(Brasília) - Fazer um amplo levantamento sobre os riscos psicossociais relacionados ao trabalho bancário, de maneira a subsidiar a elaboração de políticas de prevenção em saúde e a formulação de propostas para a negociação coletiva com os bancos.
É com esse objetivo que o Sindicato dos Bancários de Brasília lança a partir desta segunda-feira (9) uma ampla pesquisa sobre saúde e condições de trabalho da categoria. O questionário abrange situações que envolvem todo o ambiente laboral, da relação interpessoal com a chefia até motivos pelos quais se deram os afastamentos de trabalhadores e a sua duração, passando pela questão das metas abusivas e do assédio moral.
A pesquisa está disponível no site do Sindicato e em modelo impresso, que será distribuído nos locais de trabalho. Para garantir a segurança e a fidelidade do levantamento, apenas bancários sindicalizados poderão responder ao questionário na versão online, a partir de identificação positiva, evitando que não bancários participem. O Sindicato orienta que os trabalhadores respondam às perguntas via computador pessoal, eliminando a possibilidade de monitoramento por parte do banco. As informações serão mantidas no mais absoluto sigilo.
A pesquisa faz parte do Programa de Prevenção e Política de Saúde do Trabalhador, iniciativa do Sindicato em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde do Trabalhador (Gepsat), sob a coordenação do Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB). “O Programa tem também como meta geral instrumentalizar os dirigentes sindicais para identificar e mapear os indicadores epidemiológicos sobre o adoecimento da categoria. De posse dessas informações, teremos uma visão geral da realidade nos bancos, o que nos ajudará a cobrar das instituições financeiras a implantação de medidas efetivas com vistas à melhoria das condições de trabalho, já que os bancários são uma das categorias que mais adoecem”, explica o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo.
Nᄎmeros assustam
De acordo com levantamento do INSS, 21.144 bancários foram afastados em 2012 por doenças relacionas ao trabalho, sendo a maioria deles (27%) por lesões por esforço repetitivo (LER/Dort), seguido de estresse, depressão, síndrome do pânico e transtornos mentais (25,7%). Em 2013, apenas de janeiro a março, 4.387 bancários já haviam sido afastados por adoecimento, sendo 25,8% por transtornos mentais e 25,4% por LER/Dort.
“Esses riscos estão vinculados à organização prescrita do trabalho e ao estilo de gestão. São duas variáveis que impactam negativamente no sofrimento patogênico, que é outra dimensão dessa pesquisa, com danos físicos, psicológicos e sociais para os trabalhadores. Trata-se de um instrumento, a pesquisa, que permite estabelecer o nexo causal entre o modelo de gestão e os danos que impactam diretamente os trabalhadores”, explica a coordenadora do programa, Ana Magnólia Mendes, professora do Instituto de Psicologia da UnB.
“A partir da análise dos dados da pesquisa teremos condições de alterar a realidade de sofrimento do trabalhador, desvendando a causa e apontando possíveis soluções para os problemas enfrentados pelos trabalhadores após a reestruturação produtiva por que passaram as instituições financeiras na década de 1990”, destaca o secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Wadson Boaventura.
Dados nacionais sobre afastamentos
Em âmbito nacional, o grupo de trabalho que debate as causas do adoecimento da categoria - conquista da Campanha Nacional deste ano - garantiu já na segunda reunião com a Fenaban (federação dos bancos), em 28 de novembro, o acesso à informação sobre dados de afastamentos por motivos de saúde, uma reivindicação que vinha sendo feita insistentemente pelos bancários nos últimos anos. No encontro, os bancos se comprometeram a fornecer dados sobre afastamentos que geraram benefícios previdenciários, tanto de acidentes de trabalho como por problemas de saúde. Os dados são referentes a BB, Caixa, Itaú, Santander, HSBC e Bradesco, que concentram 90% dos bancários do país.
Renato Alves
Do Seeb Brasília