QUEBRA DE DECORO
Bolsonaro diz novamente que só não estupra ex-ministra porque ela 'não merece'
São Paulo – O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse hoje (9), durante sessão plenária na Câmara Federal, que só não violenta sexualmente a deputada e ex-ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merece”. “Fica aí, Maria do Rosário. Fica. Há poucos dias você me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece”, bradou Bolsonaro da tribuna, enquanto Maria do Rosário deixava o plenário.
O parlamentar pediu a palavra após a petista defender a instalação de comissões da verdade em todas as instituições brasileiras e criticar as manifestaçᄉes que pedem o retorno da ditadura. “Mentirosa, deslavada e covarde. Eu ouvi ela falando aqui as asneiras dela”, prosseguiu Bolsonaro, atacando também a presidenta Dilma Rousseff (PT) por sua militância contra a ditadura e dizendo que, no Brasil, o Dia Internacional dos Direitos Humanos “é o dia internacional da vagabundagem”.
Bolsonaro disse isso pela primeira vez à ex-ministra no citado Salão Verde, que fica próximo ao plenário. Os dois discutiram durante entrevista coletiva do deputado, em 2011, sobre redução da maioridade penal, pautada a partir de um caso de estupro ocorrido dias antes. A deputada disse que Bolsonaro “promove” violências com seus discursos, e ele respondeu que ela o acusava de ser estuprador.
Maria do Rosário disse hoje querer “distância” de Bolsonaro e que considera a atitude do parlamentar “típica de um torturador”.
Na sequência, ele afirmou que só não a estuprava porque ela “não merece”. Os dois trocaram empurrões, e Bolsonaro chamou Maria do Rosário de “vagabunda”. Na época, o PT denunciou o deputado ao Conselho de Ética da casa, mas nada aconteceu. A deputada não quis se pronunciar sobre o caso.
O deputado federal Jean Willys (Psol-RJ) utilizou as redes sociais para denunciar a ofensa e afirmou que fará uma representação contra Bolsonaro na Corregedoria e no Conselho de Ética da Câmara.
Willys, no entanto, criticou a atuação dos órgãos, lembrando que essa não é a primeira vez que o deputado é representado por ofensas e discriminação. “Mas o que a Corregedoria e o Conselho de Ética da Câmara fazem contra o fascista? Nada! Corporativistas, esses órgãos derrubam qualquer representação contra o viúvo da ditadura militar. E ele segue impune”, escreveu.
Ofensas desse tipo entre parlamentares correspondem a quebra de decoro parlamentar, que pode ser punida com cassação do mandato do parlamentar.
O vídeo com as declarações de Bolsonaro pode ser acessado no portal da Câmara, no horário 13:45:41. A discussão anterior entre ele e Maria do Rosário pode ser vista no Youtube.
Histórico
Entre várias ofensas diretas contra a comunidade LGBT – sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e outras identidades de gênero – e as defesas que faz da ditadura, Bolsonaro ofendeu também, em 2013, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, chamando-a de “sapatona” e dizendo que ela não tinha “compromisso com a família”. No mesmo dia, o deputado defendeu que o Plano Nacional de Promoção e Cidadania de Direitos Humanos LGBT, elaborado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, era um “estímulo à pedofilia”.
Já neste ano, em uma reunião com um grupo de evangélicos para discutir o projeto de lei que institui o Estatuto da Família, Bolsonaro voltou a ofender a ministra Eleonora. “Ela me disse ‘não é porque tenho mais de 60 anos que não continuo fazendo sexo’. Mentira! Com aquela cara, nem com viagra na veia”, afirmou.