Brasília - Empoderamento, paridade, igualdade e participação foram os temas debatidos por dezenas de mulheres durante o Encontro de Mulheres Trabalhadoras da CUT Brasília, que ocorreu na sexta-feira (6), no auditório da entidade.
Entre elas, representando as bancárias, as diretoras do Sindicato dos Bancários de Brasília: Fabiana Uehara, Helenilda Cândido, Jaqueline Perroud, Louraci Morais, Maria Aparecida Sousa, Maria Mônica Oliveira, Marianna Lopes, Rosane Alaby e Teresa Cristina Pujals, e a diretora da Contraf-CUT Barbara Peixoto. Quatro delas irão participar do 8° Encontro Nacional de Mulheres da CUT, previsto para acontecer entre os dias 27 e 29 de março.
O evento, palco de comemoração do Dia Internacional da Mulher e de homenagens às sindicalistas que lutaram pela classe trabalhadora, contou com a presença do presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto. Para ele, a luta das mulheres é de todos. “Posso dizer com toda tranquilidade que se hoje estou junto com vocês, contribuindo nessa luta sindical, foi porque tive uma mulher que me ensinou e me formou. Tenho a clareza e a convicção que, com as mulheres, iremos construir o futuro do sindicato e do país”, enfatizou.
“Nós mulheres temos condições mais que suficientes para discutir os temas que afetam a sociedade e a classe trabalhadora, como políticas de transferência de renda e de valorização do salário mínimo, redução da jornada de trabalho e democratização dos meios de comunicação”, enfatizou a diretora responsável pela Secretaria da Mulher no Sindicato, Helenilda Cândido.
A diretora falou de questões referentes ao êxodo de trabalhadores do campo para a cidade e da terceirização, como alguns dos principais problemas para a classe trabalhadora, principalmente no que se refere às mulheres. “Para mim, a PL 4330 representa uma volta aos tempos antigos. A escravidão está batendo insistentemente à nossa porta”.
“Temos que fortalecer nossa organização sindical e definir prioridades de ação em defesa das trabalhadoras para os próximos períodos. Devemos nos esforçar para ampliar os direitos das trabalhadoras domésticas, implantar creches públicas de qualidade, pôr fim no fenômeno das terceirizações e democratizar a estrutura sindical”, aposta a secretária de Assuntos Parlamentares do Sindicato, Louraci Morais.
Para a diretora Teresa Cristina Pujals, a conquista da paridade infelizmente ainda não está resolvida. “Temos uma grande batalha pela frente de, no
mínimo, nos igualarmos aos homens não só na quantidade dos espaços ocupados na sociedade, mas com relação à ocupação dos cargos de poder, num efetivo empoderamento feminino”.
Para Rosane Alaby, diretora da Secretaria de Administração do Sindicato, a mulher deve participar de todas as discussᄉes que envolvam o desenvolvimento do país. “É preciso que elas ocupem cada vez mais os espaços sociais e políticos e avancem na conquista dos seus direitos”, acredita.
Estado é condensação de forças
A economista e professora do Cesit Unicamp, Marilane Oliveira Teixeira, disse que a classe trabalhadora precisa se organizar e impor sua agenda, pois o setor privado, com o apoio da mídia, está impondo a sua. “O Estado é uma condensação de forças, numa constante interrelação de disputa e de tensão entre esquerda e direita. No capitalismo, sempre houve essa correlação de forças entre o setor privado e o público. A luta da classe trabalhadora não é uma disputa contra o governo, mas é para questionar as políticas que não têm como objetivo alavancar o desenvolvimento com inclusão social”, explicou ela.
Segundo a economista, a classe trabalhadora e a sociedade em geral têm dois principais desafios para o próximo período: barrar o andamento do PL 4330, que flexibiliza a subcontratação e precariza indiscriminadamente o trabalho, e impedir a aprovação das medidas provisórias 664 e 665, do governo federal, que alteram negativamente direitos trabalhistas históricos e imprescindíveis.
Vítimas da inação A deputada federal Erika Kokay (PT-DF), ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília e da CUT Brasília, fez uma reflexão sobre o momento político pelo qual passa o país. “Estamos vivendo um período de grande instabilidade no Congresso Nacional. Além de a oposição pressionar porque não quer aceitar o resultado eleitoral, estamos sofrendo por não termos feito a reforma política e a democratização dos meios de comunicação. Temos que avançar na perspectiva de conquistar reformas estruturais, mas haverá muita dificuldade, pois o Congresso se transformou num somatório de interesse econômico que sustenta as candidaturas e dominam os mandatos”.
Com relação ao papel das mulheres como atuantes no mercado de trabalho, a deputada disse que essa é uma variável negativa. “Mesmo as mulheres que têm maior renda não têm a função doméstica compartilhada com os homens. Uma pesquisa da Codeplan aponta que 72% dos lares de Brasília são de responsabilidade dos homens. A mulher só assume a responsabilidade pelo lar quando o homem está ausente, independentemente se ele é provedor ou não”, destaca Erika.
Paridade entre gêneros “Como uma luta histórica das mulheres sindicalistas, a paridade entre gêneros é um passo importante para ampliar a participação das mulheres, ajudando a consolidar um sindicalismo mais igual entre homens e mulheres”. Este é o entendimento da professora e ex-diretora do Sinpro-DF Maria Augusta Ribeiro, que falou sobre o tema.
“A paridade é uma política de fortalecimento da participação igualitária das mulheres no mundo sindical. Só assim poderemos atuar em igualdade de condições com os homens”, disse. Nesse sentido, a direção executiva tanto da CUT nacional quanto das CUTs estaduais querem aplicar a paridade de gênero. Para concorrer à eleição as chapas devem ser composta por 50% de homens e 50% de mulheres. As direções verticais (federações e confederações) e atividades de formação, representação e delegação devem obedecer, obrigatoriamente, ao percentual de, no mínimo, 30% de um dos sexos em suas composições.
Para a secretária de Mulheres Trabalhadoras da CUT Brasília, Eliceuda da Silva, é preciso consolidar o aprendizado e continuar trabalhando para garantir outras conquistas. “Temos muito que comemorar e muito a avançar. Assumo a secretaria com a consciência de que precisamos garantir a paridade entre homens e mulheres juntos na construção da nossa sociedade. Aplicar a paridade, portanto, significa mudar a conformação das estruturas de poder e democratizar as práticas políticas e transformar o mundo em que vivemos”, afirma.
Rosane Alves
Do Seeb Brasília