Brasília - O Sindicato dos Bancários de Brasília defendeu nesta quinta-feira (11) na Câmara dos Deputados, na 13ª edição do Fórum Nacional dos Direitos Humanos, que discutiu o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a punição dos agentes responsáveis pelas torturas, mortes e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar (1964-1985).
“A exposição dos acontecimentos desse período, bem como a reparação de suas vítimas e a punição dos algozes, precisa acontecer. Os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade e das demais comissões instaladas país afora não podem cair no esquecimento”, destacou o secretário de Formação do Sindicato, Antônio Abdan, durante o evento, que fez parte dos debates do Congresso Nacional sobre o relatório da CNV, divulgado na quarta-feira (10).
“O Brasil viveu um período lamentável de sua história. Foram cometidos crimes contra os direitos humanos, como perseguições, cassações, demissões e transferências arbitrárias de trabalhadores, prisões, torturas e mortes”, lembrou o dirigente sindical. Para ele, exigir a apuração do que aconteceu, a reparação do direito das vítimas e a punição dos algozes não deve ser uma aspiração somente do governo ou de alguns setores da sociedade. “Deve ser um desejo de todos”.
Abdan destacou que o Sindicato, que sofreu intervenção durante a ditadura militar, instituiu, no final de 2013, uma Comissão da Verdade para resgatar a memória de bancários de Brasília, incluindo seus familiares, que se opuseram ao regime e, por isso, foram perseguidos e torturados. “O silêncio e o esquecimento só servem aos interesses do agressor”, disse ele.
Os trabalhos da Comissão da Verdade do Sindicato são focados em duas frentes: pesquisa junto a órgãos oficiais, como o Arquivo Nacional, e entrevistas com perseguidos e ex-presos políticos, entre diretores e funcionários do Sindicato à época. Até agora, a Comissão já colheu o depoimento de bancários como Gilney Viana, preso e torturado durante o regime e que hoje coordena o projeto ‘Direito à Memória e à Verdade’ da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Gilney foi um dos convidados do Fórum.
Todo o material colhido será editado e transformado em uma revista, que deverá ser publicada no primeiro semestre do ano que vem. Além disso, o Sindicato exibirá a partir de março de 2015, dentro do Cineclube Bancário, às segundas-feiras, filmes que retratam fatos ocorridos durante o regime. Antes, em fevereiro, haverá uma exposição fotográfica e um sarau, intitulado Poesias do Cárcere, que vai contar inclusive com poemas de Gilney Viana.
‘Luto da ditadura’
Para a deputada e ex-presidente do Sindicato, Erika Kokay (PT-DF), com os resultados da CNV “demos um passo importante para devolver a história do Brasil ao seu povo, para que possamos fechar o ciclo da ditadura, porque ainda tropeçamos todos os dias em pedaços do regime”. “É preciso fazer o luto da ditadura, para que ela não volte a permear a nossa sociedade”.
O Fórum reuniu representantes de vários movimentos sociais, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Comissão Camponesa da Verdade e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que comemoraram o relatório da CNV, mas ressaltaram a necessidade de ampliar os trabalhos sobre a violação de direitos durante esse passado sombrio da história brasileira.