Presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro
A atual diretoria da Contraf-CUT encerra o seu mandato de três anos na próxima terça-feira (14). Carlos Cordeiro, funcionário do Itaú, deixará a presidência após duas gestões à frente da Confederação. No dia seguinte, assumirá a direção eleita no 4º Congresso, realizado de 20 a 22 de março em São Paulo, que será comandada pelo também bancário do Itaú e atual secretário de finanças da entidade, Roberto Von Der Osten.
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (10) à imprensa da Contraf-CUT, Cordeiro fez um pequeno balanço do período de seis anos como presidente e apontou os principais desafios dos bancᄀrios e da classe trabalhadora para o novo mandato que se inicia. "É preciso ir além do possível", destaca. Ele permanecerá na diretoria executiva da entidade.
Confira a entrevista:
Que balanço você faz da gestão que está se encerrando?
Acho que obtivemos avanços importantes em várias dimensões. Junto com as federações e sindicatos, inclusive filiadas a outras centrais, consolidamos a estratégia de campanha nacional unificada em bancos públicos e privados. Quando assumi o primeiro mandato, em 2009, ainda havia resistências a essa estratégia por conta de uma avaliação equivocada de que seria possível obter acordos melhores com os bancos públicos do que com a mesa única na Fenaban. Hoje nem as forças que estão fora do Comando Nacional apostam mais nessa tese.
Conseguimos também aprofundar a unidade nacional da categoria, possibilitada por uma ampliação e democratização dos fóruns nacionais de discussão e deliberação da categoria, estimulando as crescentes mobilizações e greves nacionais, que permitiram à categoria bancária as importantes conquistas econômicas, sociais e políticas da última década. Foram aumentos reais de salários nos últimos 11 anos seguidos, melhorias contínuas da PLR e avanços significativos no combate ao assédio moral, na preservação da saúde do trabalhador, na igualdade de oportunidades e na segurança bancária.
Construímos um modelo de Contraf descentralizada, democrática, participativa e protagonista, e apostamos na comunicação e no processo de formação sindical, que contribuiu para a especialização de muitos dirigentes e assessores e o surgimento de novas lideranças em várias áreas.
Ampliamos ainda mais a nossa atuação nas Américas e no mundo, lado a lado com a UNI Global Union, fortalecendo parcerias, lutas conjuntas, solidariedade e as redes sindicais dos bancos internacionais. E assinamos os primeiros acordos marco globais com o Banco do Brasil e o Itaú.
Tudo isso é resultado da ousadia, da unidade e da capacidade de mobilização dos bancários, a única categoria que conquistou uma Convenção Coletiva de Trabalho nacional no país e por isso continua sendo uma referência para o conjunto da classe trabalhadora brasileira.
Dentro dessas lutas e conquistas, qual ou quais você considera as mais marcantes?
Sem dúvida nenhuma, a batalha para derrotar o PL 4330 da terceirização pra mim o maior ataque do capital aos trabalhadores, evidenciando a luta de classes. Não tenho dúvida de que a mobilização da Contraf, junto com as federações, os sindicatos e as centrais sindicais em 2013, foi fundamental para que hoje pudéssemos estar resistindo pra impedir qualquer tipo de retrocesso às grandes conquistas que a classe trabalhadora obteve ao longo de muitas décadas, inclusive passando pela ditadura. Tivemos a clareza de que, naquele momento, como dirigentes sindicais assumimos a nossa responsabilidade em um momento crucial da história.
Mas essa luta não pode ter sido em vão, já que o PL 4330 corre agora de novo um sério risco de ser aprovado?
Nenhuma luta é em vão. Temos orgulho da batalha contra o PL 4330 que fizemos há dois anos e graças a ela temos hoje a esperança de aumentar a mobilização e identificar os parlamentares favoráveis ao projeto e denunciá-los à sociedade, pressionando-os em suas bases eleitorais, aproveitando esse momento em que a sociedade está mobilizada, para impedir atrocidades contra os direitos dos trabalhadores. Não tenho dúvidas de que, com a nossa ousadia e capacidade de mobilização, sairemos mais uma vez vitoriosos dessa batalha.
Mas essa batalha não está sendo travada em um momento muito desfavorável aos trabalhadores, diante dessa grande ofensiva das forças conservadoras no país?
Escolhemos ser dirigentes sindicais, não escolhemos a conjuntura. Temos que assumir nossa responsabilidade e mobilizar os trabalhadores. Como dirigentes, não podemos terceirizar nossa responsabilidade. É nosso papel organizar e mobilizar os trabalhadores e ir além do possível, convencendo cada trabalhador e trabalhadora a ir às ruas conosco defender nossos direitos, para mais uma vez sairmos vitoriosos dos ataques patronais, dos bancos e da grande mídia.
A sociedade exige que a gente seja representante de fato e de direito, o que significa não abrir mão de nossos valores e nossos princípios em defesa da classe trabalhadora, da solidariedade de classe, e que a nossa prática seja diretamente vinculada com esses nossos valores, em especial a defesa da democracia. E só pode defender a democracia para o país e na sociedade quem a defende e a pratica também dentro de casa.
Como foi feita essa caminhada na Contraf?
Quero agradecer a todos os que fizeram parte dessa caminhada, a todos os assessores e funcionários da Contraf, das federações e dos sindicatos, e a todos os nossos dirigentes sindicais comprometidos com o nosso projeto em defesa dos trabalhadores, especialmente aos bancários e às bancárias que estiveram todo esse período lutando conosco pela ampliação de direitos e por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.
E que mensagem você deixaria para a categoria?
Que os trabalhadores e as trabalhadoras não se deixem pautar por todo esse ódio que está hoje disseminado em muitos setores da sociedade, ódio que divide e fragiliza a classe trabalhadora. Queremos que os bancários e as bancárias continuem na teimosia da luta, pela busca de um mundo diferente e solidário. Não existirá vitória sem unidade da classe trabalhadora.
Fonte: Contraf-CUT