Crédito: Augusto Coelho
"Um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil pressupõe mercado de consumo robusto, regionalização do crescimento com novas fronteiras econômicas, sistemas de financiamento e de inovação, educação universalizada e infraestrutura como indutora do novo ciclo." Essas são, segundo o jornalista econômico Luís Nassif, as principais características para a construção de uma agenda positiva que levará o País a superar o momento conjuntural difícil e complexo que atravessa neste início do segundo mandato da presidenta Dilma Roussef.
Nesta sexta-feira (12), em São Paulo (SP), Nassif participou a mesa sobre análise de conjuntura na abertura dos trabalhos do 31º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (Conecef), que acontece até domingo (14), no Hotel Holiday Inn, no Parque Anhembi. Ele acredita que, hoje, o maior inimigo da retomada do desenvolvimento sistêmico é o obscurantismo fomentado pela mídia, que difunde o terror com base em notícias falsas, na tentativa de desestabilizar um conjunto de ações governamentais de distribuição da renda, de ganho real para o salário mínimo e de ampliação do emprego.
Para Nassif, "há um clima pulsante, pois idéias, conhecimento e competência existem, havendo também um grande amor pelo Brasil". Segundo o jornalista, a situação atual está assim: "o mapa da crise, com base nos cenários de 2013 e 2014, passa pela mídia tradicional, um setor que atua sob a lógica de "sempre cumprir o papel de segurar o passado, devido notadamente ao controle que exerce sobre esse passado", estando aí o medo em relação ao processo inaugurado pelas novas tecnologias, com o surgimento da internet e das redes sociais.
Sobre as recentes medidas adotadas pelo governo federal na área econômica, Nassif classifica como desastrosa a política do Ministério da Fazenda e do Banco Central, sobretudo na parte fiscal. Ele diz que há uma espécie de conflito de prioridades, considerando um erro o governo combater a inflação com aumento das taxas de juros e da demanda. Com isso, segundo ele, a opção é por fazer superávit primário com o corte das despesas sociais, levando até mesmo a que as contas externas sejam fechadas com desvalorização cambial.
Apesar da necessidade de um ajuste fiscal, devido a problemas de voluntarismo que provocou uma situação difícil para as contas públicas nos últimos anos, isto deveria ter sido feito de forma sistêmica, avalia o jornalista econômico. Para isso, segundo Nassif, instituições financeiras públicas como a Caixa Econômica Federal deveriam ter sido acionadas, pois em outros momentos mostraram competência para fomentar o desenvolvimento social do País, sem aumento da taxa de Selic. Ele afirma que o BC, mais cedo ou mais tarde, vai ter de rever essa "maluquice" de taxa alta nos juros, dado que as contas públicas não fecham com essa política suicida.
Para Nassif, um novo modelo para o país deve levar em conta a participação social. Ele diz que, com a ascensão das redes sociais, tem-se a diluição de todos os poderes indistintamente. Afirma que a crise não é apenas do Executivo, mas também do Legislativo, do Judiciário e até do movimento sindical, acrescentando: "O Brasil tem condições para realizar um grande salto de gestão, independentemente da crise. Isto está traduzido nos avanços conquistados nos últimos anos em áreas como bancos públicos, política científica e tecnológica, desenvolvimento regional, saúde e educação. Temos um país que dá para montar em cima do que já existe, pois já foi construído um modelo de democracia social e de inovação em diversos segmentos da sociedade". Ele defende ainda que a capilaridade dos bancos públicos seja transformada em agente de desenvolvimento, com a urgência que o momento requer.
"A montagem de grandes políticas só é bem-sucedida quando todos os lados são ouvidos. Os bens intangíveis, como o esporte, a cultura, a moda, entre outros, são um ativo importante para a construção de um projeto de país calcado em crescimento econômico, modernização e participação social", assegura Nassif. Ele concluiu sua análise de conjuntura no 31º Conecef dizendo que o governo brasileiro precisa refletir essa visão de conjunto, tendo consciência de que, "se houve iniciativas importantes de inclusão social em período recente, agora o momento exige a adoção de um projeto para o Brasil".
MAIS REFLEXÕES
A mesa sobre análise de conjuntura contou também com a participação dos representantes dos empregados no Conselho de Administração da Caixa Fernando Neiva e Maria Rita Serrano. Eles falaram sobre a importância dos bancos públicos para o desenvolvimento econômico e social do país e defenderam o fortalecimento dessas instituições como agentes de políticas públicas que podem transformar a realidade do Brasil.
Em seu pronunciamento, Neiva destacou a mobilização dos trabalhadores e das entidades do movimento associativo e sindical em defesa da Caixa 100% pública. "Tivemos uma grande vitória. Foi a pressão dos empregados da Caixa, da Contraf/CUT, da Fenae e das federações e sindicatos de todo o país, condutoras de uma grande mobilização nacional para defender esse grande patrimônio da sociedade brasileira, que determinou o recuo do governo na intenção de abertura de capital do banco".
Fernando Neiva lembrou que a Caixa é o terceiro maior banco do país. "O que queremos, na verdade, é uma Caixa cada vez mais forte e comprometida com o desenvolvimento do país", enfatizou o representante eleito.
Para a conselheira suplente no CA, Maria Rita Serrano, o debate sobre o papel dos bancos públicos, em especial da Caixa, não se encerra. É preciso, segundo ela, que a discussão seja constante e sugeriu que a sociedade aprofunde a discussão sobre o papel do sistema financeiro no Brasil como um todo.
"Temos, por exemplo, uma resolução do Banco Central, que estabelece que 65% dos recursos captados com poupança pelos bancos devem ser investidos em habitação. A Caixa tem cumprido com essa determinação. Por que os outros bancos não agem do mesmo modo?", questionou Rita Serrano.
CONGRESSO
A estimativa é que pouco mais de 400 delegados e, pelo menos, 60 observadores de todo o Brasil participem do 31º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (Conecef) , que tem o slogan "Unidade para conquistar". O congresso é organizado pelo Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), que por sua vez é assessorada pela Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa).
"Os bancários da Caixa tomaram para si este processo democrático, aprofundando os debates já a partir de fóruns em suas cidades e regiões. O Conecef é um momento de coroar toda essa importante construção e fortalecer a organização dos trabalhadores, já que trata das questões específicas da vida dos empregados. A partir daí é que se define a pauta a ser negociada na mesa permanente com o banco", afirma Fabiana Matheus, coordenada da CEE/Caixa e diretora de Administração e Finanças da Fenae.
Os temas que estarão em debate no 31° Conecef são os seguintes: conjuntura, organização do movimento, Caixa 100% pública, saúde do trabalhador, condições de trabalho, condições de funcionamento das agências, Saúde Caixa, Funcef, aposentados, segurança bancária, jornada, Sistema de Ponto Eletrônico (Sipon), isonomia, carreira, terceirização, contratação de mais empregados e programa Gestão de Desempenho de Pessoas (GDP).
Fabiana adianta que as condições de trabalho estarão no centro dos debates. "Temos que questionar e fazer resistência à pressão por produtividade, à cobrança pelo cumprimento das metas abusivas, ao assédio moral e ao excesso de carga de trabalho", ressalta a coordenadora da CEE/Caixa.
A coordenadora da CEE/Caixa lembra que uma das principais ousadias do 31º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa é a ampliação da cota de gênero. E, nesse sentido, conclama as delegações a procurarem atingir o percentual de 50% em 2015, com a manutenção do corte em 40% para quem não atingir a cota. Segundo ela, o Conecef é um dos primeiros fóruns de trabalhadores a debater a questão de gênero, sendo essa uma conquista histórica.
Fonte: Rede de Comunicação dos Bancários