Brasília - Dos mais de 500 mil presos no Brasil, aproximadamente 60% são negros e a cada três assassinatos, em dois as vítimas são da raça negra. Os dados, do Estudo do Mapa da Violência 2014, foram apresentados durante a posse dos membros da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, na sexta-feira (6), na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Nacional, em Brasília, para demonstrar que a discriminação racial e o racismo ainda persistem com força no país.
A comissão empossada tem a função de promover o resgate histórico desse período, buscando a aferição de responsabilidades e a demonstração da importância das ações de afirmação como meio de reparação à população negra.
Presidente nacional da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho frisou que como sempre fez em sua história, a OAB busca promover o estado democrático de direito e a justiça social. “E foi atenta a essa realidade de desigualdade e discriminação que, provocados pela sociedade civil organizada, decidimos instituir a Comissão Nacional da Verdade”, esclareceu.
O presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, que é membro da comissão, considera lamentável que, passados mais de dois séculos da abolição da escravatura no Brasil, ainda não conhecemos os detalhes do que ocorriam naquele tempo, quando os negros eram chamados de ‘coisas’ e eram ‘propriedades’ dos senhores, donos de terras.
Ao enaltecer a iniciativa da OAB, o diretor do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) e presidente da comissão, Humberto Adami, destacou que, desde a abolição da escravidão, não houve momento mais importante que a criação da Comissão Nacional da Verdade. “Não é possível que o combate à discriminação e ao racismo se resuma a cotas, que são um instrumento importantíssimo, mas são pequenas na reparação da dívida histórica em relação à escravidão”, criticou.
Adami Júnior, que também é vice-presidente da Comissão Nacional da Igualdade do Conselho Federal da OAB, ressaltou “que instalar a Comissão da Verdade é passar o Brasil a limpo. É trazer ao conhecimento sobre a história dos africanos escravizados que vieram em condições absolutamente aterrorizantes e construíram parte da nação que foi escondida”.
Governo garante apoio
Presente na posse, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, garantiu total apoio à comissão, “para que realmente haja o resgate da memória, da verdade e da dignidade e que se possa fazer justiça a esta mais da metade da população brasileira, que contribui de forma significativa, tanto econômica quanto culturalmente com o nosso país”.
Diretora do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro Brasileiros (Ipeafro), Elisa Larkin Nascimento é uma das integrantes da comissão. Ela é viúva de Abdias Nascimento, jornalista, ativista e ex-senador da República, que dedicou a vida em defesa da população negra. Ele faleceu em 2011, aos 97 anos.
Para ela, a iniciativa da OAB “representa mostrar para a nação brasileira, a importância da história do racismo, a exploração do negro brasileiro que continua ainda hoje em uma situação que a juventude ecoa a frase de Abdias Nascimento que ele falou, em 1978, do genocídio do negro brasileiro”. Elisa Larkin concluiu: “É uma questão muito séria que precisa e merece a maior atenção das autoridades e da sociedade civil como um todo”.
Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília