Brasília - Foi lançado na sexta-feira (5), em Brasília, o portal Memórias da Ditadura, que reúne informações sobre a história da ditadura civil-militar (1964-1985). Produzido pelo Instituto Vladimir Herzog em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o portal reúne documentários, livros, mapas, depoimentos, biografias e produções artísticas e culturais referentes ao tema.
A nova página na internet contém, ainda, uma área de apoio a professores, com planos de aula e material didático. O objetivo é fornecer subsídio aos educadores, com materiais diversos para serem usados na sala de aula. O portal, disponível no endereço
http://memoriasdaditadura.org.br, apresenta linha do tempo da ditadura, com narrativas dos movimentos de resistência, da censura, das violações de direitos humanos e do cenário internacional.
O secretário de Formação do Sindicato, Antonio Abdan, presente no evento junto com o funcionário do Sindicato Vandeir Rodrigues, ressaltou a importância do portal para a sociedade brasileira. “Mais do resgatar a memória, o portal é uma ferramenta de estudo que deve ser usada para confrontar dados do passado com a história atual, principalmente agora que uma parte da sociedade brasileira quer reeditar os anos de chumbo”, comentou.
“O site será útil como subsidio para a Comissão da Verdade criada pelo nosso Sindicato para resgatar a memória de bancários que também foram vítimas”, lembrou Abdan.
'Estou feliz por ter sobrevivido para contar essa história'
A ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, torturada na ditadura, disse que “a dor era tão grande que preferia ter morrido”. Eleonora se lembrou de pessoas que direta ou indiretamente resistiram ao movimento.
“Hoje, estou feliz por ter sobrevivido para contar essa história. Só nós que vimos sangue ser derramado, vidas serem perdidas, e que tivemos as nossas vidas e nossos corpos manchados pela ditadura sabemos o que foi. Estou aqui como ministra de Estado, mas antes de tudo como mulher, como mãe que era na época e ainda sou, e avó que hoje sou, para dizer o que digo sempre aos meus netos: a vovó foi presa, o vovô foi preso, fomos barbaramente torturados, é por isso que a vovó operou do coração, é por isso que a vovó teve que colocar dois dentes postiços, é por isso que a vovó tem dificuldade na coluna, mas é por isso que a vovó é uma senhorinha jovem que lutará até o fim da vida para que vocês possam contar essa história”, destacou Eleonora.
Em seu discurso, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, disse que o portal dá continuidade ao processo de defesa de direitos humanos. “A ditadura durou 21 anos, mas as suas manifestações ainda estão presentes em inúmeros espaços da sociedade brasileira: no sistema penitenciário, na repressão a grupos organizados, na população jovem e negra e no conservadorismo da sociedade brasileira. A ditadura é um pesadelo que não quero mais vivenciar”, reforçou.
Segundo Luiza Helena de Bairros, ministra de Promoção da Igualdade Racial, o lançamento do portal é oportuno neste momento, quando está em alta a ideia de que o tempo da ditadura foi bom para o Brasil. “Trazer essas memórias dá a sociedade os elementos para poder refletir sobre a época. O portal mostra o quanto os diversos setores da sociedade foram afetados e como deram respostas a essas situações”, analisou.
O diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog, Ivo Herzog, filho do jornalista torturado e assassinado pelo regime militar, disse que, para tratar o assunto de forma mais ampla possível, a criação do portal contou com uma equipe de mais de 20 especialistas trabalhando durante um ano. “A ideia era criar um ambiente de referência sobre a história da ditadura”, explicou.
Para os organizadores do site, a ditadura deve ser encarada como "civil-militar", em vez de apenas "militar". Essa conclusão tem como base informações recentes provenientes de jornalistas e historiadores que descrevem um quadro muito mais complexo de organização do golpe, com uma extensa participação de setores da sociedade civil.
O evento também contou com a participação do ministro José Henrique Paim (Educação), da ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler, além do representante-residente do Programa das Nações Unidas pra o Desenvolvimento (PNUD).
Outros eventos
O lançamento do portal faz parte da "Quinzena pelos Direitos Humanos", promovida pela Secretaria de Direitos Humanos por ocasião do Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro.
No Congresso Nacional, as atividades que lembram o período serão realizadas no dia 11 de dezembro. Das 9 às 12h, na Comissão Direitos Humanos do Senado, haverá uma audiência pública sobre o relatório da Comissão Nacional da Verdade; das 12h às 13h, no hall da Taquigrafia da Câmara dos Deputados, será a vez do ato político AI-5 nunca mais, e das 14h ᅠs 18h, no Plenário 9 do Anexo II da Câmara, acontecerá o Fórum Legislativo Nacional de Direitos Humanos: pelo direito à memória, à verdade e à justiça.
No Sindicato dos Bancários de Brasília, está em cartaz a mostra “A ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985 – A verdade da repressão. A memória da resistência”. A exposição, que reúne documentos, parte do arquivo do Sindicato, referentes aos acontecimentos da época, ficará em cartaz na sede da instituição (EQS 314/315 – Asa Sul) entre os dias 8 e 13 de dezembro.
Rosane Alves
Do Seeb Brasília