclareço que o Sindicato dos Bancários de Brasília foi procurado por uma funcionária do jornalista Cláudio Humberto por volta das 18h da sexta-feira 13 de setembro – um dia após a assembleia que deflagrou a greve por tempo indeterminado a partir do dia 19 de setembro – para a entidade prestar esclarecimentos sobre o afastamento da bancária da Fundação Banco do Brasil. A diretoria estava reunida para debater os desdobramentos da Campanha Nacional dos Bancários, uma vez que as negociações com os banqueiros foram frustradas.
Um jornalista do departamento de Imprensa do Sindicato que atendeu a funcionária de Cláudio Humberto pediu que a mesma enviasse e-mail com a solicitação das informações. Comum, a prática é adotada em todas as assessorias de imprensa. No entanto, para minha surpresa, no dia seguinte (um sábado), Cláudio Humberto, na ânsia de atacar mais uma vez o Sindicato, publicou uma nota caluniosa no Jornal da Mídia, site que tem como público-alvo jovens da Bahia, afirmando que o Sindicato não prestou assistência para a bancária.
O e-mail da funcionária de Cláudio Humberto foi enviado somente na segunda-feira 16 de setembro, três dias depois do contato telefônico e dois dias depois que o jornalista já tinha publicado a nota atacando mais uma vez o Sindicato. Tão logo recebemos a mensagem eletrônica, respondemos aos questionamentos do jornalista. Informamos que a bancária, sindicalizada desde 2008, nunca procurou auxílio da assessoria jurídica do Sindicato para orientá-la neste caso e/ou em outro qualquer.
A prática do Sindicato é receber todo trabalhador e apurar as denúncias de assédio moral e perseguições, mantendo todo sigilo necessário e encaminhando apenas o que for acordado com o bancário. Segundo apuramos, ela preferiu procurar o Ministério Público e a Auditoria do Banco do Brasil. Um direito dela. Se a bancária tivesse procurado o Sindicato, teria recebido nossa assistência jurídica, capitaneada por profissionais qualificados e reconhecidos.
Se a própria bancária, que é a maior interessada em buscar seus direitos, não procurou o Sindicato, não entendemos o interesse do comentarista da BandNews em insistir em repercutir um caso que não tem nenhuma ligação direta com o Sindicato.
Após ter feito as denúncias envolvendo dirigentes da Fundação Banco do Brasil, a funcionária foi transferida para uma dependência do BB em Brasília. Em seguida, passou a trabalhar em outra dependência do banco em Belo Horizonte, onde permanece até hoje. Segundo informações, Maria Suely Fernandes é acompanhada de perto pelo Departamento de Segurança do BB.
Para nossa surpresa, nenhuma linha das nossas respostas, citadas acima, foram divulgadas por Cláudio Humberto.
Cabe ainda esclarecer que as denúncias da bancária foram feitas em dezembro de 2012, mas só tomamos conhecimento agora, ou seja, todos esses eventos aconteceram antes da minha posse como presidente do Sindicato.
Diante de todas as inverdades e até calúnias divulgadas por Cláudio Humberto em seus comentários, pensamos em pedir direito de resposta. Como o tamanho do espaço seria pequeno para nossa defesa a todos os questionamentos do referido jornalista, optamos por responder em nosso próprio veículo de comunicação.
Sobre as informações publicadas, estudamos ingressar com processo por calúnia e difamação, com as medidas necessárias para a reparação de danos. No entanto, preferimos não gastar o tempo e o dinheiro dos bancários com essa lide.
Velho conhecido da Justiça, Cláudio Humberto responde uma dezena de processos por calúnia e difamação pela mesma forma de repercutir informações inverídicas. De tão arrogantes e contraditórios os comentários de Cláudio Humberto – que fez parte do governo Collor – chegam a ser hilários.
Eu e meus companheiros fomos eleitos democraticamente para compor a diretoria do Sindicato para o triênio 2013/2016 com a proposta de ‘autonomia e ousadia com responsabilidade’. E vamos honrar com esses princípios até o fim da nossa gestão.
Independentemente de governo, de patrões e de partidos, sempre defenderemos os trabalhadores. Para ser dirigente sindical, optamos por deixar uma serie de afazeres importantes em nossas vidas comuns, inclusive com sacrifício familiar e profissional. Temos que honrar a categoria com uma postura transparente e objetivando sempre preservar interesses coletivos.
E não é por conta de ataques de um comentarista desinformado e que serviu ao governo deposto de Collor que mudaremos nossas lutas.
Eduardo Araújo
Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília