Brasília - Fruto de uma série de seminários, o livro ‘Rotatividade setorial: dados e diretrizes para a ação sindical’, editado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foi lançado nesta terça-feira (9), na sede do Sindicato. O presidente da entidade, Eduardo Araújo, falou sobre a importância da obra que analisa os desligamentos de trabalhadores e oferece um conjunto de contribuições e propostas do movimento sindical para enfrentar o desafio de reduzir as taxas desse fenômeno que ronda as relações de trabalho.
“Esperamos que a publicação contribua com o debate sobre as alternativas para enfrentar o grande desafio de se criar mecanismos que possam reduzir a rotatividade a patamares menos alarmantes no país”, destacou Eduardo Araújo.
O livro, lançado em São Paulo e no Pará, no mês passado, foi financiado pelas entidades sindicais. “O tema é um desafio imenso para o mercado de trabalho brasileiro”, ressaltou José Silvestre de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese e organizador da publicação, que resgata o conceito de rotatividade, ‘fenômeno que não é questão simples de tratar’.
Silvestre fez uma retrospectiva da rotatividade no mercado brasileiro que, segundo ele, é altíssima, e lembrou ainda que 50% dos desligamentos são por iniciativa do empregador. “Eles rompem o contrato para substituir os trabalhadores por outros com salários mais baixos”.
O coordenador falou sobre o mercado brasileiro que tem passado por fortes transformações nos últimos anos. Explicou que os principais aspectos abordados nas publicações permitiram vislumbrar que o fenômeno da rotatividade é bastante complexo. E abordou as causas distintas da rotatividade em cada setor.
Para o secretário de Organização da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Miguel Pereira, a publicação é um excelente guia a ser utilizado pelas empresas e pelo próprio governo. “Nela, estão reunidas informações importantes que vão contribuir bastante com os vários setores, especialmente o bancário”, comentou o dirigente sindical, ao lembrar a necessidade de humanizar os dados.
“Para reduzir os custos, os bancos demitem uma turma e contratam outra. Porém, não pensam nos pais de família. O empregador se livra do trabalhador como se ele fosse uma mercadoria. A rotatividade só traz efeitos maléficos. Isso é fenômeno negativo que precisa acabar”, observou Miguel Pereira.
Seminários
A publicação é resultado de vários debates com dirigentes de entidades sindicais de trabalhadores bancários, da construção, do ramo metalúrgico, do comércio, de alojamento e alimentação (hotelaria) e dos químicos.
As atividades, realizadas entre outubro de 2012 e agosto de 2013, tiveram o objetivo de investigar a rotatividade a partir da ótica setorial. Foram c como o problema se manifesta entre os trabalhadores e quais as características, diferenças ou semelhanças existentes entre os setores.
Setor bancário
O capítulo 5 do livro aborda especificamente a rotatividade no setor bancário. A taxa de rotatividade global observada entre 2007 e 2012 variou entre 19,9% e 28,4%, o que significa que em apenas cinco anos é possível substituir todo o quadro de funcionários do setor.
Já a taxa de rotatividade descontada, calculada a partir das demissões por iniciativa do empregador, variou entre 3,7% e 5,1%, e apresentou maior índice em 2012, quando os bancos, sobretudo os privados, realizaram fortes cortes de custos.
De acordo com a publicação, quando se analisa a taxa de rotatividade por natureza jurídica do estabelecimento, nota-se que os bancos públicos apresentaram taxa de rotatividade descontada próxima de zero, dada a menor flexibilidade para realizar demissões, principalmente sem justa causa. Por outro lado, nos bancos privados, a taxa de rotatividade descontada foi de 8,9% em 2012.
As ocupações mais atingidas por demissões por iniciativa do empregador, em 2012, foram gerentes de contas, caixas e gerentes administrativos.
Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília